segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Reeleição nos Estados é dura

Mudança

Manifestações de junho do ano passado podem ser o principal motivo do desejo de mudança

PUBLICADO EM 01/09/14 - 03h00- O Tempo

Brasília. Depois que 79% do eleitorado expressou desejo de mudança em pesquisa Datafolha divulgada na semana passada e após as manifestações que tomaram as ruas em junho de 2013, os chefes dos governos estaduais em 16 das 27 unidades da Federação estão em situação difícil nas eleições deste ano. A crise afeta tanto os que disputam a reeleição quanto os que tentam emplacar o sucessor, como no caso de Minas Gerais, onde o candidato apoiado pelo governo estadual, comandado pelo PSDB, e pelo presidenciável Aécio Neves, Pimenta da Veiga, perde para o postulante petista, Fernando Pimentel.
Dos 17 que buscam um segundo mandato, apenas cinco lideram as pesquisas de intenção de voto. Três estão empatados, e sete, em desvantagem, de acordo com pesquisas Ibope e Datafolha. Não há levantamentos desses institutos na Paraíba e em Tocantins, onde os governadores disputam a reeleição. Em 2010, dos 18 que tentaram a reeleição, 13 foram bem-sucedidos, ou 72%.
Para o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV), esse cenário é reflexo, sobretudo, das manifestações de junho, que já refletiam alterações na avaliação das condições gerais do país. “Em março do ano passado, as pesquisas já mostravam que a opinião sobre a inflação começava a piorar, e essa é a política pública que mais afeta o humor da população. Esse mau humor dispersa em outras instâncias de governo (além da federal)”, afirma.
A análise do cenário eleitoral feita pelo cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB), foi na mesma linha, destacando que há um desejo de mudança tanto no plano estadual quanto no federal, expresso no percentual de intenções de voto na candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva. Na pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira, ela está empatada com a presidente Dilma Rousseff, com 34%. “Muita gente que ia votar em branco ou nulo escolheu Marina para protestar. De uma hora para outra, ela se tornou competitiva. Há uma identificação forte de Marina com mudança, sem fazer juízo de valor”, afirmou Caldas.
Ele ressalta, no entanto, que, nas eleições, a mudança não é necessariamente para melhor. “As pessoas estão um pouco cansadas, há um pessimismo generalizado. As pessoas querem mudança, mesmo que não seja espetacular. E mudança pode ser para melhor ou para pior. No Distrito Federal, por exemplo, o candidato de oposição, (José Roberto) Arruda, lidera. Ele já foi situação e é ficha-suja”, disse.
Pesquisa Ibope divulgada na última terça-feira mostra o ex-governador José Roberto Arruda (PR) com 37% das intenções de voto para o governo do Distrito Federal, e o atual governador, Agnelo Queiroz (PT), com 16%, empatado com Rodrigo Rollemberg (PSB).
A candidatura de Arruda, porém, está sub judice. O procurador geral da República, Rodrigo Janot, pediu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determine o cancelamento imediato da candidatura de Arruda. O TSE confirmou a impugnação da candidatura do ex-governador com base na Lei da Ficha Limpa, mas ainda cabe recurso. Arruda foi condenado em segunda instância pelo Tribunal de Justiça a partir de um dos processos do mensalão do DEM.
Um dos exemplos do aparente desejo de mudança é o Rio Grande do Sul. Lá, a senadora Ana Amélia (PP) está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com 39%. O governador Tarso Genro (PT), que disputa a reeleição, está em segundo lugar, com 30%.
“Há no ar uma onda de mudança. Quem conseguir se consolidar e mostrar o que fez será reeleito. A população não está mais preocupada com o discurso ideológico, quer ver o que você fez”, afirma.
Exceção. Os governadores que tentam eleger seus sucessores enfrentam ainda maior dificuldade. Nos oito Estados onde há pesquisa, os projetos de continuidade passam aperto. Apesar de estarem em desvantagem neste momento, em dois Estados os candidatos apoiados pelos governadores estão em trajetória ascendente. Em Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) cresceu 18 pontos percentuais em um mês, após a morte do candidato do PSB à Presidência da República Eduardo Campos, que era seu padrinho político. Na liderança está Armando Monteiro (PTB).
Já na Bahia, Rui Costa (PT), que tem o apoio do governador Jaques Wagner (PT), cresceu de 9% para 15%, mas ainda está bem atrás do ex-governador Paulo Souto (DEM).

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