segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Como recuperar amigos com quem você brigou por causa de política

Confira seis dicas para reconquistar os amigos, aliviar o clima com colegas de trabalho e voltar às boas no namoro depois das discussões eleitorais

BRUNO FERRARI, CAMILA GUIMARÃES, JÚLIA KORTE E MARCOS CORONATO
27/10/2014 14h48
Herbert Weiss, militante político, em foto de internet. Ele brigou com um amigo por política, mas quer fazer fazer as pazes (Foto: Arquivo pessoal)
O curitibano Herbert Weiss, 36 anos, trabalhou por quatro meses na campanha de reeleição do governador do Paraná, o tucano Beto Richa. Sua linha ideológica já era conhecida por sua turma de amigos antes disso, mas seu engajamento virou motivo de críticas. De discussão em discussão, algumas mais ferozes, outras menos, chegou a brigar com um de seus amigos mais antigos. Poucos dias depois do resultado do primeiro turno da eleição presidencial, Weiss reuniu alguns amigos para um jantar em casa. Era para ser uma noite descontraída de sábado, mas surgiu o assunto política. Em minutos, parte do grupo – incluindo Weiss e Maurício, petista, seu amigo há 15 anos – estava aos gritos. A discussão sobre os candidatos logo se transformou em troca de ofensas, primeiro contra os presidenciáveis, depois contra os reunidos à mesa. Alguém ainda tentou apaziguar a situação com uma tirada de redes sociais: “entre Dilma e Aécio, prefiro devolver o país aos índios e pedir desculpas”. Não adiantou. O jantar acabou ali. Nos dias seguintes, Weiss tentou falar com Maurício – diz ter telefonado e enviado mensagens, e ter recebido sempre a mesma resposta: “ele disse que conversaremos só no dia 27”. Weiss quer a reconciliação. “Eu queria preservar as amizades, mas não deu muito certo”, diz. “O que acontece depois de domingo, quando sair o novo presidente? Como ficam o bate-boca e os desentendimentos?”.
Weiss e Maurício não foram os únicos a brigar por causa da discussão política. A campanha presidencial rachou o país inteiro. Em suas propagandas eleitorais, no marketing, nos debates e discursos, candidatos e seus respectivos partidos apelaram para os ataques. A bem da verdade, a campanha não descambou para a baixaria. Os candidatos não chegaram a trocar ataques de ordem pessoal e desvinculados do exercício do poder, como já ocorreu em campanhas anteriores no Brasil. Mesmo assim, o clima pesou nas redes sociais, nas mesas de bar, nos almoços em família e nos ambientes de trabalho. Na urgência de tentar convencer o amigo, vizinho, namorado ou colega, muitos esqueceram de regras básicas da democracia – respeitar o direito do outro à própria opinião e não atribuir essa opinião à ignorância ou má-fé. Se respeitadas essas duas regras, o adversário não vira inimigo e a opinião diferente não vira ofensa. “A disputa política mexe com as emoções, como medo de perder e de se frustrar. É aí que mora o perigo”, afirma Antonio Carlos Pereira, psicólogo e professor da PUC-SP. “A eleição acabou domingo e o país seguiu inteiro nesta segunda-feira. A presidente eleita governará para as duas metades e seria irresponsável apostar em um país dividido”, afirma.
Política se discute, sim. Diferente de futebol e religião, posições políticas deveriam se orientar pela lógica e podem mudar com o tempo, conforme muda o ambiente e conforme surgem informações novas. Mas o melhor é fazer as pazes. A seguir, algumas sugestões de como conseguir a reconciliação.
1. SAIBA ESPERAR
Passada a apuração, mesmo que sua intenção seja colocar uma pedra sobre os desentendimentos e recuperar a amizade, espere. Não telefone, não mande mensagens, não chame para conversar pela internet. Espere alguns dias, para que os ânimos comemorativos dos vitoriosos e a frustração dos derrotados se dissipem um pouco. Enquanto o assunto ainda estiver quente, as chances de uma conversa conciliatória desandar para outra briga são grandes. “Às vezes, o silêncio é a melhor estratégia para resolver a situação”, diz Pereira.
2. CONTENHA A EUFORIA OU A FRUSTRAÇÃO
Se o seu candidato ganhou, fuja da comemoração ostensiva. Não grite o nome do seu candidato, não ofenda o que perdeu, não faça piadas com os eleitores do derrotado (isso vale para todo ambiente, do escritório à internet). Vale um conselho similar se o seu candidato perdeu: demonstrações públicas de raiva, de desejo de confrontação e de suspeição quanto à lisura do resultado tornam mais difícil reatar relacionamentos. Disputa eleitoral não é final de campeonato de futebol.
3. REDES SOCIAIS NÃO SÃO A VIDA
Se a briga aconteceu numa rede social, publicamente, lembre que esse tipo de ambiente virtual baixa inibições e estimula o radicalismo. Muita gente publica comentários com o objetivo de conseguir felicitações e compartilhamento, e não defender um ponto de vista. “Nas redes sociais, muitos usuários querem chamar a atenção. Mesmo quem não é radical fora do computador, às vezes se comporta de forma diferente na frente do teclado”, diz o psicólogo Pedro Del Picchia, mestre em Comunicação com dissertação sobre redes sociais. Se quiser retomar a conversa também por meio da internet, faça isso primeiro de forma privada, por mensagem particular ou e-mail. Seja objetivo: se acha que passou do limite, peça desculpas e afirme que considera o relacionamento pessoal de vocês mais importante que a discordância política. Se sua ofensa foi grave, pública e impossível de apagar, o outro lado tem o direito de só acreditar num pedido de desculpas igualmente público.
4. CUIDADO COM A TURMA QUE PEDE “BRIGA! BRIGA!”
É comum que uma briga online pública atraia palpiteiros. Pode ser gente sem intimidade com quem está brigando, e por isso mesmo mais inconsequente ao disparar comentários impróprios. Eles tornam o ambiente ainda mais belicoso entre os debatedores, sem ter nada a perder com isso. Use sem receio as ferramentas de edição de comentários – exclua ofensas e agressões, mesmo que tenham sido a seu favor e mesmo que tenham sido escritas faz tempo. Isso mostrará ao outro lado que o seu pedido de desculpas é sincero. Se você considerar algum comentário seu também inadequado e puder apagá-lo, faça- o .
5. OBSERVE O MUNDO PELOS OLHOS DO OUTRO
Pedir desculpas sinceras será difícil, se você acha que o outro lado só pensa como pensa por causa de motivos ruins, como ignorância, má-fé, tolerância com a corrupção ou insensibilidade quanto aos problemas sociais. Tente entender as causas, anseios e receios do outro. Ele pode apenas atribuir pesos distintos aos mesmos critérios de escolha que você usa. Ou pode ter uma experiência pessoal diferente da sua, e que seja determinante para o voto. “Continuar a olhar para a situação apenas a partir do seu próprio ponto de vista facilita o tropeço na desastrosa repetição da pressão que não deu certo ou no deslize para a tortura do silêncio”, afirmam os professores americanos de administração Allan Cohen, da Babson College, e David Bradford, da Universidade Stanford, no livro “Influência sem autoridade”.
6. ENFATIZE O QUE VOCÊS TÊM EM COMUM
Política é o território dos acordos, não da exclusão. Entre adversários políticos que aceitam o jogo democrático, sempre há possibilidade de encontrar opiniões e causas comuns (como demonstram as alianças que tanto PT como PSDB fizeram com partidos e políticos bem diferentes de ambos). O guru americano de negociação Robert Cialdini recomenda que uma aproximação comece com a descoberta de semelhanças, de áreas para elogios sinceros e de oportunidades de cooperação. Cialdini pensa nessa tática como forma de influenciar o outro de forma ética. Pense na reaproximação como uma tentativa de influenciar o outro – para que ele desculpe você e a amizade volte a ser como era antes.

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