08/09/2014 13h22
- Atualizado em
08/09/2014 14h33
Tenente que atuou na Guerrilha do Araguaia se recusou a dar depoimento.
Comissão pedirá que Ministério da Defesa apure a ausência do militar.
Verdade, Pedro Dallari, durante entrevista
(Foto: Priscilla Mendes / G1)
Convocado para depor à Comissão Nacional da Verdade, o tenente do
Exército José Conegundes do Nascimento se recusou a comparecer a
audiência, sob alegação de que não colabora “com o inimigo”. O
coordenador do grupo, Pedro Dallari, disse nesta segunda-feira (8) que
pedirá investigação do Ministério da Defesa e classificou a atitude do
militar como uma “afronta”.
O tenente da reserva do Exército José Conegundes do Nascimento, que
atuou na repressão à Guerrilha do Araguaia, foi convocado no último dia
29 a prestar depoimento na sede da Comissão da Verdade, em Brasília.
Ele, porém, devolveu o ofício em 3 de setembro com um recado escrito de
próprio punho: “não vou comparecer. Se virem. Não colaboro com o
inimigo” (veja a reprodução do documento ao final desta reportagem).
Além de Conegundes, o general do Exército José Brandt Teixeira também
se recusou a comparecer alegando que, “segundo orientação do Comando do
Exército, as convocações devem partir daquela autoridade”.
saiba mais
Pedro Dallari disse que vai pedir para que o Ministério da Defesa apure
eventual infração disciplinar por parte dos dois oficiais da Reserva,
mas ponderou que ambos possam estar passando por “desequilíbrio” devido à
idade avançada.
“É uma afronta à comissão, que foi constituída por lei e tem o direito
de colher esses depoimentos. Optamos por informar o ministro da Defesa
para que a pasta apure, até porque estamos diante de uma infração
disciplinar e terá que se verificar se isso não está decorrendo até de
problemas de saúde, tal a gravidade da afronta, já que são pessoas
idosas”, afirmou o coordenador.
A resistência de muitos oficiais a comparecer aos depoimentos, segundo
Dallari, está sendo “estimulada” pela atitude das Forças Armadas em não
reconhecer que houve violações aos direitos humanos em suas dependências
durante a ditadura.
“Há uma resistência por parte desses depoentes em colaborar com a
comissão e nós temos absoluta clareza de que eles, de certa maneira,
estão sendo estimulados pelo fato de que até hoje as Forças Armadas se
recusam a reconhecer que houve tortura e graves violações aos direitos
humanos, na qual tiveram papel protagonista”.
O colegiado tenta durante esta semana convocar novamente oito militares
que já se recursaram a prestar esclarecimentos sobre eventuais
episódios de tortura cometidos por agentes do Estado. Três deles – o
coronel Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido por Major Curió, o
coronel Leo Frederico Cinelli e o sargento Ênio Mandetta – alegaram
problemas de saúde, por isso a comissão está negociando colher os
depoimentos em casa.
Estavam marcadas para esta segunda-feira (8) as oitivas de cinco
testemunhas, mas apenas o general de brigada Ricardo Agnese Fayad
compareceu. Ele, porém, permaneceu em silêncio e não respondeu a nenhum
dos questionamentos feitos pela comissão.
Folhas de alteração
O coordenador da CNV, Pedro Dallari, disse que a comissão conseguiu obter junto aos comandos do Exército, da Aeronáutica e da Marinha as folhas de alteração de 115 militares – documentos que mostram o histórico da vida funcional dos oficiais, desde diárias pagas pela corporação até o registro de viagens.
O coordenador da CNV, Pedro Dallari, disse que a comissão conseguiu obter junto aos comandos do Exército, da Aeronáutica e da Marinha as folhas de alteração de 115 militares – documentos que mostram o histórico da vida funcional dos oficiais, desde diárias pagas pela corporação até o registro de viagens.
O documento vai ajudar a cruzar informações colhidas em depoimentos com
os registros oficiais dos comandos militares. Entre os 115 oficiais,
estão o tenente-coronel Paulo Malhães – que foi encontrado morto após
prestar informações à comissão – e o coronel Wilson Machado – acusado de
participação no atentado do Riocentro, em 1981.
Há um ano a comissão tentava ter acesso às folhas de alteração. “É
muito importante porque registra passo a passo toda a trajetória
funcional de um militar”, explicou Dallari. “Havia sistematicamente uma
resistência ao fornecimento, recorremos então ao ministro da Defesa, que
nos forneceu”.
Documento
com a convocação do tenente da reserva José Conegundes do Nascimento e a
resposta, dele, manuscrita, informando que não compareceria (Foto:
Reprodução / Comissão da Verdade)
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