quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Faltam 11 dias

Vittorio Medioli

PUBLICADO EM 21/09/14 - 03h30- O Tempo
A campanha vem assumindo seu vulto, e as facetas dos candidatos aparecem no fundo depurado da bateia. O tamanho e a preciosidade de cada um se mostram faltando apenas 11 dias para a eleição. Cabe lembrar que raramente num período tão curto são possíveis mudanças palpáveis, pelo menos de tendência. A regra ensina que entre 10 e 15 de setembro se estabelece o quadro num território cheio de vales e diferenças.

A data-limite para os agentes políticos se reposicionarem, pensando no “day after”, costuma se esgotar agora. Ainda pode-se encontrar um resto de água limpa no oásis.

O charme do poder vindouro se abrilhanta, como por milagre, os gestos e as palavras soam melhor no próximo vencedor, a gravidade se volta a esse centro de atração.

Também um mês exaustivo de campanha na televisão e no rádio fez com que esse fator se esgotasse. Na realidade muito pouco mudou. No que falta até as urnas, quem está atrás apela ao tudo ou nada, e quem está na frente parece receber mais a luz dos holofotes.

Margens para mudanças ficam a cada dia mais raras e complicadas.

Marina caiu nos últimos 15 dias, mas se mantém vencedora de um segundo turno.
O imenso contingente de indecisos para governador em Minas, 40% do eleitorado em julho, caiu para 25%, sinalizando a direção do vento dominante para a esquerda.
Quais as dúvidas?

A subida meteórica de Marina poderia ainda sofrer uma queda? Dilma poderia deixar de recolher os frutos das políticas de “transferência de renda” entre os menos afortunados (em todos os sentidos)? Aécio conseguirá penetrar com uma tonalidade diferente nas áreas mais nordestinas e mais dependentes de bolsas?

Marina recuperou os mesmos 20% de votos que a preferiram em 2010 e somou o eleitorado de Eduardo Campos, que, no Nordeste, não tem razões aparentes para caminhar agora em outra direção.

Minas, que sempre foi uma amostragem, uma síntese do Brasil, toma o perfil da pesquisa nacional.
Aécio era o rei, mas levou suas peças melhores, como a irmã, o publicitário Paulo Vasconcellos e o formulador de programas Antonio Anastasia, para São Paulo. Quando os chamou de volta, se apresentava uma tarefa hercúlea para recuperar as posições perdidas pela coordenação anterior. Ninguém duvida da capacidade desse trio nem do carisma de Aécio. Cabe prestar atenção na reação final.

Quem tomou no começo as rédeas da campanha tucana em Minas se equivocou. Foi substituído. Há quem diga que, no lugar de buquê de flores, despachavam ameaças. E como mineiro não briga, apenas não faz as pazes e guarda mágoas no congelador, agora nem dá para entender quem é quem.

As pesquisas regionais apontam que Aécio e Pimenta no Norte de Minas e Jequitinhonha andam com apenas 12% a 13 % do eleitores, um em cada dez. Impossível de se imaginar isso, mas a sequência que levou dois em cada três eleitores do lado do PT nessas regiões deve ter sido terrível. Exatamente essas regiões colaboram para a queda das candidaturas tucanas, que ainda levam a melhor nas regiões centrais do Estado.

O que chama a atenção é que os candidatos tucanos em todo o Brasil estariam colhendo confirmações, tendo Minas como única exceção. Em São Paulo, Rio, Paraná, Distrito Federal, Goiás e até na Bahia os aliados de Aécio estão à frente em quadros onde o PT passa por humilhação.
Muitas questões evidentemente não foram compreendidas, e com poucos dias à disposição para corrigir as falhas.

O general Lao Tsé pode ser a chave para entender que uma vitória depende de um tripé que se sustenta no conhecer profundamente o inimigo, conhecer profundamente o campo de batalha e conhecer os próprios limites. A falta de um desses conhecimentos gera um falso equilíbrio, mas, quando dois dos três elementos carecem, a vitória será impossível de se alcançar.
Ainda, a regra “paz e amor” que fez a diferença para Aécio, assim como o carisma de sua imagem, ficou ausente e abriu uma lacuna terrível. E se a utopia é a alma da política, seu impulso vital, essa falhou. O grupo não se unificou em volta do mesmo objetivo.

Assim, faltando duas semanas para a decisão, o Estado em que o PT nunca foi uma ameaça para os tucanos aparece como o mais provável ganhador, com uma vitória inesperada entre muitas derrotas que nunca se imaginaram.

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