segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Dilma e Aécio sobem o nível e debatem propostas de governo

20/10/2014 07:35 - Atualizado em 20/10/2014 07:35

Bruno Porto - Hoje em Dia



AFP
Dilma e Aécio durante debate na TV Record
Penúltimo debate entre os presidenciáveis Dilma e Aécio
Ainda que temperadas com o tema da corrupção, as propostas e a discussão dos problemas do país apareceram como o prato principal no debate entre os candidatos a presidente do Brasil realizado ontem pela Rede Record. Segurança pública, direitos trabalhistas, saúde e inflação foram temas abordados com mais intensidade que denúncias, como o caso de corrupção na Petrobras na gestão do PT ou o desvio de verbas da saúde no governo do PSDB em Minas Gerais.
Quando a segurança pública foi abordada, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves criticou o que considerou investimentos insuficientes no setor (0,4% do PIB), e disse que 24 homicídios são cometidos contra jovens por dia no país. “É muito pouco investimento para a grandiosidade do programa”, afirmou. A presidente Dilma Rousseff argumentou que a segurança pública, pela Constituição, é atribuição dos governos estaduais, mas que o governo federal apoia. “Investimos R$ 4,4 bilhões por ano, e na época do FHC era R$ 1,2 bilhão”.
As propostas para a saúde revelaram divergências em como pensam os candidatos. “Criamos uma série de programas, como o Mais Médicos, que vocês votaram contra. E vamos criar o Mais Especialidades”, disse Dilma, lembrando o programa que importa médicos de outros países para cobrir o déficit desses profissionais no país. Aécio disse que vai priorizar o profissional brasileiro. “Não quero apenas Mais Médicos, queremos mais saúde”.
Quando a economia ganhou o centro do debate, a inflação, hoje perto do limite da meta, de 6,5% ao ano, foi o tema mais discutido. “A inflação está controlada e isso é inequívoco. Existem oscilações, mas ficará na meta. Não vamos combater a inflação com desemprego e juros altos”, sustentou a candidata petista.
O tucano rebateu, e comparou o Brasil com países vizinhos, que segundo ele, têm conseguido crescer e ter taxas de inflação baixas. “Vamos ao Chile, a inflação é de 4,4% e o crescimento de 2%. A senhora diz que reduzir a inflação vai gerar desemprego, mas por que isso não acontece com nossos vizinhos?
As pessoas estão apavoradas, fazendo de novo a compra do mês, que existia 15 anos atrás”, disse.
Na tréplica, Dilma afirmou que o Chile é do tamanho do Rio Grande do Sul, e que prefere comprar o Brasil com potências, com a Alemanha.
Sobre leis do trabalho, a petista questionou o tucano sobre uma eventual flexibilização da legislação em caso de um governo do PSDB. Aécio negou, e assegurou que levará ao Planalto um modelo que, de acordo com ele, deu certo em Minas Gerais. “Se eleito for, vou garantir o reajuste real do salário mínimo até 2019. Quero rever o fator previdenciário. Precisamos da mesma eficiência de Minas Gerais no Brasil”.
Corrupção na Petrobras leva à cena casos protagonizados por tucanos
As denúncias de corrupção na Petrobras voltaram a ser debatidas ontem. O presidenciável Aécio Neves (PSDB) perguntou à presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT) se o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, deixará suas funções após ser citado por envolvidos no escândalo. O tucano afirmou que faltou governança na gestão da Petrobras e ressaltou que o tesoureiro do PT recebia uma porcentagem de propinas pagas por prestadores de serviço da estatal.
Dilma rebateu a pergunta e indagou se ele confia nas pessoas do PSDB que também foram acusadas pelo delator Paulo Roberto Costa. Dilma citou a delação do caso do cartel do Metrô e dos trens de São Paulo, e que à época, Aécio teria dito que não dá para acreditar em delator. Dilma disse que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, morto nesse ano, teria recebido dinheiro para abafar uma CPI, ao contrário dela, que manda investigar. Disse ainda que nunca transferiu delegados de cidade para evitar investigações.
Aécio sorriu e disse que o Brasil tem “investigações que investigam, e que se não for comprovado nada, as pessoas são inocentes”. O tucano ressaltou que não foi Dilma quem mandou investigar. “Triste de um país onde um presidente manda investigar, isso funcionaria em ditaduras amigas de seu governo”.
Em depoimento à Justiça Federal no Paraná, em 8 de outubro, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que, enquanto dirigiu a empresa, entre 2004 e 2012, participou de um esquema de desvio de recursos de obras da companhia.
Segundo Costa, eram cobrados 3% a mais em cada contrato, repartidos pelos partidos beneficiados - PT, PP e PMDB. O esquema, sustentou Costa, tinha a participação de empreiteiras que integravam um cartel que dividia as obras da estatal. Partidos e empreiteiras rechaçam a acusação. Costa foi preso na operação Lava Jato, em março. Assinou acordo de delação premiada e, desde o início do mês, cumpre prisão domiciliar no Rio enquanto aguarda julgamento.
DESEMPREGO
Dilma afirmou que o Brasil tem uma das menores taxas de desemprego da história - 5%. A presidente disse que seu governo criou 5,6 milhões de empregos, de acordo com dados oficiais. A metodologia atual só começou a ser aplicada em 2001, o que torna impróprias comparações de desemprego com períodos anteriores. 
Análise: Orion Teixeira - colunista político
Enfim, debate sem confronto
O penúltimo debate não foi um confronto pessoal nem aquilo que chamamos de pancadaria, mas um confronto de ideias e de dois modelos divergentes em disputa, como deveria ter sido em todos os outros encontros. Ao contrário dos dois primeiros, por opção dos próprios concorrentes, o debate foi propositivo e de enfrentamentos apenas no campo político.
A preocupação maior entre eles era de evitar a ampliação da rejeição de cada um perante o eleitorado que, por meio dos debates, busca esclarecer e entender melhor cada proposta. Até mesmo nos programas de televisão e nas inserções comerciais, de 30 segundos, os candidatos têm sido advertidos pela Justiça Eleitoral por causa dos excessos.
Depois de um embate propositivo e técnico no primeiro bloco, o tucano Aécio Neves abriu o segundo sobre aquele que foi o tema central desse desafio: as denúncias de má gestão e desvio na Petrobras, um dia depois de a própria candidata Dilma Rousseff (PT) ter admitido que houve corrupção na estatal. Como contraponto, a petista acusou o PSDB, por meio do ex-presidente do partido Sérgio Guerra, falecido neste ano, de ter recebido propina no mesmo esquema e cobrou a investigação de escândalos do passado que não chegaram ao desfecho. Aécio intensificou a crítica à gestão na Petrobras que, segundo ele, por causa da corrupção e da falta de governança, hoje vale menos no mercado.
À exceção do caso Petrobras, a troca de farpas foi menos intensa em outros temas, razão pela qual foi possível discutir, com mais propriedade e referência, o que cada um pretende fazer na educação, saúde e segurança pública.
 

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