segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Os diabos não são bem espíritos, e os demônios somos todos nós


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PUBLICADO EM 22/09/14 - 03h00- O Tempo
Um dos mais graves problemas do cristianismo é a confusão que os teólogos primitivos fizeram com os espíritos, anjos, diabos, demônios, satã, satanás, Espírito Santo, lúcifer etc., cuja existência nós não negamos, mas apenas discordamos das interpretações erradas que lhes foram atribuídas, pois os teólogos fizeram uma confusão dos diabos com eles, misturando-os com questões mitológicas, das quais, inclusive, os autores sagrados receberam influência, colocando-as na própria Bíblia. Veja-se, por exemplo, o capítulo 12 do Apocalipse.

Essa salada teológica enfraquece a crença nas verdades cristãs, e é um prato cheio para os materialistas fazerem suas chacotas contra o espiritualismo, com o objetivo de desacreditá-lo e reforçar suas ideias ateias. Por isso, a exemplo da doutrina espírita, os demais seguidores do Mestre dos mestres deveriam estudar e esclarecer esses assuntos em defesa do cristianismo. Os padres e pastores formados em curso superior de teologia e Bíblia sabem o significado verdadeiro dos termos que estamos abordando, mas agem como se nada soubessem sobre essas questões!

Lúcifer (“eosforo” em grego) passou para o latim como o substantivo “luce” (luz) e o verbo “ferre” (transportar), que, literalmente, significam porta-luz, aurora, estrela da manhã. Não se trata bem de um espírito, mas de uma metáfora da inteligência. Também Paris é chamada de “Cidade Luz”, ou seja, cidade da inteligência, da cultura. Lúcifer é símbolo da inteligência de anjos (espíritos), a qual comandou a rebelião deles contra Deus. Lúcifer simboliza também a nossa inteligência voltada para o mal, contra o amor, contra Deus, isto é, a favor do chamado “pecado”. Mas disso podemos concluir que no céu nem tudo é um mar de rosas, nem tudo é paz, o que reforça a ideia atual entre os teólogos de que o céu não é um lugar geográfico como se pensava antigamente. E, na verdade, essa palavra “céu” na Bíblia é no plural: “céus”, que quer dizer universo, cosmos. E Jesus disse que o reino dos céus está dentro de nós mesmos, isto é, onde estiver o espírito, encarnado ou desencarnado e em qualquer parte do universo, daí céus. Assim é que o Pai Nosso em latim da Vulgata Latina (primeira tradução da Bíblia para o latim, por são Jerônimo, lá pelo ano de 400), diz “Pater noster qui es in coelis” (céus).

E diabo (opositor) e satã ou satanás (adversário), na prática, substituíram a palavra “lúcifer”. São opositores ou adversários de Deus, do bem, do Eu Superior (espírito) que nós somos, opositor e adversário que são o nosso ego ou eu menor, corporal, que se opõe ao espírito. Indevidamente, diabo e satanás passaram a significar também espíritos maus.

Assim também aconteceu com a palavra demônio (“daimon” em grego, plural “dimones”), que, originariamente, na Bíblia e outras obras gregas antigas, significa alma ou espírito humano desencarnado, e não necessariamente um espírito mau. De fato, se demônio é alma, há almas boas também e até santas. Porque Jesus só tirava demônios maus das pessoas, pois, demônios bons não atormentam ninguém, então as pessoas passaram a entender que todo demônio é mau.
Esse erro é um dos mais graves do cristianismo, pois devemos entender as palavras bíblicas de acordo com o significado delas na época em que os textos bíblicos foram escritos!
Autor do texto: José Reis Chaves

Recomendo o livro “Amar Faz Bem”, de Jenna Lucado, Vida Melhor Editora S.A./Thomas Nelson, Brasil, Rio de Janeiro, 2014, www.thomasnelson.com.br.

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