quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Clima tenso marca audiência pública que discutiu prisão de entrevistado na Rádio Itatiaia

 por Editoria de web/ ALMG em Jornalismo / Atualizado 

Jornalistas Eduardo Costa e João Vitor Xavier participaram da audiência (Foto: Alair Vieira)
A prisão de Armando Pereira da Cruz enquanto era entrevistado ao vivo nos estúdios da Rádio Itatiaia, na última terça-feira, foi tema de audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais nessa terça-feira. O clima foi bastante tenso. Enquanto policiais defendiam a legalidade da atuação dos dois colegas, representantes de sindicatos de profissionais da imprensa apontaram falta de bom senso e agressão à liberdade de expressão.

Armando Cruz foi preso pela Polícia Civil dentro dos estúdios da Itatiaia enquanto dava uma entrevista para o programa Chamada Geral, apresentado por Eduardo Costa. Ele é investigado na operação Lavagem III da Polícia Civil, que investiga esquema de fraude, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e corrupção que atuaria em Santa Luzia, Vespasiano e Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e também na Capital e em Sete Lagoas (Região Central do Estado). Ele também é acusado de coação de testemunhas.

O jornalista Eduardo Costa apresentou um vídeo com imagens do episódio e fez um breve relato do que aconteceu. Segundo ele, os dois policiais responsáveis pela ação entraram na rádio e procuraram por ele no estúdio, em que apresentava o programa ao vivo. Comunicado de que os policiais queriam prender o acusado naquele momento, Eduardo Costa relatou ter pedido paciência, enquanto entrava em contato com diretores da rádio e o ouvidor de Polícia Paulo Vaz Alkimim.

Apesar de o próprio ouvidor ter solicitado que os policiais aguardassem fora da rádio para efetuar a prisão, eles seguiram adiante com a operação e conduziram Armando Cruz à delegacia. O jornalista alega que não foi apresentado nenhum mandado de prisão e questionou se eles não estariam cumprindo ordens de alguém que queria “pegar” o acusado. Eduardo Costa considerou o debate positivo.

“Foi um encontro muito bom, porque a partir do limão a gente fez uma limonada. Os dois lados falaram, ouviram, houve o entendimento de que a legalidade foi preservada do ponto de vista da polícia. Mas houve o entendimento também de que nós discordamos da forma como ela foi cumprida. Ficou patente por nós o desagrado em relação ao boletim de ocorrência, que tem o fato de eu ter agredido os policiais com palavras, o que não é verdade. Os policiais manifestaram a preocupação com a punição dos dois agentes, que estavam apenas cumprindo ordem, o que eu concordo com eles. E é assim... são nesses encontros e desencontros que a democracia cresce e que fica claro que a imprensa e a polícia estão do mesmo lado”, disse Eduardo Costa.


O deputado Durval Ângelo (PT) fez questão de esclarecer que a discussão não coloca em xeque o comportamento de toda a corporação policial. Ele inclusive elogiou a polícia de Pedro Leopoldo (RMBH) pela prisão da quadrilha envolvida nos crimes investigados pela operação Lavagem III.

No entanto, questionou a razoabilidade da ação policial, uma vez que o acusado se encontrava em uma emissora de rádio, sem risco de fuga. Ele evocou também a liberdade de imprensa para criticar a prisão do suspeito e ponderou que o episódio passa uma ideia de truculência, ruim para a imagem da polícia.

O deputado João Vítor Xavier (PSDB), também radialista da Itatiaia, defendeu o colega Eduardo Costa e criticou a prisão realizada na emissora. “É inadmissível que um profissional da comunicação tenha seu trabalho impedido”, protestou. Ele ainda defendeu o direito constitucional de liberdade de expressão para atacar a ação policial e argumentar que esse mesmo direito permitiu que servidores da segurança pública fizessem suas reivindicações nos microfones da rádio.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Kerison Lopes, descreveu a tensão vivida pelos jornalistas da Rádio Itatiaia no momento da prisão. Ele disse que o presidente da emissora, Emanuel Carneiro, destacou que não passou por episódio semelhante nem na ditadura militar.

Cumprimento de ordem judicial


Contrapondo as críticas feitas na reunião, vários representantes da Polícia Civil fizeram questão de elogiar os dois policiais que efetuaram a prisão de Armando Cruz. O mais enfático foi o presidente da Comissão de Prerrogativas do Sindicato dos Delegados de Polícia (Sindepominas), delegado Paulo Felipe Saback. Ele ratificou que já havia sido expedido mandado judicial para a prisão de Armando Cruz e menosprezou a importância do documento, que segundo ele é dispensável em caso de crime inafiançável.

O delegado, fazendo referência aos termos “razoabilidade” e “bom senso” utilizados pelos críticos à atuação da polícia, ressaltou que a doutrina policial estipula celeridade na prisão em situações similares e que isso demonstra que os policiais foram prudentes. “Não houve arbitrariedade e ilegalidade. Além disso, ninguém sabia se o procurado estava armado ou poderia fazer o próprio jornalista de refém”, ponderou.

Os deputados Sargento Rodrigues (PDT) e Cabo Júlio (PMDB) também se uniram à defesa dos policiais. P

Corregedoria investiga o caso

Subcorregedor da Polícia Civil, Antônio Gama Júnior, informou que no mesmo dia da prisão ele foi à rádio e entrevistou funcionários. Com base nessas informações, preparou um relatório preliminar e sugeriu apuração administrativa e penal. Agora, o procedimento está a cargo de outro membro da corregedoria. Assim, o subcorregedor não soube informar o resultado da investigação, que será encaminhado para o Ministério Público.

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