segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Mais brasileiros se preparam para combate na ‘Nova Rússia’

Conflito

Entre os candidatos, há menores que esperam apenas completar 18 anos

PUBLICADO EM 12/10/14 - 03h00
Pelo menos 15 brasileiros estão em fase de preparação para se juntar aos militantes pró-Rússia na região da Nova Rússia – formada pelas autoproclamadas “repúblicas populares independentes” de Donetsk e Lugansk, localizadas no Leste da Ucrânia. A afirmação foi feita com exclusividade a O TEMPO pelo advogado e tradutor Raphael Machado, membro da Frente Brasileira de Solidariedade com a Ucrânia. “Por enquanto há por volta de 15 jovens se preparando para fazer esse voluntariado para ajudar a população civil da Nova Rússia, mas mais de 50 pessoas já nos contataram em busca de informações”, afirma o ativista, que completa: “uns quatro ou cinco pretendem chegar lá até o fim do ano. Esse número pode acabar sendo bem maior, porém”.

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Conforme dados da Frente, a maioria dos interessados parece pertencer à classe média-baixa e muitos serviram às Forças Armadas ou possuem algum background similar. Os candidatos a voluntário moram em diversas regiões do Brasil, mas concentram-se fundamentalmente em estados do Sudeste, Nordeste e Sul, e possuem uma faixa etária variada – há desde jovens aguardando completar 18 anos para viajar até homens com mais de 30 anos.

Aumento. A procura por informações, segundo Machado, cresceu muito após a divulgação da notícia de que o paulista Rafael Marques Lusvarghi, 30, chegou à Nova Rússia, onde participa de atividades junto à Brigada Continental. “Sem dúvida a exposição do Rafael Lusvarghi alavancou bastante a procura por meios de ajudar o povo da região. Penso ser algo bastante importante esse papel que ele assumiu”, avalia o advogado. Procurado pela reportagem, o ex-professor de inglês se disse feliz com o fato de mais pessoas do Brasil estarem interessadas nessa causa. “Fico contente que esteja havendo interesse do povo brasileiro em participar da libertação de um povo oprimido. Isso é um sinal de mudanças drásticas na mentalidade do nosso país. Quem sabe o que um futuro próximo não aguarda?”, revelou Lusvarghi.

O militante que hoje está na região de Lugansk ficou conhecido durante as manifestações na Copa do Mundo, no Brasil. Acusado de ser um dos líderes do movimento black bloc e de atos violentos durante o Mundial, ele chegou a ficar 45 dias preso em São Paulo. Libertado em agosto deste ano após a Justiça de São Paulo absolvê-lo das acusações de liderar protestos com depredações portando explosivos, o ativista decidiu viajar para o leste ucraniano, onde treina militantes voluntários e recebe treinamento para lidar com o armamento recuperado do Exército ucraniano.

Frente. Formada por quatro integrantes fixos e mais de 20 colaboradores, entre brasileiros e estrangeiros, a Frente Brasileira de Solidariedade com a Ucrânia é um projeto virtual criado no início deste ano. Conforme Raphael Machado, o principal objetivo do grupo é “a difusão de informação contra-hegemônica sobre a crise ucraniana, que se transformou em uma guerra civil”.
No perfil da Frente em uma rede social, um post informa que aqueles que querem se tornar voluntários precisam estar cientes de que todos os custos referentes ao deslocamento entre o Brasil e a Nova Rússia são de inteira responsabilidade do candidato. O texto esclarece também que já não é mais necessário que o voluntário aprenda o idioma russo, uma vez que os brasileiros serão levados até onde está Lusvarghi.

Pioneiro. Em recente entrevista a O TEMPO, Rafael Lusvarghi, que chegou a Nova Rússia em 20 de setembro, contou o motivo que o levou ao lugar. “Eu decidi responder ao chamado internacional que foi feito por eles (União Continental). Esse grupo decidiu defender a população da região de Donbass que pegou em armas legitimamente contra a agressão da junta de Kiev. Os separatistas são, na verdade, os de Kiev, pois quiseram forçar a população a abandonar suas tradições e conexões com a Rússia”, revelou.
Número de mortes já passa de 3.500, e combates continuam

Ao menos 3.660 pessoas foram mortas e 8.756 ficaram feridas na crise no leste da Ucrânia entre abril e o dia 6 de outubro. As informações são do gabinete de Direitos Humanos da ONU.

Das mortes, 331 foram registradas após o cessar-fogo assinado entre o governo da Ucrânia e os separatistas em 5 de setembro. Os disparos de artilharia, de tanques e de armas de pequeno calibre continuaram depois do cessar-fogo, informação confirmada por Rafael Lusvarghi. “O que posso dizer é que na região de Donetsk os confrontos são violentos e constantes. Aqui (na região de Lugansk, onde ele está) por alguns dias a artilharia ucraniana não tem feito disparos, mas na cidade de Pervamaia tem havido disparos”, diz o ativista brasileiro.

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