Em depoimento, ex-presidente disse que prisão em 1980 estimulou greve.
Ele afirmou que foi tratado com 'dignidade' e manteve atuação sindical.
Em depoimento nesta segunda-feira (8) à Comissão Nacional da Verdade, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os militares fizeram uma "burrice" ao prendê-lo em 1980 quando liderava as negociações entre trabalhadores e empresários por aumentos salariais. Na ocasião, trabalhadores de fábricas automotivas estavam em greve havia 17 dias. Para o ex-presidente, a paralisação caminhava para o fim, mas ganhou força depois da prisão.
"Os militares cometeram a burrice de me prender, porque não tinha mais como continuar a greve. O que aconteceu quando eles me prenderam? Foi uma motivação a mais para a greve continuar, as mulheres fizeram uma passeata muito bonita em São Bernardo do Campo, depois foi aquele primeiro de maio histórico, em que foi o Vinícius de Moraes, e a greve durou mais quase 30 dias", relatou Lula em depoimento de uma hora e meia a Maria Rita Kehl e Paulo Sérgio Pinheiro, membros da Comissão Nacional da Verdade.
As declarações de Lula sobre a luta sindical entre 1970 e 1980, durante a ditadura militar, foram gravadas e divulgadas pela CNV nesta terça-feira (9). O ex-presidente relatou que, nos 31 dias em que ficou preso, foi tratado com "dignidade" e conseguiu liberação para ver a mãe que estava com câncer.
Ele contou ainda que conseguiu com Romeu Tuma, na época diretor-geral do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), uma TV para assistir a uma partida de futebol entre Corinthians e Botafogo.
"A gente foi tratado lá com um certo respeito porque tinha muita gente do lado de fora, não era um preso comum, tinha trabalhador, estudante, intelectuais, igreja, todo mundo", disse.
saiba mais
Monitoramento
O ex-presidente afirmou à comissão que, antes de ser preso, era monitorado pela Volkswagen, empresa onde trabalhava. Documentos da CNV mostram que vários trabalhadores eram espionados por empresas brasileiras e estrangeiras. Um desses documentos contém detalhes de como foi a assembleia dos mutuários de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, realizada em 19 de junho de 1983.
O ex-presidente afirmou à comissão que, antes de ser preso, era monitorado pela Volkswagen, empresa onde trabalhava. Documentos da CNV mostram que vários trabalhadores eram espionados por empresas brasileiras e estrangeiras. Um desses documentos contém detalhes de como foi a assembleia dos mutuários de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, realizada em 19 de junho de 1983.
No relatório constam dados como horário de início e de término, local, quantidade de pessoas presentes, nome completo e função dos oradores e até mesmo o que foi dito na assembleia. Segundo o documento, os mutuários eram contra o aumento de 130% na prestação da casa própria e Lula afirmava que a única maneira dos mutuários acabarem com "essa pouca vergonha do governo" era não pagar mais as prestações do Banco Nacional da Habitação (BNH).
"Eles me vigiavam em cinema. Na assembleia, a gente notava que eles estavam lá. Às vezes, disfarçados no bar do sindicato. Na minha casa, por exemplo, eles paravam a perua na porta e passavam a noite. Às vezes, para encher o saco, a Marisa [Letícia, esposa de Lula] mandava fazer café e mandava levar para eles. Foram uns três ou quatros anos que eles monitoraram e me acompanharam antes da prisão", disse o ex-presidente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário