quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Indefinição do eleitorado marca o momento político nas eleições

Murillo de Aragão 

O Tempo

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PUBLICADO EM 27/08/14 - 03h00
Não há a menor dúvida de que a ascensão da presidenciável Marina Silva (PSB) nas pesquisas tem o condão de mudar as tendências até então verificadas. O favoritismo de Dilma Rousseff (PT) está sendo posto em xeque, e a presença de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno está mais do que ameaçada. No entanto, a campanha não está definida. Aliás, neste momento, a indefinição é a sua marca central. Quase tudo pode acontecer. As razões da indefinição residem nos seguintes aspectos:
1) Até quando o efeito “Eduardo Campos” vai impulsionar significativamente Marina?
2) As divisões e desavenças no âmbito da campanha de Marina podem comprometer seu desempenho?
3) A resistência de Marina a apoiar candidatos antes apoiados por Campos em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, entre outros, pode atrapalhar sua campanha?
4) Dilma, utilizando-se de seu tempo de televisão, da força da imagem do ex-presidente Lula e de uma campanha muito bem-apresentada, pode voltar a subir?
5) Aécio Neves, que está atordoado pelo fenômeno Marina, pode reagir e fazer valer sua melhor estrutura de campanha e seu tempo de televisão, maior que o da candidata do PSB?
6) Como o ambiente econômico pode afetar negativamente ainda mais Dilma?
7) Um discurso socialmente mais agressivo e economicamente mais consistente pode ajudar Aécio Neves?
8) Lula, com seu imenso carisma, pode reverter as intenções de voto contrárias a Dilma no segundo turno?
9) O pouco tempo de televisão no primeiro turno pode prejudicar a ascensão de Marina?
10) O pastor Everaldo (PSC) e o apoio dos evangélicos podem impactar o desempenho de Marina e roubar alguns preciosos pontos na disputa com Aécio?
11) O eventual acirramento da disputa entre Marina e Aécio pelo segundo lugar, mesmo que ela mantenha a dianteira, pode fazer com que a ex-senadora chegue desgastada ao segundo turno?
Enfim, temos um cardápio de indefinições importantes que podem afetar, novamente, as tendências de hoje.
Em 2002, Ciro Gomes (que estava filiado ao PPS) era o azarão e chegou a ameaçar o ponteiro Lula (PT). Pesquisa do Ibope (17 a 19 de agosto) mostrava Lula com 35% das intenções de voto; Ciro tinha 26%; e José Serra (PSDB), 11%. Quanto ao segundo turno, as pesquisas mostravam Ciro com 44% e Lula, com 43%. Durante a campanha, a candidatura de Ciro revelou fragilidades e contradições, e José Serra foi o competidor final contra Lula.
Considerando que a campanha está começando, o cenário ainda está em aberto, apesar de apontar para uma nova tendência predominante: Dilma sendo ameaçada por Marina no segundo turno. O que parece descartado são a decisão em primeiro turno em favor de Dilma e uma disputa sem Dilma no segundo turno.
Aécio, que está no córner por conta do vendaval Marina, deve mostrar-se mais acessível e menos elitista. Ainda dá tempo. Dilma tem uma longa lista de realizações que atinge o gosto das classes C, D e E.
Contra Dilma, está o fato de que tanto Marina quanto Aécio estão se beneficiando do tratamento equânime dado pelas redes de televisão em termos de espaço. As audiências dos telejornais são muito mais relevantes do que a propaganda eleitoral. Apesar da barragem de más notícias, Dilma segue liderando e só é ameaçada nas pesquisas de segundo turno.

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