Via: http://blogesposadepracamg.blogspot.com.br/2014/09/o-ciclo-da-dependencia-pode-ser-quebrado.html
As
pessoas respondem a incentivos. Todos nós sabemos disso, e essa é a
base para a grande maioria das decisões de política econômica. Os
seguidores da escola behaviorista,
por exemplo, defendem que o governo adote políticas que "incentivem" e
"estimulem" as pessoas a se comportarem como o governo gostaria que elas
se comportassem em vez de criar mais leis estatais.
A diferença é ilusória, mas há casos em que realmente há grandes
diferenças. Por exemplo, as pessoas realmente acham preferível o
governo aumentar os impostos sobre o fumo e a bebida — para desestimular
o consumo dessas substâncias — em vez de proibir diretamente o uso
delas.
Os incentivos também se aplicam ao comportamento eleitoral, e os
políticos sabem perfeitamente disso. As pessoas sempre votarão naqueles
candidatos que elas julgam ser os que mais efetivamente irão atender
aos seus interesses. É por isso que os políticos sempre se esforçam
para dizer exatamente aquilo que esse eleitorado quer ouvir e sempre
fazem promessas que uma simples aritmética orçamental comprova não serem
minimamente exequíveis.
No entanto, em todo esse fenômeno há um fator nada trivial: esse
comportamento leva à perpetuação de políticas que tentam alinhar os
interesses do eleitor médio à agenda do partido político que está no
poder.
O exemplo mais engenhoso e explícito disso é a maneira como a esquerda
tenta criar uma dependência em relação aos programas do governo.
Dado que a mentalidade esquerdista exige cada vez mais controle
governamental, então a solução passa a ser clara: criar programas que
façam com que uma maioria se beneficie financeiramente à custa de uma
minoria. Isso levará à criação de um bloco eleitoral que jamais votará a
favor um partido que defenda a redução do estado.
E não se está aqui falando apenas do assistencialismo aos mais pobres.
Há também os vários tipos de assistencialismo aos ricos, um filão que a
esquerda ao redor do mundo descobriu ser extremamente rentável em termos
eleitorais.
Um bom exemplo de assistencialismo para os ricos ocorre quando grupos de
interesse — organizações empresariais e sindicais — fazem lobby junto
ao governo com o intuito de aprovar leis e regulamentações que os
favoreçam, seja na forma de subsídios diretos (tanto para empresários
quanto para sindicatos), seja na forma de maiores tarifas de importação
ou na forma de regulações que favoreçam as empresas estabelecidas e que
dificultem a entrada de novas empresas no mercado.
Esses grupos se aglomeram em torno do governo como moscas ao redor de
uma lata de lixo. Eles assaltam o Tesouro e manipulam o aparato
regulatório governamental em benefício próprio. E os políticos, quase
sem exceção, se mostram excepcionalmente contentes em ser parceiros
dessa gente, pois assim garantem reeleições, mais dinheiro e mais poder.
Os grupos de interesse de maior êxito recebem polpudos e óbvios
benefícios do governo, ao passo que o custo fica escondido e disperso
por toda a economia. Eles dependem fortemente da intervenção
governamental, pois uma ligeira mudança nas regulamentações pode
significar a diferença entre o sucesso e bancarrota total. Acima de
tudo, eles possuem a suprema capacidade de revestir suas depredações em
um manto de preocupação pelo bem-estar geral.
Já o assistencialismo governamental aos mais pobres é mais conhecido por
todos e seu funcionamento é bem mais simples e direto. Mas há efeitos
que são desconhecidos pela maioria. Os gastos assistencialistas só vêm
crescendo desde a década de 1980, e tudo em nome da ajuda aos pobres.
Mas o dinheiro, em grande parte, não vai para os pobres, que ficam com
as migalhas, mas sim para aqueles grupos de interesse poderosos o
suficiente para subornar e fazer lobby a favor da redistribuição. O
dinheiro real vai é para os "pobristas" — os reais defensores da pobreza
—, para os consultores, para as empreiteiras que constroem as moradias
populares, para os funcionários de hospitais públicos, e principalmente
para os próprios membros da burocracia que coordena todo o esquema.
Os pobres são maldosa e intencionalmente transformados em uma subclasse
perpétua, dependente do governo, para que alguns parasitas possam viver
confortavelmente bem à custa de todo o resto da sociedade. Graças ao
estado assistencialista, praticamente não há mais uma genuína mobilidade
social. Os degraus mais baixos da escada foram retirados em nome da
compaixão.
Para a esquerda, no entanto, o projeto de poder sempre foi o mais
essencial. E o raciocínio é bem simples: se ambos os assistencialismos
acima descritos alcançarem 51% da população — ou seja, se 51% da
população (empresários, sindicalistas e os muito pobres) se tornar
financeiramente dependente de programas do governo —, então a esquerda
poderá se perpetuar no poder.
Realmente, se os beneficiados por esse assistencialismo votarem de modo a
recompensar o partido político que criou essas benesses, então tal
raciocínio será totalmente válido.
Há alguma maneira de reverter essa tendência? É possível.
O assistencialismo para os ricos é mais fácil de ser combatido. Uma
simples, porém clara e explícita, exposição sobre seu funcionamento já
seria o suficiente para fazer com que ele gerasse repulsa no eleitor
médio. Basta apenas surgir um grupo organizado e influente o bastante
para difundir essa mensagem. Já o assistencialismo para os pobres é
mais complicado.
Mas ele também pode ser revertido.
O segredo é que, embora a esquerda compreenda muito bem o papel dos
incentivos em suas políticas, ela ainda tem uma visão de mundo um tanto
cientificista: ela se concentra muito nos números, e se esquece dos
custos psíquicos, os quais são bem menos tangíveis, mas que têm um peso
enorme nas decisões individuais.
As pessoas agem por todos os tipos de motivos; elas não são guiadas
apenas pelo dinheiro. As pessoas têm valores e princípios. Para um
libertário de princípios, por exemplo, a necessidade de pegar dinheiro
do governo traria um enorme custo psíquico, muito maior do que o próprio
valor do dinheiro em si. Sim, há poucas pessoas no mundo com esse
mesmo valor ético, mas todas as pessoas têm seu próprio senso de ética
pessoal, cuja violação lhes causaria pelo menos algum tormento. Não
deve ser nada controverso afirmar que o número de pessoas que têm grande
prazer em viver à custa de terceiro é menor do que muitos imaginam. E,
embora as circunstâncias possam forçar as pessoas a receber
assistencialismo do governo, nem todas as que participam disso o fazem
com júbilo. Não levar em conta esses tipos de custo psíquico no cálculo
eleitoral é ignorar uma grande fonte de incentivos extra-monetários.
Também ignoradas na análise da esquerda estão as preferência temporais.
Uma pessoa pode facilmente estar disposta a trocar um benefício de
curto prazo por um benefício de longo prazo, desde que o benefício de
longo prazo seja suficientemente grande para compensar o fato de que ele
vem mais tarde em vez de agora. Para o beneficiado, políticas
assistencialistas garantem um determinado nível básico de renda por toda
a sua vida, mas quase não oferecem oportunidades para que ele aprimore
sua própria situação e possa enriquecer no futuro. Para muitas pessoas,
o desejo de se libertar da dependência estatal pode ser tão poderoso
quanto o incentivo para manter a atual e limitada renda assistencial.
O objetivo de tudo isso foi o de apenas injetar um pouco de otimismo em
uma até então lúgubre situação de crescente dependência estatal. Embora
o aumento no número de dependentes do estado (pobres e ricos) seja
desanimador, e embora isso ajude na perpetuação do partido que está no
poder, essa tendência não necessariamente tem de ser permanente.
Incentivos financeiros importam, mas as ideias ainda são mais poderosas.
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