terça-feira, 12 de agosto de 2014

Justiça analisa pedido de afastamento de juíza que determinou o despejo na Granja Werneck

11/08/2014 17:41 - Atualizado em 11/08/2014 17:41

Hoje em Dia*


Flávio Tavares/Hoje em Dia
Cerca de 70 ocupantes do terreno da Granja Werneck protestam em frente ao Palácio da Liberdade
ocupantes do terreno da Granja Werneck O pedido do Ministério Público (MP) para afastar a juíza Luzia Divina de Paula Peixoto do processo que determinou o despejo das famílias que ocupam o terreno da Granja Werneck, na região do Isidoro, no Norte de Belo Horizonte, será analisado pela desembargadora Selma Maria Marques de Souza, da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Segundo o TJMG, a exceção de suspeição chegou nesta segunda-feira (11) para a desembargadora. Cerca de 70 ocupantes do terreno fazem um manifesto contra a ordem de despejo desde a manhã desta segunda-feira, em frente ao Palácio da Liberdade, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
De acordo com informações do processo, “a magistrada demonstrou ser suspeita para julgar as ações acima mencionadas em face das afirmações que constam de decisões/manifestações recentemente proferidas e durante todo o decorrer dos processos, bem como da própria decisão concessiva de liminar exarada nos autos originários”. O documento diz ainda que a ordem da juíza tem o objetivo de apenas desocupar o terreno, “sem oportunizar qualquer solução pacífica a ser adotada pelas partes envolvidas”.
Além disso, o pedido de exceção de suspeição diz que a magistrada “concedeu entrevistas atribuindo aos excipientes a pecha de 'bandidos safados', além de outras denominações depreciativas, o que não difere substancialmente da criminalização que Vossa Excelência das dos pobres do campo”.
Manifestação
Desde às 11h desta segunda-feira os ocupantes da Granja Werneck se acorrentaram em protesto à ordem de despejo de oito mil famílias expedida pela juíza Luzia Divina de Paula Peixoto, em frente ao Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. O cumprimento da decisão e reintegração de posse pode ocorrer a qualquer momento.
"Vamos ficar aqui por tempo indeterminado, até que o governador Alberto Pinto Coelho suspenda a operação de desocupação. São oito mil famílias que serão despejadas. Se isso vier a acontecer, vai ser um massacre em Minas Gerais", declarou Rafael Bitencourt, membro das Brigadas Populares.
Conforme a PM, o protesto ocorre de forma pacífica. A corporação informou que aproximadamente 70 pessoas estão no local usando correntes para se prender às grandes. Já os manifestantes informaram que cerca de 300 pessoas estão participando do ato. Durante esta manhã, a cúpula da PM se reuniu para definir a logística da operação. "Não participamos porque somos contrários a desocupação", disse Bitencourt.
Por causa da manifestação, o trânsito ficou complicado na região.
Tensão
Na ocupação Rosa Leão, o clima é tenso nesta segunda-feira (11). Os cinco acessos foram fechados com barricadas. Pneus, telhas, sacos de terra e até pedras impedem a entrada de veículos. A informação é a de que ninguém deverá sair das casas para ir trabalhar. “Nós vamos resistir. Nossa arma é o número elevado de pessoas e a força da nossa voz”, diz uma das líderes da ocupação, Charlene Cristine Egídio. Lá, moram 1.500 famílias. São pelo menos 900 crianças. Em todo o Isidoro são 8 mil famílias.
Na tarde de domingo (10), houve tumulto entre invasores do Rosa Leão e militares no cruzamento das ruas Leila Diniz e Raul Pompéia. Os ocupantes acusam a PM de efetuar disparos. Balas de borracha também teriam sido usadas. Em nota, a PM informou que “integrantes da invasão obstruíram as vias de acesso e que os moradores da região, que utilizam as ruas, teriam acionado a corporação. Militares teriam ido ao local para restabelecer o fluxo de veículos e mesmo tendo sido recebidos por pedradas e tiro, conseguiram desocupa as vias”, informa o documento.
Ação civil
Uma ação civil pública já tinha sido proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Promotoria de Direitos Humanos, com o objetivo de garantir o direito à moradia pra as famílias que vivem nos acampamentos Rosa Leão, Esperança e Vitória, localizadas na região Norte de Belo Horizonte.
A proposta objetiva também a transparência de informações no que se refere à realização de perícia para esclarecer a metragem da área em ocupação, sua real localização e o tipo de denominação legal de parte dela. O MP busca clareza sobre uma porção da Ocupação Rosa Leão; se ela é ou não de interesse público, uma vez que foi definida como Zona de Especial Interesse Social (ZEI) em 2011, mas nenhuma política pública foi realizada no local.
O MP questiona que, mesmo apesar da maior parte das ocupações estarem localizadas no município de Belo Horizonte, uma outra parcela considerável das Comunidades Comunidades Rosa Leão e Vitória se encontram dentro do município de Santa Luzia e não só nos limites entre estas cidades. E assim, propõe a perícia para que seja definido o tamanho exato da ZEI, os limites e a posse de cada área.
Em uma pesquisa prévia realizada pelo órgão, constatou-se que há presença de população de várias regiões de Minas Gerais, o que demonstra a natureza do interesse não só do município, mas também do Estado, segundo a ação.
"Não é necessário ser expert em mapas para se perceber, claramente, que as áreas declaradas como de propriedade, seja pelo Município ou pelos demais autores das reintegrações de posse, se confundem e não há uma clareza em sua delimitação. O local exato em que se encontram as três Comunidades não estão traçados com exatidão", afirma a Promotoria na ação.
A Promotoria, além das questões territoriais e de competências, pede também o cadastro das famílias em programas sociais de assistência a moradia. "Nas comunidades existem crianças, idosos, portadores de necessidade especiais que precisam do apoio e zelo do Poder Público", concluiu o MP que chamou de "pseudo cadastramento" o serviço feito pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel).
*Com informações das repórteres Cristina Barroca, Renata Evangelista e Thais Oliveira

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