Mudança
Manifestações de junho do ano passado podem ser o principal motivo do desejo de mudança
PUBLICADO EM 01/09/14 - 03h00- O Tempo
Brasília.
Depois que 79% do eleitorado expressou desejo de mudança em pesquisa
Datafolha divulgada na semana passada e após as manifestações que
tomaram as ruas em junho de 2013, os chefes dos governos estaduais em 16
das 27 unidades da Federação estão em situação difícil nas eleições
deste ano. A crise afeta tanto os que disputam a reeleição quanto os que
tentam emplacar o sucessor, como no caso de Minas Gerais, onde o
candidato apoiado pelo governo estadual, comandado pelo PSDB, e pelo
presidenciável Aécio Neves, Pimenta da Veiga, perde para o postulante
petista, Fernando Pimentel.
Dos 17 que buscam um segundo mandato, apenas
cinco lideram as pesquisas de intenção de voto. Três estão empatados, e
sete, em desvantagem, de acordo com pesquisas Ibope e Datafolha. Não há
levantamentos desses institutos na Paraíba e em Tocantins, onde os
governadores disputam a reeleição. Em 2010, dos 18 que tentaram a
reeleição, 13 foram bem-sucedidos, ou 72%.
Para o cientista político Claudio Couto, da
Fundação Getulio Vargas (FGV), esse cenário é reflexo, sobretudo, das
manifestações de junho, que já refletiam alterações na avaliação das
condições gerais do país. “Em março do ano passado, as pesquisas já
mostravam que a opinião sobre a inflação começava a piorar, e essa é a
política pública que mais afeta o humor da população. Esse mau humor
dispersa em outras instâncias de governo (além da federal)”, afirma.
A análise do cenário eleitoral feita pelo
cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB),
foi na mesma linha, destacando que há um desejo de mudança tanto no
plano estadual quanto no federal, expresso no percentual de intenções de
voto na candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva. Na
pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira, ela está empatada
com a presidente Dilma Rousseff, com 34%. “Muita gente que ia votar em
branco ou nulo escolheu Marina para protestar. De uma hora para outra,
ela se tornou competitiva. Há uma identificação forte de Marina com
mudança, sem fazer juízo de valor”, afirmou Caldas.
Ele ressalta, no entanto, que, nas eleições,
a mudança não é necessariamente para melhor. “As pessoas estão um pouco
cansadas, há um pessimismo generalizado. As pessoas querem mudança,
mesmo que não seja espetacular. E mudança pode ser para melhor ou para
pior. No Distrito Federal, por exemplo, o candidato de oposição, (José
Roberto) Arruda, lidera. Ele já foi situação e é ficha-suja”, disse.
Pesquisa Ibope divulgada na última
terça-feira mostra o ex-governador José Roberto Arruda (PR) com 37% das
intenções de voto para o governo do Distrito Federal, e o atual
governador, Agnelo Queiroz (PT), com 16%, empatado com Rodrigo
Rollemberg (PSB).
A candidatura de Arruda, porém, está sub
judice. O procurador geral da República, Rodrigo Janot, pediu que o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determine o cancelamento imediato da
candidatura de Arruda. O TSE confirmou a impugnação da candidatura do
ex-governador com base na Lei da Ficha Limpa, mas ainda cabe recurso.
Arruda foi condenado em segunda instância pelo Tribunal de Justiça a
partir de um dos processos do mensalão do DEM.
Um dos exemplos do aparente desejo de
mudança é o Rio Grande do Sul. Lá, a senadora Ana Amélia (PP) está em
primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com 39%. O governador
Tarso Genro (PT), que disputa a reeleição, está em segundo lugar, com
30%.
“Há no ar uma onda de mudança. Quem
conseguir se consolidar e mostrar o que fez será reeleito. A população
não está mais preocupada com o discurso ideológico, quer ver o que você
fez”, afirma.
Exceção. Os governadores
que tentam eleger seus sucessores enfrentam ainda maior dificuldade. Nos
oito Estados onde há pesquisa, os projetos de continuidade passam
aperto. Apesar de estarem em desvantagem neste momento, em dois Estados
os candidatos apoiados pelos governadores estão em trajetória
ascendente. Em Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) cresceu 18 pontos
percentuais em um mês, após a morte do candidato do PSB à Presidência da
República Eduardo Campos, que era seu padrinho político. Na liderança
está Armando Monteiro (PTB).
Já na Bahia, Rui Costa (PT), que tem o apoio
do governador Jaques Wagner (PT), cresceu de 9% para 15%, mas ainda
está bem atrás do ex-governador Paulo Souto (DEM).
Nenhum comentário:
Postar um comentário