quarta-feira, 24 de setembro de 2014

‘Eles nos fizeram ficar em fila para morrer’

‘Eles nos fizeram ficar em fila para morrer’

Khidir, 17 anos, escapou de chacina fingindo-se de morto após aldeia ser tomada por jihadistas do EI

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Ferido. Khidir levou um tiro mas sobreviveu - FOREIGN POLICY / FOREIGN POLICY


DUHOK, IRAQUE — Era 15 de agosto, um dia de sol e Khidir, 17 anos, deitou-se no chão e fingiu estar morto por um tempo que pareceu uma eternidade. Naquela manhã, rebeldes do Estado Islâmico (EI) invadiram sua aldeia, Kocho, a 25 quilômetros de Sinjar, no Iraque, ordenando que centenas de pessoas fossem para a única escola da região. Lá, tomaram celulares e objetos de valor — anéis de casamento, dinheiro, economias de uma vida. E disseram aos moradores que não se preocupassem, pois os levariam ao Monte Sinjar para se juntar a outros yazidis — que praticam uma religião antiga considerada herética pelo EI.
— Tínhamos ouvido falar que eles poderiam ir até nossa vila, mas não acreditamos — conta Khidir, lembrando que estava no primeiro grupo a sair. — Pensei que talvez não fossem tão maus como tínhamos achado.
Ele e cerca de 20 homens foram amontoados num caminhão, nervosos, mas com a esperança de chegar à montanha, onde milhares de yazidis se refugiavam após fugirem do EI. Uns dez minutos depois, o caminhão parou num campo, onde dois homens esperavam com metralhadoras. Khidir então percebeu que não iam para montanha alguma.
— Eles nos fizeram ficar em fila para morrer. Nunca vou esquecer dos olhos de um dos executores, a única parte de seu rosto que não estava coberta por um pano preto. Ele parecia estar sorrindo. Todos nós tivemos os olhos vendados e fomos forçados a nos ajoelhar. Depois, “bum”.
Sem notícias do pai e de quatro irmãos
Ele ouviu tiros, e um por um, os outros homens caíram no chão. Khidir sentiu uma picada e também caiu. A bala tinha raspado seu pescoço. O jovem fingiu estar morto até que os homens fossem embora. Duas horas depois, levantou-se e encontrou todos os homens mortos, com exceção de um vizinho.
Os dois andaram horas até chegarem à montanha onde os combatentes curdos sírios o ajudaram a cruzar para a Síria. Depois de duas noites, Khidir pegou uma carona para Dohuk, no Curdistão iraquiano, para onde sua irmã e o cunhado fugiram em agosto. Os três agora vivem em Khanke, o mais novo campo de refugiados no interior do Iraque. Ele não sabe o que aconteceu ao pai e aos quatro irmãos, mas acredita que estão mortos. A mãe e as cinco outras irmãs, descobriu, estão em poder do Estado Islâmico.


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