quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sob segredo de Justiça, perícia do acidente já começou

estadao.com.br (© Grupo Estado - Copyright 1995-2010 - Todos os direitos reservados.)
Atualizado: 13/08/2014 23:30 | Por ROBERTO GODOY e ANDREZA MATAIS, estadao.com.br

Oficiais acreditam que piloto desistiu do pouso e arremeteu porque chuva e névoa o impediram de localizar o eixo da pista
Guilherme Dionízio Estadão (© Estadão Conteúdo)
A investigação sobre o acidente que matou o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, e outras seis pessoas correrá sob sigilo até mesmo do Ministério Público ou da Polícia Federal. Decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff em maio deste ano determinou o sigilo das investigações de acidentes aéreos feitas pela Aeronáutica.
Caso a Justiça e a polícia queiram identificar responsabilidades em acidente específico, que estava sob investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), um outro inquérito terá de ser aberto. A lei permite, no entanto, que polícia e Justiça usem como provas em inquéritos os dados das caixas-pretas, assim como as transcrições das conversas da cabine.
A lei foi proposta pela Aeronáutica, em 2007, após a crise aérea, desencadeada com os acidentes da Gol, em 2006, que deixou 154 mortos, e da TAM, em junho de 2007, que matou 199. O diretor do Cenipa, brigadeiro Dilton José Schuck, explicou que a nova lei segue o que preconiza a Organização Internacional da Aviação Civil (OACI), órgão ao qual o Brasil é signatário, "para preservar as fontes voluntárias que prestam esclarecimentos e alimentam de informações que venham a auxiliar na identificação dos fatores que levaram à ocorrência do acidente, para que eles não se repitam". O brigadeiro lembrou ainda que a apuração do Cenipa não segue o ritmo de um processo judicial.
O acidente
A tela do computador da sala de operações da Base Aérea de Santos indicava que o dia seria “chuvoso e nublado”, com a temperatura oscilando entre 13 e 20 graus. Na segunda resolução, a informação adicional – nevoeiro súbito, vento forte. Nada, porém, capaz de impedir as operações de pouso e decolagem. Passava pouco das 9 horas.
O experiente piloto Geraldo Cunha, ex-comandante comercial da TAM, tinha sob comando um notável jato executivo de até 12 lugares – o modelo usado por Eduardo Campos era configurado para nove passageiros, com mais um assento dobrável, adicional –, o Cessna 560 XL, Citation. No mundo há cerca de 580 unidades desse bimotor de médio porte.
Robusto, com poderosos motores Pratt & Whitney 500 e recursos eletrônicos de última geração, ele podia cobrir 3.900 quilômetros sem escalas na velocidade de cruzeiro de 850 km/h. A Força Aérea Brasileira emprega versões eletrônicas do Citation para calibragem de seus sistemas de orientação do tráfego.
Segundo dois oficiais da aviação militar ouvidos pelo Estado, o comandante Cunha tomou a decisão de abortar o pouso e de arremeter, provavelmente ao não localizar visualmente o eixo da pista de 1.400 metros, talvez em meio à chuva fina e à névoa rasteira. O que houve depois, acreditam os militares, será conhecido só por meio da investigação e da perícia.
A hipótese de que tenha havido esforço excessivo das turbinas, exigidas ao máximo durante a arremetida, era considerada pouco provável entre prestadores de serviços de manutenção de aeronaves da mesma classe do Citation. O fenômeno, raro, ocorre quando o motor supera seu limite e perde potência, em vez de ganhar força de empuxo.
Ontem mesmo o Cenipa começou a trabalhar no caso.
O PR-AFA tinha caixas-pretas. O dispositivo acumula dados em uma espécie de disco rígido. O sistema terá armazenado a conversa entre os pilotos e os contatos com os controladores. Informações a respeito dos freios, asas, fuselagem, dos motores e dos movimentos realizados são reunidos do Módulo de Captação. A unidade resiste a impactos de 15 toneladas.
Avião estava vindo do aeroporto Santos Dumont no Rio - 1 (© Marcos de Paula Estadão)

Nenhum comentário: