sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Cresce temor de demissão no país

Pesquisa mostra que Índice de Medo do Desemprego teve maior pontuação desde novembro de 2009 e já acumula seis altas consecutivas. Setor automotivo já tem plano de desligamento
Antonio Temóteo
Deco Bancillon - Correio Braziliense
Diego Amorim - Correio Braziliense
Publicação: 03/10/2014 06:00 Atualização: 03/10/2014 07:46


Brasília – Cresce o temor dos brasileiros de serem demitidos. De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Medo do Desemprego (IDM) chegou, em setembro, a 77 pontos, maior pontuação desde novembro de 2009, quando a crise financeira internacional assolava o país e o indicador atingiu 77,9 pontos. O índice já acumula seis altas trimestrais consecutivas.
Nos últimos seis meses, o IDM teve alta de 11,6%. Na comparação com setembro do ano passado, o indicador ficou 6,2% maior. Em relação ao resultado de junho, cresceu 1,2%. Mas mesmo com o temor do desemprego crescendo, o brasileiro continua feliz. O Índice de Satisfação com a Vida atingiu 103,8 pontos no mês passado, a maior pontuação desde março de 2013. O indicador ficou 0,7% maior do que em junho e 0,6% acima do resultado de setembro de 2013. Foram dois trimestres consecutivos de crescimento do índice, o que não era verificado desde novembro de 2009. A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em 142 municípios entre 5 e 8 de setembro.
Divisão
O mensageiro Valdir Dias Rocha, de 40 anos, perde o sono com a possibilidade de ficar desempregado. Casado e pai de dois filhos, ele avalia que o Brasil vive um momento econômico ruim. Rocha argumentou que quando as empresas deixam de faturar cortam postos de trabalho para diminuir os prejuízos. “Tenho o nível médio completo e quero cursar pedagogia a partir do próximo ano. Meus dois filhos estudam e desejo que se tornem servidores públicos para conquistar estabilidade”, disse.


Alheia aos resultados da pesquisa, a recepcionista Rosa Maria Oliveira, de 39, não teme perder o emprego. Para ela, não há motivos para o medo, uma vez que o país está em uma situação melhor do que há 15 anos. “Sou casada, tenho dois filhos e vivo bem. A única coisa que me incomoda é a inflação. Quando vou a supermercado fazer compras vejo tudo caro. Mas não acredito que Brasil esteja em uma situação ruim”, comentou.
Montadoras abrem PDV e dão férias
A General Motors anunciou que abriu ontem programa de demissão voluntária (PDV) para os funcionários das fábricas de São Caetano do Sul e São José dos Campos (SP). De acordo com a empresa, a medida tem como objetivo adequar a produção à atual demanda do mercado. A GM não informou qual a meta de funcionários que espera que entrem no PDV, nem o prazo de duração.
A Ford também iniciou uma nova rodada de férias coletivas em sua fábrica de São Bernardo do Campo. Cerca de 3.500 funcionários não irão trabalhar entre hoje e 13 de outubro. No início de setembro, a Ford já havia paralisado a produção durante cinco dias.
Outra montadora que estuda interromper parte de sua produção durante os próximos dois meses é a Mitsubishi, que possui fábrica em Catalão (GO). A empresa confirma que está considerando conceder férias coletivas para os funcionários, mas ainda não possui previsão de quando a parada deve acontecer. Porém, de acordo com o sindicato que representa os metalúrgicos da região, essa paralisação já foi definida e ocorrerá no período entre 14 e 24 de outubro.
A Mercedes-Benz também estuda prorrogar em novembro o prazo da suspensão temporária de contrato de outros 1.200 empregados da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) que também estão em regime de layoff desde maio.
Na semana passada, Volkswagen e Renault anunciaram que irão interromper temporariamente suas linhas de montagem em São José dos Pinhais (PR). Em ambas, o motivo é o ajuste do estoque em relação à demanda do mercado. No caso da montadora francesa, as férias coletivas irão durar dez dias (de 13 a 22 de outubro), abrangendo 2.500 funcionários da linha de montagem de carros e 500 da fábrica de motores. Durante o período, cerca de 10 mil veículos e 12 mil motores deixarão de ser produzidos. (Com agências)
Falência aumenta 17%
Brasília – O baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a piora de setores-chave para a recuperação econômica, como a indústria, levou a uma situação de maior dificuldade para as empresas. Com vendas menores e custos elevados de produção, muitas companhias passaram a amargar perdas que, mais à frente, se mostraram impagáveis. O resultado é que os pedidos de falências não param de subir. Em setembro, a alta foi de 17,6% e, frente igual mês de 2013, houve expansão bem maior, de 32,6%.
Os números foram divulgados ontem pelo banco de dados Boa Vista, que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). No acumulado do ano, até o terceiro trimestre, os pedidos de falência ainda são 0,9% menores quando comparados aos registros de 2013. Mas, a julgar pela intensidade da alta registrada em setembro, tudo indica que essa queda deve se reverter ou até mesmo inverter a tendência, fazendo com que o indicador venha a operar em campo positivo, disse o economista-chefe da Boa Vista, Flávio Calife.
“O normal é que em ano de atividade econômica mais baixa os pedidos de falência aumentem. Até agora eles vinham caindo, mas já começam a voltar à normalidade”, assinalou. Uma pista pode ser as falências já decretadas, que aumentaram 47% em setembro na comparação com o mesmo mês de 2013. Se a avaliação for feita com agosto deste ano, o número é ainda maior: 123,3%.
Calife não tem dúvidas de que o baixo desempenho da economia, que entrou em recessão técnica no primeiro semestre do ano, seja o principal motivo dessa maior dificuldade das empresas. “Nós acreditamos que esses pedidos sejam em decorrência dos efeitos dessa recessão econômica, que estão começando a aparecer mais intensamente agora”, disse. “Ano passado, a economia cresceu 2,5% e todo mundo considerou um resultado baixo. Agora tem gente falando em crescimento nulo em 2014. É um número que faz a gente sentir saudade daquele crescimento já fraco de 2013”, complementou o economista.
Instabilidade no mercado
Brasília – Em mais um dia marcado por muita instabilidade, o mercado financeiro brasileiro mostrou ontem que segue aflito diante do cenário eleitoral. Investidores protagonizam um frenético vaivém no valor das ações e do dólar. Não se espera calmaria até a decisão das urnas, com grande possibilidade de fortes picos no meio do caminho.
O dólar chegou a R$ 2,491, registrando a segunda alta seguida — de 0,29% —, contrariando o movimento de queda observado no exterior. A cotação renovou o recorde desde 2008, no ápice da crise econômica mundial. Na semana, a alta acumulada da moeda norte-americana é de 3,14%. Em setembro, o dólar registrou o maior avanço mensal em três anos.
O mercado já trabalha com um novo patamar no dólar, inicialmente entre R$ 2,45 e R$ 2,50. “Ainda há uma margem de incerteza muito grande e o Banco Central não está mais conseguindo conter a alta da moeda”, comentou o consultor Emílio Otranto Neto, veterano do mercado de capitais.
Apesar da intensa volatilidade nos últimos dias, a autoridade monetária ainda não anunciou medidas adicionais para tentar segurar o dólar, além dos leilões de swap cambial, iniciados em agosto de 2013 como a maior intervenção desse tipo desde a crise de 2008. O avanço da moeda causa preocupação em relação à inflação e ao endividamento das empresas.
A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) viveu ontem o que o mercado chama de “recuperação técnica”, após início de semana tumultuado. O Ibovespa, principal índice da bolsa, registrou alta de 1,25%, aos 53.518 pontos. Desde a segunda-feira, a bolsa acumula queda de 6,46%.
As ações preferenciais da Petrobras tiveram alta de 1,22%. Destaque, ainda, para o avanço de títulos do Itaú (3,33%), do Bradesco (3,09%) e da Vale (2,62%). Na contramão, recuaram as ações do Banco do Brasil (-0,97%) e da Eletrobras (-1,42%).
A agitação dos mercados, observou o presidente da Latin Link, Rui Coutinho, é inerente ao processo político, mas os ânimos estão mais exaltados do que o esperado. Quanto ao câmbio, Coutinho aposta em mais desvalorização do real. “As medidas do BC viraram antibióticos que não fazem mais efeito. O mercado não responde mais”, comparou.

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