segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Brasileiro vai para a Ucrânia lutar junto com separatistas

ATIVISTA

Rafael Lusvarghi ficou conhecido nos protestos na Copa do Mundo no Brasil e chegou a ser preso


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PUBLICADO EM 28/09/14 - 03h00
A vontade de servir ao país e de ser militar sempre existiu. Mas, ao que parece, o sonho do ativista Rafael Marques Lusvarghi, 30, extrapolou aquilo que o filho mais velho de uma professora de biologia e de um pequeno empresário havia imaginado para si mesmo.

Primeiro brasileiro a integrar a equipe de voluntários da “Brigada Continental”, um braço armado da “União Continental”, o combatente, que já se autodeclarou “de esquerda e stalinista”, está na Ucrânia, na região denominada pelos rebeldes separatistas como Nova Rússia, que surgiu a partir da fusão das cidades de Lugansk e Donetsk, em maio deste ano. Em entrevista exclusiva a O TEMPO, ele contou sobre sua decisão de servir junto aos rebeldes pró-Rússia, falou do dia a dia em território ucraniano e do apoio que recebe da família.

Paulista, de Jundiaí, o ativista ficou conhecido durante as manifestações na Copa do Mundo, no Brasil. Acusado de ser um dos líderes do movimento black bloc e de atos violentos durante o Mundial, Rafael chegou a ficar 45 dias preso em São Paulo. Ele foi solto em agosto deste ano, após a Justiça de São Paulo absolvê-lo das acusações de liderar protestos com depredações portando explosivos.

Para Lusvarghi, o conflito na Ucrânia faz parte de uma guerra global que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e os norte-americanos têm feito no mundo. Esse, segundo ele, teria sido um dos motivos que o levaram ao leste ucraniano. “Eu decidi responder ao chamado internacional que foi feito por eles (União Continental). Esse grupo decidiu defender a população da região de Donbass que pegou em armas legitimamente contra a agressão da junta de Kiev. Os separatistas são, na verdade, os de Kiev, pois quiseram forçar a população a abandonar suas tradições e conexões com a Rússia”, revela Lusvarghi, acrescentando que foi muito bem recebido e que ficará até a “vitória final”.

Dia a dia Vivendo uma rotina de uma unidade militar, que inclui guarda, organização e disciplina, o ativista conta que, por hora, participa de treinamentos. “Tenho a responsabilidade de chefe de grupo, pois fui legionário no 2º Regimento Estrangeiro de Paraquedistas”. Além de participar da formação de voluntários sérvios, russos e franceses, Lusvarghi diz que apesar de já ter treinamento militar, ele está recebendo especialização em armamentos soviéticos, que foram recuperados no estoque do Exército ucraniano.

Tendo como comandante o colombiano Victor Alfonso Lenta, o combatente afirma que a presença de um latino o faz sentir mais a vontade, apesar da boa recepção dos russos. E enfatiza que gostaria de ver mais voluntários latino-americanos junto ao grupo. “Eu gostaria muito que outros latino-americanos viessem para cá, pois é necessário que a América Latina recupere sua veia revolucionária”, elucida Lusvarghi.
Organização
Sérvia.
 A União Continental foi criada em Belgrado, na Sérvia, em janeiro de deste ano. Segundo definição de Rafael Lusvarghi, ela é uma síntese entre o Hezbollah e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). 
Família apoia ‘paixões e ideologia’
O mais velho entre quatro irmãos, Rafael Lusvarghi diz que a família o apoia. “Meu irmão Lucas era a favor que eu ficasse no Brasil, mas respeita minhas paixões e a minha ideologia. Meu irmão Fernando inclusive me deu apoio material para que pudesse vir à Rússia. Tenho também uma irmã de 5 anos que não entende muito, mas, segundo minha mãe, gosta de me ver em uniforme”, revela.

Quanto aos pais, o ativista afirma que eles têm suas preocupações, que são normais, mas espera que eles já estejam acostumados.

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