segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Aécio e o resgate da autoestima da oposição

Qualquer que seja o resultado nas urnas, o candidato do PSDB estimulou milhões de brasileiros a “sair do armário” e enfrentar sem medo o bullying ideológico

JOSÉ FUCS
20/10/2014 17h22 - Atualizado em 20/10/2014 17h37
Aécio Neves (Foto: Gustavo Miranda/ Agencia O Globo)
Depois de 12 anos de hegemonia quase absoluta do PT, durante os quais a oposição pouco fez para desempenhar de forma efetiva o seu papel, a campanha eleitoral de 2014 está revelando os contornos de um novo Brasil. Qualquer que seja o resultado das urnas no dia 26, as eleições deste ano ficarão marcadas por um fenômeno que muitos analistas, como o marqueteiro do PT, João Santana, consideravam improvável: a possibilidade concreta de derrota do PT e o resgate da autoestima da oposição. Não apenas a autoestima dos políticos dos partidos oposicionistas e de seus militantes, mas principalmente a de dezenas de milhões de cidadãos e cidadãs que até pouco tempo atrás evitavam declarar abertamente suas posições, com receio da reação das milícias petistas e das patrulhas ideológicas que proliferaram no país desde que o Lula assumiu o poder, em 2002.
Sem medo de enfrentar as críticas da tropa de choque do PT e de partidos mais radicais de esquerda, como o PSOL e o PSTU, que defendem o marxismo-leninismo, apesar de se beneficiarem da “democracia burguesa” para existir, milhões de brasileiros decidiram “sair do armário”.  Nas ruas das grandes e pequenas cidades do país, é possível observar hoje o renascimento do “orgulho” oposicionista, incensado pela bandalheira instalada pelo PT no governo federal e nas empresas estatais, como a Petrobras e os Correios, que foram aparelhadas para servir de ponta de lança à máquina de arrecadação petista. Não importa a idade, a classe social ou a profissão. Hoje, a ação dos ativistas de esquerda, por meio do bulling ideológico, já não intimida ninguém (ou quase ninguém) no país.
Obviamente, com sua postura altiva na campanha, Aécio Neves, o candidato do PSDB e da oposição no pleito, está dando uma contribuição milionária para levantar o astral de quem não concorda, nem compactua, com tudo-isso-que-tá-aí.  Com suas reações duras às manobras e manipulações de dados e informações pelo PT, Aécio está atraindo  um exército de seguidores, que estavam órfão de líderes verdadeiros, que não fogem da raia na hora em que a disputa aperta. Ao contrário das campanhas de José Serra e Geraldo Alckmin em 2002, 2006 e 2010, Aécio deixou para trás a postura de ouvir calado todos os tipos de acusações. Em vez de apanhar calado e, como Jesus, dar a outra face para o adversário estapeá-lo, Aécio adotou a estratégia do “bateu, levou”. Não por acaso, alguns analistas começam a questionar se ainda faz sentido manter o tucano, conhecido por suas bicadas suaves, como símbolo do PSDB.
Ao assumir com orgulho o passado do PSDB e as realizações de Fernando Henrique em seus dois mandatos como presidente, inclusive a privatização de estatais como a Telebras, a Vale e a Embraer, Aécio também está reforçando os brios dos brasileiros que acreditam que um estado mais eficiente e produtivo, que atenda melhor às necessidades dos cidadãos, não precisa, necessariamente, ser um Estado-empresário, como o que existe hoje. É claro que a auto-estima da oposição vai subir ainda mais se Aécio vencer a eleição, mas, desde já, pode-se dizer, sem medo de errar, que os tempos de subserviência ao governo petista, chegaram ao fim. Se Dilma ganhar, certamente as trincheiras oposicionistas estarão bem montadas para resistir ao assédio do governo. 
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