29/10/2014 06h26
- Atualizado em
29/10/2014 06h26
Comitê decide nesta quarta-feira (29) a nova taxa básica de juros.
Taxa está neste patamar, o maior em três anos, desde abril deste ano.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta
quarta-feira (29) e deve manter a taxa básica de juros da economia
brasileira novamente inalterada em 11% ao ano, segundo a expectativa da
maior parte dos economistas do mercado financeiro. A decisão será
anunciada após as 18h.
O juro está no patamar de 11% ao ano, o maior em três anos, desde abril
de 2014 – quando foi interrompido o processo de elevação que começou um
ano antes. Se confirmada, será a quarta manutenção seguida da taxa
básica do país, que serve de referência para os juros cobrados pelas
instituições financeiras nos empréstimos para pessoas físicas e
jurídicas.
A aposta do mercado financeiro de que o BC manterá os juros estáveis
tem por base sinalizações da própria autoridade monetária. Na ata da
última reunião do Copom, ocorrida em setembro, o BC informou que seria
plausível afirmar que, levando em conta estratégia de não redução do
instrumento de política monetária (juro), a inflação tenderia a entrar
em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do
horizonte de projeção (2016).
Pelo sistema de metas de inflação vigente na economia brasileira, o BC
tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Para
2014, 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o IPCA, que
serve de referência para o sistema brasileiro, pode oscilar entre 2,5% e
6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Ambiente econômico
A decisão deste mês do Copom acontece em um momento de estagnação da economia. Nos dois primeiros trimestres deste ano, houve retração do Produto Interno Bruto (PIB) - algo que os economistas classificam como "recessão técnica".
A decisão deste mês do Copom acontece em um momento de estagnação da economia. Nos dois primeiros trimestres deste ano, houve retração do Produto Interno Bruto (PIB) - algo que os economistas classificam como "recessão técnica".
Em julho e agosto, dados preliminares do BC indicam que pode estar
havendo recuperação, mas, para os economistas dos bancos, o PIB deve
crescer apenas 0,27% em 2014 - o pior resultado desde 2009 (quando houve
retração de 0,33%).
O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos em território
brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e
serve para medir o crescimento da economia.
Ao mesmo tempo, a inflação segue pressionada. Em doze meses até
setembro, o IPCA somou 6,75% - acima do teto de 6,5% do sistema de metas
brasileiro. Entretanto, o governo considera que a meta foi cumprida ou
não apenas com base no acumulado em 12 meses até dezembro de cada ano.
Analistas avaliam que os chamados preços administrados, como telefonia,
água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros,
continuam pressionando a inflação em 2014 e acreditam que esse cenário
deve permanecer no próximo ano. Além disso, a inflação de serviços,
impulsionada pelos ganhos reais de salários, segue elevada.
Recentemente, outro fator que pressiona a inflação também apareceu no
radar - a alta do dólar. Em setembro, a moeda norte-americana teve o
maior aumento mensal desde 2011 e, no inóicio desta semana, após a
reeleição da presidente Dilma Rousseff, tem operado ao redor de R$ 2,50.
O que dizem os economistas
Para Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, não é o momento de o Banco Central mexer nos juros - em meio a um quadro de transição política para um novo governo, mesmo que a presidente Dilma tenha sido reeleita.
Para Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, não é o momento de o Banco Central mexer nos juros - em meio a um quadro de transição política para um novo governo, mesmo que a presidente Dilma tenha sido reeleita.
"A economia segue com ritmo fraco. Em um contexto de fim de mandato e
de transição, o BC deve manter política inalterada e, a partir de
mudanças anunciadas [na política econômica como um todo], se retomar um
caminho da política monetária [definição dos juros]", declarou ele.
Campos Neto observa que houve "perda de credibilidade" do BC nos
últimos anos, uma vez que a inflação oscilou ao redor de 6% nos últimos
anos e meses, mais próxima do teto do sistema de metas, do que do
objetivo central de 4,5%, e que a instituição teria de promover um
aumento muito grande da taxa neste momento para tentar retomar a
confiança.
"A politica macroeconômica está muito desajustada, especialmente o lado
fiscal [gastos públicos] nos últimos anos. Isso dificulta ainda mais o
lado da política monetária [definição dos juros]. É importante recolocar
a parte macroeconômica em ordem, com uma política mais consistente
fiscal e monetária, e mostrar como lidar com o câmbio, zerando o jogo, e
passar para a sociedade quais são os objetivos", avaliou o economista
da Tendências.
Para Patrícia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, mesmo com um
ambiente desafiador para a inflação, o BC deve manter os juros estáveis
nesta quarta-feira. "O BC está nesse desafio em que a inflação é alta
com a atividade fraca. Além disso, o dólar está para cima, e vem se
valorizando, o que é inflacionário para o país", declarou ela, que
projeta um IPCA de 6,4% para este ano e de, pelo menos, 6% para 2015.
Segundo a economista, outro desafio para o próximo ano são os preços
administrados, com vários itens com reajustes represados, que serão
aplicados em 2015, como ônibus urbanos por exemplo. Para ela, também é
importante definir qual vai ser a futura equipe que vai comandar a
economia.
"É bem difícil a gente saber como vai ser essa nova política econômica.
Se vai ser nova, ou se não vai ser. O mercado parece que reage bem à
possibilidade de um nome mais forte na Fazenda. O nome novo vai dar cara
à politica econômica no ano que vem", declarou ela.
De acordo com Patrícia Pereira, seria importante um governo mais
preocupado com as contas públicas, "fazendo o dever de casa", para que a
economia passe por um ajuste em 2015 e possa ter anos melhores de 2016
em diante. "Com a politica econômica atual, vai ser difícil ver melhora à
frente", concluiu.
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