03/08/2014 06h00
- Atualizado em
03/08/2014 06h00
Aposentado da UnB, ele diz que registros acontecem uma vez por semana.
MG lidera número de casos; João Câmara (RN) registrou maiores prejuízos.
Mapa
do Sistema Nacional de Registros Sísmicos mostra terremotos no Brasil;
cada ponto vermelho indica um tremor (Foto: Sisbra/Reprodução)
Parece estranho para quem acredita que o Brasil está imune a esse tipo
de evento, mas abaixo dos nossos pés, e em uma frequência maior do que a
que estamos acostumados a ouvir, também nasce aquilo que deixa o mundo
todo em polvorosa: terremotos. Ex-chefe do Observatório Sismológico da
Universidade de Brasília, o professor aposentado José Alberto Vivas
Veloso diz que há pelo menos um tremor a cada sete dias no país e que
eles nem sempre são tão inofensivos assim.
"É raro decorrer uma semana sem o registro de algum abalo sísmico no
país, mas, geralmente, ele será um evento pequeno e poderá passar
despercebido pelas pessoas”, disse ao G1. "Pode-se
comparar o montante da energia liberada durante a ocorrência de um
terremoto com uma explosão nuclear, mas apenas de forma aproximada.
Assim, estimamos que todos os terremotos já registrados no Brasil
liberaram energia equivalente a cerca de 20 bombas como a de Hiroshima
[lançada pelos EUA no Japão durante a 2ª Guerra Mundial, matando 140 mil
pessoas].”
Dados do Sistema Nacional de Registros Sísmicos apontam que Minas
Gerais lidera o número de casos, com 2.599 tremores. O estado é seguido
pelo Mato Grosso, que já contabilizou 1.304 terremotos, e Rio Grande do
Norte, com 1.245. As medições no país começaram em 1827, com a criação
do Observatório Nacional, e até agora chegam a quase 8 mil. A
intensidade dos abalos é avaliada por meio da escala Richter – uma
escala logarítmica de base 10, que atribui um número de 1 a 9 para
quantificar a energia liberada por um sismo.
Em geral, eles começam a ser sentidos pela população quando ultrapassam
os 3 pontos. Nessa faixa, já são capazes de mover mobílias e derrubar
objetos de prateleiras, além de quebrar pratos e janelas e balançar
sinos de igrejas. Árvores e arbustos também sofrem oscilações.
Quando atingem magnitude igual ou maior que 5, os terremotos causam
trincas e conseguem derrubar construções mais frágeis. O último deles
aconteceu em abril de 2008, em São Vicente (SP). O tremor, de índice 5,2
e epicentro no mar, produziu pequenas rachaduras em paredes da capital
paulista e provocou o deslocamento de uma adutora em Mogi das Cruzes,
deixando mais de 20 mil pessoas sem água.
"As estatísticas mostram que, para todo o Brasil, acontece um terremoto
de magnitude igual ou maior a 5 a cada cinco anos, em média, e um de
magnitude 7 só a cada 500 anos", explica Veloso. "Os dois maiores
tremores registrados atingiram magnitudes 6,1 e 6,2 e aconteceram em
1955. Apesar de tal magnitude ser considerada moderada, um sismo deste
tamanho pode produzir muito estrago dependendo de onde aconteça e das
condições geológicas locais e da qualidade das construções da área
atingida."
O professor aposentado da UnB José Alberto Vivas
Veloso (Foto: Raquel Morais/G1)
Veloso (Foto: Raquel Morais/G1)
“Vivemos no meio de tanto progresso científico que é difícil explicar
por que os terremotos ainda não podem ser previstos. Isso não significa
que nada pode ser feito”, diz o especialista. “[No entanto] Esta
previsão, chamada de longo prazo, não traz benefícios imediatos para
quem está sujeito a ocorrência de grandes terremotos. Na prática, o que
se quer saber é, por exemplo, onde acontecerá um grande terremoto nos
próximos dois meses. Mas ninguém sabe responder isso com segurança.”
O registro mais antigo que se tem de terremoto no Brasil é de 1720, em
Salvador (BA) – ele não chegou a ser mensurado por aparelhos. E,
desde então, houve um único caso comprovado de morte no país por causa
de abalos sísmicos: um tremor de magnitude 4,9 ocorrido em Caraíbas (MG)
provocou o desabamento de casas. O madeiramento do telhado de uma delas
atingiu uma menina de 5 anos, que não resistiu aos ferimentos.
Atualmente, os pesquisadores têm se dedicado a acompanhar a atividade
da região de Montes Claros (MG). Somente em abril passado, foram quatro
ocorrências. Os mais intensos foram sentidos no dia 6: 3,9, às 10h39, e
3,8, às 16h31.
Tremores ininterruptos
A cidade de João Câmara (RN) foi a que mais sofreu danos materiais e sociais por causa de terremotos brasileiros. A terra tremeu intermitentemente por sete anos. O maior abalo sísmico atingiu magnitude 5,1, em 30 de novembro de 1986.
A cidade de João Câmara (RN) foi a que mais sofreu danos materiais e sociais por causa de terremotos brasileiros. A terra tremeu intermitentemente por sete anos. O maior abalo sísmico atingiu magnitude 5,1, em 30 de novembro de 1986.
"Os tremores produziram danos em 4.348 edificações, que tiveram de ser
reparadas e algumas reconstruídas totalmente. Mais de 26 mil
desabrigados ocasionaram problemas em cidades vizinhas e também na
capital, Natal. Os prejuízos chegaram a US$ 14 milhões", explica Veloso.
Quase 25 anos depois, a cidade voltou a registrar uma sequência de
tremores. Foram nove casos entre 12 e 24 de outubro de 2011, que
assustaram os moradores. O mais intenso deles chegou a 2,8 na escala
Richter.
Para acompanhar os abalos na área, a Universidade Federal do Rio Grande
do Norte ampliou o número de estações na região da falha tectônica de
Samambaia, que fica na cidade. Ela é considerada a maior do Brasil.
Causas
Os tremores são geralmente causados pela movimentação das placas tectônicas – um grupo de 12 grandes blocos da crosta terrestres onde estão assentados os oceanos e continentes. O registro mais intenso aconteceu em Valdívia, no Chile, em 1960. Ele obteve 9,5 graus na escala Richter, provocando um grande tsunami que atingiu ilhas do Havaí, a dez mil quilômetros de distância.
Os tremores são geralmente causados pela movimentação das placas tectônicas – um grupo de 12 grandes blocos da crosta terrestres onde estão assentados os oceanos e continentes. O registro mais intenso aconteceu em Valdívia, no Chile, em 1960. Ele obteve 9,5 graus na escala Richter, provocando um grande tsunami que atingiu ilhas do Havaí, a dez mil quilômetros de distância.
Há ainda terremotos induzidos por atividades humanas. Falhas em
projetos podem provocar abalos durante o enchimento de lagos artificiais
de barragens, perfuração de minas profundas e extração de gás e
petróleo.
“Na verdade, o aparecimento desses sismos é mais exceção do que regra
geral. Por exemplo, das dezenas de milhares de reservatórios
hidrelétricos existentes no mundo, somente alguns produziram sismos”,
explica Veloso.
Medição
O Observatório Sismológico da UnB foi fundado em 1968, seguindo uma recomendação da Unesco. O objetivo era que a América do Sul tivesse aparelhos de alta sensibilidade, capazes principalmente de monitorar tremores surgidos na região andina. Atualmente, o órgão conta com 49 estações nas cinco regiões do Brasil.
O Observatório Sismológico da UnB foi fundado em 1968, seguindo uma recomendação da Unesco. O objetivo era que a América do Sul tivesse aparelhos de alta sensibilidade, capazes principalmente de monitorar tremores surgidos na região andina. Atualmente, o órgão conta com 49 estações nas cinco regiões do Brasil.
O órgão conta com uma página em rede social, na qual divulga
informações a respeito e também recebe relatos de suspeitas de abalos
sísmicos. Coordenadora do órgão, a geóloga Mônica Von Huelson afirma que
os terremotos catalogados costumam ser sentidos em um raio máximo de
aproximadamente 150 quilômetros.
“Muitos assustam-se e correm para a rua. As pessoas sentem falta de
segurança. Os pratos, as louças, os vidros das janelas, os copos
partem-se. Objetos ornamentais e livros caem das prateleiras. Os quadros
caem das paredes. As mobílias movem-se ou tombam", diz a professora.
Desde o início da medição, foi detectado apenas um abalo sísmico com epicentro no DF (veja vídeo ao lado).
Ele ocorreu na manhã de 20 de novembro de 2000 e fez com que moradores
de São Sebastião acordassem sobressaltados pelo estranho movimento das
camas. O tremor atingiu 3,7 pontos na escala Richter.
As causas do terremoto ainda não foram esclarecidas. Segundo o ex-chefe
do observatório José Alberto Vivas Veloso, a possibilidade de a origem
do tremor ter sido o resultado do desabamento do teto de uma caverna
subterrânea não foi descartada.
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