sábado, 11 de outubro de 2014

No altiplano Boliviano, eleitores irão às urnas sob ameaça do 'chicotaço'

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/10/1530238-no-altiplano-boliviano-eleitores-irao-as-urnas-sob-ameaca-do-chicotaco.shtml

10/10/2014  02h00
Os habitantes das comunidades do altiplano boliviano votarão no domingo (12) sob ameaça de sanções físicas.
"O chicotaço será em nível nacional, não só no norte de Potosí. Votaremos em linha [num só partido] por sermos leais, e não traidores", disse à agência Ansa o deputado Luis Gallego, do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do presidente Evo Morales.
Gallego foi notificado pelo Ministério Público por tentativa de coação aos eleitores. Morales é o favorito para vencer a eleição, com 57% das intenções de voto.
Em sua defesa, o deputado disse que a decisão de impor castigos físicos não é sua, mas das "organizações sociais que agem de acordo com seus usos e costumes".
A Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponesas da Bolívia reforçou que controlará o voto nas comunidades, mas de forma "orgânica" –evitando sanções físicas aos moradores.
"Os que vivem na área rural sabem que é proibido votar cruzado. Na democracia comunitária, temos de respeitar a decisão da maioria", disse o líder da organização governista, Damián Condori.
Na Bolívia, o voto secreto pode ser dado de duas formas.
No "linear", o eleitor escolhe numa parte da cédula presidente, senadores e deputados de um mesmo partido.
No "cruzado", usa as duas partes da cédula e escolhe parlamentares de partidos diferentes do presidente.
"Em alguns locais, decide-se o voto em assembleia. Apesar de secreto, é possível saber o voto foi cruzado ou não", disse à Folha o analista político Pablo Stefanoni.
O Tribunal Supremo Eleitoral disse que as tentativas de coação serão investigadas.
O uso de chicotes e castigos físicos está reconhecido pela Constituição de 2009 para sanção de casos menores (furtos e pequenos roubos).
A Carta regulamentou a justiça comunitária, colocando-a sob controle da Justiça.
Trata-se, porém, de um dos setores mais débeis do governo, com Morales tendo sido criticado por estabelecer a escolha de magistrados por voto direto e pela lentidão na resolução de casos.
Na periferia de grandes cidades, foram registrados linchamentos, nos quais teria sido usada a justiça comunitária.

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