Estudos indicam que os cidadãos que assimilam a ideia, do ponto de vista psicológico, reduzem a tensão associada ao votar em político corrupto
Peter Esaiasson e Jordi Muñoz, da Universidade Pública de Gotemburgo,
realizaram estudo sobre os efeitos do “rouba, mas faz” na Suécia e na Espanha,
comparando a percepção da população sobre a competência dos políticos que agem
assim. Em 2007 tomaram como piloto o município valenciano de Vall d’Alba, no
qual o prefeito Francisco Martínez estava envolvido em escândalo de corrupção
por desviar a finalidade de 13 propriedades imobiliárias.
Após modificar a qualificação de solo agrícola para residencial e
industrial, vendeu algumas propriedade por altas somas. Sob desconfiança de que
tirava proveito pessoal do mandato, atraiu investimentos e captou dinheiro para
o município. Construiu escola, centro médico, capela, uma área industrial,
piscina pública, centro de atenção ao idoso, uma nova delegacia de polícia e
arena de touradas, reelegendo-se com 71% dos votos.
O trabalho de Esaiasson e Muñoz investiga por que os eleitores
frequentemente perdoam políticos corruptos e a resposta dada que diz que tal
ocorre porque eles são eficientes. Na literatura científica esta resposta está
ligada à hipótese “competência-corrupção trade-off" ou “Competência versus
corrupção: um caso de voto em político corrupto em razão de sua competência”,
estudo realizado por Barry S. Rundquist na década de 1970, que nada mais é que
a encarnação do ditado latino-americano roba pero hace e ohe
steals but he delivers, ou seja, rouba, mas faz, tão popular no Brasil.
A pesquisa, de forma surpreendente, assinala a preferência dos cidadãos
por políticos de alto desempenho, ainda que sejam corruptos, tanto na Suécia
quanto na Espanha.
Em 2013, os pesquisadores Marko Klasjna e Joshua Tucker, trabalhando
sobre a mesma hipótese na Suécia e na Moldávia (de alta corrupção), constataram
que os eleitores moldavos estavam dispostos a apoiar políticos corruptos quando
as condições econômicas lhes favorecessem. Em outras palavras os moldavos
aceitam bem o “rouba, mas faz”.
Os estudos apontam para a ideia de que os cidadãos que assimilam a
ideia, do ponto de vista psicológico reduzem a tensão associada ao votar em
político corrupto, desde que ele seja eficiente. Em tais casos, quando
confrontados com o fato de seus candidatos haverem praticado corrupção,
minimizam o fato ao argumento de que ele é competente.
Ainda em 2013 os pesquisadores Matthew S. Winters e Rebecca
Weitz-Shapiro, em estudo feito no Brasil, por eles considerado um contexto de
alta corrupção, não conseguiram corroborar a hipótese, apesar do experimento
cuidadosamente projetado. Encontraram pouca evidência de que os eleitores
brasileiros estão dispostos a aceitar o “rouba, mas faz” quando fornecidas
informações específicas e acessíveis sobre o comportamento corrupto dos
candidatos.
A surpresa maior dos pesquisadores foi notar que, mesmo entre os
brasileiros das classes econômicas mais baixas, a tolerância não encontra mais
o fervor de anos atrás. Será?
Judivan Vieira é procurador federal
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