quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ex-agente da ditadura interrompe lançamento de livro sobre DOI-Codi

18/12/2014 17h23 - Atualizado em 18/12/2014 17h23

‘A Casa da Vovó’, do jornalista Marcelo Godoy, retrata tortura na ditadura.

Carlos Alberto Augusto é citado no relatório final da Comissão da Verdade.

Do G1, em São Paulo
Uma discussão entre o jornalista Marcelo Godoy e o ex-agente da ditadura Carlos Alberto Augusto, o Carlinhos Metralha, marcou o lançamento em São Paulo do livro “A Casa da Vovó”, em que o jornalista retrata sequestros e tortura durante o período militar. O vídeo foi publicado no YouTube.
O delegado aposentado é um dos nomes citados no relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que o apontou entre os 377 responsáveis diretos ou indiretos pela prática de tortura e assassinatos durante a ditadura militar, entre 1964 e 1985.
No livro, o jornalista ouviu agentes da repressão da ditadura militar para contar a história do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) de São Paulo, órgão de repressão subordinado ao Exército.
Na sexta-feira (12), durante o lançamento do livro na Assembleia Legislativa de SP, o delegado pediu a palavra para dizer que figura na lista da comissão.
“Estou à disposição dos senhores e gostaria que o autor do livro, se tiver condições, anotar, poderá publicar na próxima edição. (...) Quero deixar claro aqui algumas inverdades e algumas perguntas típicas de comunistas, ladrões de bancos, o que não agrada a sociedade”, afirmou. Segundo ele, “guerra é guerra, um ganha e outro perde”.
Carlinhos Metralha responde a processo na 9ª Vara Criminal de São Paulo, ao lado do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi no período de 1970 à 1974, e do delegado aposentado Alcides Singillo, ambos da Polícia Civil. Eles são acusados de sequestrar o corretor de valores Edgar de Aquino Duarte em junho de 1971.
Massacre em chácara
G1 tentou contato com o jornalista Marcelo Godoy e o ex-delegado Carlos Alberto Augusto, mas não obteve retorno até a publicação.
Godoy afirmou que o delegado participou do massacre da Chácara São Bento (quando seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária foram mortos em Pernambuco). “O senhor sabe muito bem, na boca do senhor, que o significado de guerra significa apenas uma desculpa para assassinato e tortura.”
O jornalista disse ainda que o discurso de Augusto é conhecido. “O senhor tinha que contar o que o senhor fez. O senhor deveria falar que o senhor pegou o Anselmo e levou até Recife e mataram uma mulher que estava grávida do Anselmo”, disse. “Já terminou?”, rebateu o delegado.
“No Dops trabalhei com muito orgulho porque a Polícia Civil é legalista”, disse Augusto. “Com relação a desaparecidos, eu era para ser o desaparecido. E o [cabo] Anselmo era para ser outro. Nós fomos julgados por um tribunal revolucionário”, afirmou.
Morte de opositor
O deputado Adriano Diogo (PT), que integrava a mesa, questionou o delegado sobre a morte do ex-integrante da Marinha e opositor da ditadura Edgar de Aquino Duarte. “Eu estava preso lá, eu vi”, disse. “Nos autos no qual eu sou réu tem um documento que foi juntado pelo próprio procurador federal no qual na data que ele foi morto eu estava em Cuba”, respondeu. Augusto disse também que não andava com metralhadora dentro da carceragem do Dops. “Em carceragem é proibido entrar arma.”
Sobre a chácara São Bento, o delegado afirmou que havia uma “área de guerrilha” onde ele correu perigo de morte. “Reagiram, morreram”, disse.
Augusto também classificou de “mentira” o relatório da Comissão Nacional da Verdade, dizendo que não foi intimado. “Eu não fui ouvido”, afirmou. “Eu também tenho família”, disse.
“Esta gravata preta que está aqui é para poder simbolizar o luto das famílias que foram mortas pelos terroristas e este capacete quer dizer o seguinte: é a proteção que o Estado para o cidadão. Nunca trabalhei no Exército. Mas respeito muito esses homens de coragem”, finalizou o delegado.

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