quinta-feira, 30 de outubro de 2014

DESAFIOS: Presidente reeleita terá de concluir preparação das Olimpíadas

30/10/2014 06h00 - Atualizado em 30/10/2014 06h00

Além de obras, governo atua na imagem, atração de turistas e investidores. 
Diretor da Copa destaca articulação de órgãos federais e elogia segurança.

Renan Ramalho e Filipe MatosoDo G1, em Brasília
Ao assumir um novo mandato em janeiro de 2015, a presidente Dilma Rousseff terá a tarefa de, em um ano e meio, concluir a preparação do Brasil para sediar as Olimpíadas, que ocorrerão no Rio de Janeiro em agosto de 2016. Consultados pelo G1, observadores externos e autoridades envolvidas na realização dos Jogos descreveram as atribuições da presidente e avaliaram dificuldades e facilidades que terá na empreitada.
O G1 publica até esta quinta (30) uma série de reportagens sobre cinco desafios que o futuro presidente terá de enfrentar durante o mandato. Os outros quatro temas são infraestrutura, indicações de ministros para o STF, salário mínimo e apoio no Congresso.
Para além das obras na cidade, a chefe do Executivo deverá também cuidar de áreas consideradas estratégicas para o sucesso do evento, que vão da segurança à logística, da atração de turistas à projeção de uma imagem favorável do país para investimentos e relações internacionais.
A primeira responsabilidade se refere às obras, divididas em dois tipos: 32 ligadas diretamente aos locais de competição e outras três voltadas aos legados que ficarão para a capital fluminense e para o esporte brasileiro. Na maior parte dos casos, a responsabilidade federal está na liberação de recursos, enquanto a execução fica com a Prefeitura do Rio de Janeiro.
Do total das obras esportivas, envolvendo aquelas sem participação do governo federal, 71% já estavam em andamento em agosto, quando foi atualizada a Matriz de Responsabilidades, documento que define o que cabe a cada ente na execução dos projetos.
ARTE DESAFIO OLIMPÍADAS - Futuro presidente terá como tarefa concluir preparação das Olimpíadas (Foto: Arte/G1)
Na avaliação da Autoridade Pública Olímpica (APO), órgão criado para reunir as três esferas de governo responsáveis pelas obras, o próximo presidente da República encontrará um cenário "animador" ao assumir.
O presidente da APO, general Fernando Azevedo e Silva, diz que, no primeiro semestre de 2014, houve boa evolução no "coração" das Olimpíadas: o Parque Olímpico da Barra da Tijuca, o Complexo Esportivo de Deodoro e a Vila dos Atletas.
Nos dois primeiros locais ocorrerão quase todas as competições, reunindo instalações para 27 modalidades olímpicas e 14 paralímpicas. A Vila, por sua vez, vizinha ao Parque na Barra, hospedará 15 mil atletas em alojamentos. Dos 32 projetos esportivos com financiamento federal, nove deverão ser entregues já em 2015 e outros outros 22 em 2016 e 2017, incluindo manutenção e desmontagem de equipamentos após os jogos. Das outras três obras do legado de políticas públicas, duas ainda não têm prazo definido para entrega.
O chefe da APO minimiza o risco de atrasos, mas diz que não há tempo a perder. "O que estava pendente de importante, está bem encaminhado. Agora, não tenha dúvida que um grande evento esportivo, o maior do planeta, as Olimpíadas, é complexo. Ele não é simples. Aparecem demandas e vão aparecer até a conclusão dos jogos", disse.
"A gente não tem uma gordura em termos de tempo para queimar, não tem. E ainda mais particularmente no Complexo de Deodoro, onde estamos com os prazos mais justos, apertados", completa.
O general diz que, como responsável pelos recursos federais, a presidente da República não precisará ficar cobrando o andamento, pois há órgãos de controle que acompanham a execução. Azevedo e Silva também não vê risco de modificação na liberação dos recursos ou responsabilidades. "Não vejo uma ingerência ou possível mudança em relação à política de A, B ou C. É uma política de Estado", afirmou o general.
Turismo, investimentos e imagem
Professor de Administração na Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio e especialista na gestão de grandes eventos, Marco Antonio Teixeira aponta outras áreas em que a atuação do presidente é fundamental, principalmente na atração de turistas e investimentos, bem como na diplomacia e projeção da imagem do Brasil no exterior.
"As Olimpíadas são um evento que mobilizam o mundo todo. Para cá virão delegações de praticamente todos os países. É um momento em que você vende a imagem do país. Tem a responsabilidade de organizar uma boa recepção, não só para os atletas, mas também para os chefes de Estado. Essas pessoas, ao chegarem aqui, devem se sentir extremamente confortáveis, bem recebidas para que, ao voltar para seus países, levem uma imagem positiva que antes do evento foi vendida pra elas", diz o professor da FGV.
O que estava pendente de importante, está bem encaminhado [...] A gente não tem uma gordura em termo de tempo para queimar"
general Fernando Azevedo e Silva,
presidente da Autoridade Pública Olímpica
"Se as pessoas vêm aqui, gostam e saem falando bem, outras pessoas virão. E isso pode impulsionar negócios em hotelaria, negócios em atividades de lazer, pode impulsionar investimentos no esporte e isso pode criar um ciclo virtuoso. Barcelona, por exemplo, fez isso. Agora, pode ser um fracasso também. Tudo depende de como você trabalha os recursos que tem", avaliou Teixeira.
Ele aponta o papel simbólico do presidente, pelo fato de ser a autoridade máxima do país, que pleiteou a candidatura. "Obviamente, é o representante do país em qualquer organismo internacional. Então, na medida em que o país foi contemplado com a realização da Olimpíada, o presidente da República, para fora e, obviamente, para dentro também, é o condutor de todo esse processo e é quem em primeira instância vai ser cobrado pela boa realização do evento".
Se as pessoas vêm aqui, gostam e saem falando bem, outras pessoas virão. E isso pode impulsionar negócios em hotelaria, negócios em atividades de lazer, pode impulsionar investimentos no esporte e isso pode se criar um ciclo virtuoso"
Marco Antonio Teixeira,
FGV-Rio
Logística e segurança
Ricardo Trade, diretor-executivo do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo e um dos responsáveis pela candidatura do Rio como sede dos Jogos, diz que, como chefe do governo federal, também cabe ao presidente mobilizar diferentes órgãos públicos para facilitar a logística do evento.
"Ter o respaldo do governo federal é de extrema importância. Fronteiras, aeroportos, alfândegas, área médica, forças de segurança, espaço aéreo e movimentação de aviões, são todas coisas federais", diz Trade, que aponta exemplos bem práticos que dependem de uma burocracia eficiente para não atrapalharem o andamento do evento.
"No caso dos Jogos Olimpicos, vamos ter a entrada de cavalos, animais que custam milhões de reais, temos que ter diálogo com o Ministério da Agricultura, para saber de onde virão, as doenças que podem ter. A entrada das armas, para competições de tiro, tem a ver com o Ministério da Defesa", completou Trade.
Ter o respaldo do governo federal é de extrema importância. Fronteiras, aeroportos, alfândegas, área médica, forças de segurança, espaço aéreo e movimentação de aviões, são todas coisas federais"
Ricardo Trade,
CEO da Copa do Mundo
Outro fator "muito importante" para o sucesso do evento, na visão dele, é a articulação de todos os órgãos envolvidos, públicos e privados. Um dos itens fundamentais, na opinião de Trade, está bem preparado pela experiência do Panamericano em 2007 e da Copa do Mundo de 2014: a segurança, centralizada e articulada no Centro de Comando e Controle, já pronto.
"O Brasil deu um show. E não estou falando só do governo federal, mas também do estadual e do municipal. Você tem o Ministério da Justiça por trás, mas todas as forças policiais estão a serviço, cada uma na sua atribuição constitucional. Quem cuida de fronteira é a Polícia Federal, quem cuida do mar é a Marinha, quem cuida do policiamento ostensivo é a PM, a guarda municipal cuida das marcas", explica.

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