País perdeu parte significativa de seu território e teve população dizimada.
No Brasil, guerra contribui para o desenvolvimento do Exército.
Não há consenso sobre os motivos que levaram Solano López a declarar guerra contra o Império do Brasil há 150 anos, em 13 de dezembro de 1864. O confronto terminou somente com a morte do líder paraguaio, em março de 1870, quando foi ferido por um golpe de lança e atingido com um tiro de fuzil. No entanto, em relação às consequências da guerra, estudiosos ouvidos pelo G1 concordam que foram catastróficas, especialmente para o Paraguai.
Além de ser saqueado, ter a população dizimada e toda a infraestrutura destruída, o Paraguai ainda teve de pagar uma dívida de guerra ao Brasil até 1943, quando foi perdoada no governo de Getúlio Vargas.
O historiador Ricardo Salles, professor na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), explica que o país permanece até hoje à margem do desenvolvimento. “Foi uma guerra que acabou com o país demograficamente e também provocou perdas territoriais significativas. Com certeza, o Paraguai enfrenta as consequências da guerra até hoje, que foram agravadas pelo conflito no Chaco [contra a Bolívia].”
Porém, Salles acredita que os governos paraguaios que se seguiram ao confronto não colaboraram para que o país recuperasse o desenvolvimento. “A guerra não justifica a situação que o Paraguai enfrenta até hoje. A história anda, e o Paraguai, depois da guerra, teve uma série de governos que poderiam ter sido melhores do que foram e ter dado um novo rumo ao país nestes 150 anos, se tivessem outras escolhas.”
A guerra também é muito mais conhecida no Paraguai do que no Brasil, como explica o historiador Marcelo Santos Rodrigues, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor na Universidade Federal do Tocantins (UFT). “Na tentativa de renascer de uma derrota, você acaba revisitando a história. Reviver a guerra, não do ponto de vista da derrota, mas na contramão do imperialismo argentino e brasileiro.”
População dizimada
Para Rodrigues, um dos principais problemas enfrentados pelo Paraguai foi o grande número de mortos. “Como em qualquer guerra, o maior impacto foram as mortes, além dos crimes de guerra cometidos durante os mais de cinco anos em que o Brasil conduziu o conflito. Há um impacto muito mais humano. A população masculina foi quase toda massacrada. Do ponto de vista humano, foi um genocídio.”
Para Rodrigues, um dos principais problemas enfrentados pelo Paraguai foi o grande número de mortos. “Como em qualquer guerra, o maior impacto foram as mortes, além dos crimes de guerra cometidos durante os mais de cinco anos em que o Brasil conduziu o conflito. Há um impacto muito mais humano. A população masculina foi quase toda massacrada. Do ponto de vista humano, foi um genocídio.”
Não há estatísticas precisas sobre o total de habitantes do Paraguai na época, mas diferentes autores afirmam que a população total variava de 400 mil a 1,2 milhão de pessoas. O número de mortos muda conforme a estimativa sobre o total de habitantes. No livro “Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai”, Julio José Chiavenatto aponta que o Paraguai tinha aproximadamente 800 mil habitantes no início da guerra e, após o confronto, restariam pouco mais de 2 mil homens acima de 20 anos. O restante da população seria formado por aproximadamente 9 mil meninos até 10 anos e cerca de 180 mil mulheres.
Já o historiador Francisco Doratioto, professor da Universidade de Brasília (UnB), calcula em seu livro “Maldita Guerra” que o total de habitantes do Paraguai variava de 285 mil a 450 mil pessoas, e as perdas ficaram entre 28 mil e 278 mil pessoas. Em relação às baixas da Tríplice Aliança, ainda segundo Doratioto, de 139 mil soldados brasileiros enviados para a guerra, cerca de 50 mil morreram. A tropas argentinas perderam 18 mil homens dos pouco menos de 30 mil enviados à frente de batalha, e as mortes uruguaias ficaram em torno de 5 mil soldados dos cerca de 5,5 mil enviados para a guerra.
Abolição e República
Rodrigues avalia que houve um crescimento grande do Brasil em relação às questões sociais. “Do ponto de vista histórico, a guerra uniu todo o país em torno de uma mobilização nacional. Antes, tínhamos o país mais fragmentado, com diversas províncias. Houve, de certa forma, uma modernização do Brasil do ponto de vista logístico de equipamentos de guerra, armamentos, navios”, explica.
Rodrigues avalia que houve um crescimento grande do Brasil em relação às questões sociais. “Do ponto de vista histórico, a guerra uniu todo o país em torno de uma mobilização nacional. Antes, tínhamos o país mais fragmentado, com diversas províncias. Houve, de certa forma, uma modernização do Brasil do ponto de vista logístico de equipamentos de guerra, armamentos, navios”, explica.
O desenvolvimento do Exército brasileiro também é uma consequência citada por Chiavenato, pois até então “ele não existia como força militar, era apenas uma peça decorativa, não tinha condições de atuar em conflito daquele porte”. O autor também relembra que a guerra acabou por consolidar a “formação nacional dos países” envolvidos, com a garantia da independência do Paraguai e a delimitação das fronteiras.
Muitos dos homens que participaram das batalhas também contribuíram para a proclamação da República, 18 anos depois. Segundo Rodrigues, apesar da polêmica que existe em relação à participação de escravos no Exército brasileiro, essa presença colaborou para que fossem aceleradas as discussões que resultaram na abolição. “Embora o negro tenha sido libertado para se tornar soldado e para lutar, não seja mais um escravo, ele é colocado ao lado de um branco para lutar contra um inimigo comum. É evidente que essas pessoas, quando retornam, não vão querer a escravidão como instituição. Acelerou um processo de mudanças sociais, políticas e econômicas que pareciam estagnadas no Brasil.”
Endividamento
No Brasil, diz Chiavenato, “a guerra afetou a sociedade inteira”, servindo como um “trauma” também devido ao débito causado pelos empréstimos obtidos junto à Inglaterra. “Sem estes empréstimos o Brasil não conseguiria se manter. Muito do dinheiro foi desviado, e o Brasil nunca mais pagou a dívida externa, que só foi crescendo. A Inglaterra foi fundamental para o financiamento da guerra.”
No Brasil, diz Chiavenato, “a guerra afetou a sociedade inteira”, servindo como um “trauma” também devido ao débito causado pelos empréstimos obtidos junto à Inglaterra. “Sem estes empréstimos o Brasil não conseguiria se manter. Muito do dinheiro foi desviado, e o Brasil nunca mais pagou a dívida externa, que só foi crescendo. A Inglaterra foi fundamental para o financiamento da guerra.”
Para o historiador, uma das consequências da guerra é a situação de dependência que o Paraguai possui até hoje em relação ao Brasil e à Argentina. “O Paraguai nunca conseguiu se recuperar. Não é uma dependência militar, mas comercial. Tudo o que o Paraguai exporta é para o Brasil. Se o Brasil fechar as portar, o Paraguai acaba”.
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