18/08/2014
às 6:48-VEja
A Folha desta
segunda traz os números da mais recente pesquisa Datafolha para a
corrida presidencial. Querem saber? Todos — Dilma Rousseff, Aécio Neves e
Marina Silva — têm motivos para comemorar um pouco e para se preocupar
também. Vou dizer por quê. Segundo os números apurados, se a eleição
fosse hoje, Dilma, do PT, teria 36% das intenções de voto, marca
idêntica à obtida há um mês, quando o candidato do PSB era Eduardo
Campos. Também o tucano Aécio Neves fica no mesmo lugar: com 20%. E
Marina? Ela ressurge na disputa com 21%, tecnicamente empatada com o
candidato do PSDB — há um mês, Campos tinha apenas 8%.
Se Dilma e
Aécio não perderam votos e se Marina aparece com 13 pontos a mais do
que Campos, de onde saiu essa diferença? Dos brancos/nulos e dos que não
tinham candidato. Há um mês, 13% demonstravam a disposição de não votar
em ninguém; agora, são apenas 8%. Os que diziam não saber eram 14%;
agora, são 9%. Os demais candidatos somavam 8%; agora, apenas 5% —
Pastor Everaldo, do PSC, conservou seus 3% (os infográficos que aparecem
neste post foram publicados na edição impressa da Folha).
Conclusão
óbvia: Marina, a candidata que mais se identificou com os protestos de
rua iniciados em abril do ano passado e que nunca censurou, de modo
inequívoco, nem mesmo as manifestações violentas, beneficia-se, vamos
dizer assim, do ódio à política e aos políticos. Ela sempre foi muito
hábil em fazer de conta que não é feita do mesmo barro que compõe os
mortais da vida pública. Há mais: fica evidente, como apontei aqui tantas vezes, que ela não transferia votos para Campos.
No segundo
turno, a estarem certos os números, há uma novidade importante. Marina
Silva aparece em empate técnico com Dilma, mas numericamente à frente:
47% a 43%. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Contra Aécio, a petista lideraria com 47% a 39%, com oito pontos de
diferença.
Então
vamos pensar um pouco na contramão do que parece óbvio. A tragédia que
colheu Eduardo Campos já atingiu o seu auge. Não há mais como
espetacularizar o acontecimento. O Datafolha ouviu 2.843 pessoas nos
dias 14 e 15 de agosto. O ex-governador de Pernambuco morreu no dia 13.
Obviamente, cairá, a partir de agora, o impacto do acontecimento.
Não dá
para ignorar que a nova realidade é ruim para Dilma porque está
eliminada, agora de modo inequívoco, a possibilidade de ela vencer no
primeiro turno: seus adversários somam 46 pontos — 10 a mais do que os
seus 36. Ela tem ainda a lamentar a rejeição, que segue altíssima: 34%
dizem não votar nela de jeito nenhum, índice praticamente igual aos que
votam: 36%. Resta o que a comemorar? Duas coisas: apesar da avalanche do
noticiário, manteve seu patrimônio eleitoral no primeiro turno e se
distanciou um pouco de Aécio no segundo. Também melhorou a avaliação do
governo, segundo o Datafolha ao menos: ele é agora considerado ruim ou
péssimo por 23% — há um mês, eram 29%. Dizem ser bom ou ótimo 38% —
contra 32% em julho. Os mesmos 38% o consideram regular.
A exemplo
de Dilma, Aécio conservou os pontos que tinha: 20%. Como a sua
candidatura poderia ter sido a mais exposta a prejuízos em razão da
entrada de um novo nome no terreno oposicionista, não deixa de ser
positivo que tenha mantido o seu eleitorado. A diferença de oito pontos
no segundo turno é ruim quando se compara com os apenas 4 do Datafolha
anterior. No Ibope de há 11 dias, no entanto, era de 6 pontos. O patamar
é o mesmo.
E Marina?
Só recebeu boas notícias da pesquisa? Não custa lembrar que, no último
Datafolha em que o nome dela apareceu, em abril — antes que ficasse
claro que o candidato seria Campos —, ela chegou a marcar 27%. Vale
dizer: nem a tragédia monumental, que lhe garantiu uma visibilidade
inédita, com todas as tintas da tragédia e da evidente exploração
política, lhe devolveu ao patamar a que já havia chegado.
Aparecer à
frente de Dilma no segundo turno, dadas as circunstâncias e
considerando o momento em que se faz a pesquisa, me parecia desde sempre
plausível. O horário eleitoral começa amanhã. Dilma tem um latifúndio:
11min24s contra apenas 4min35s de Aécio e 2min3s de Marina. Mais: a
candidata da Rede — ora no PSB — agora terá de falar o que que quer.
Como vice de Campos, ela se limitava a dizer alguns “nãos”. Vamos ver.
A síntese das sínteses:
1: Dilma e Aécio certamente esperavam notícias piores;
2: Marina certamente esperava notícia ainda melhor;
3: o segundo turno já é uma realidade inescapável;
4: a estarem certos os números do Datafolha, o horário eleitoral começa com uma certa recuperação de prestígio do governo;
5: a rejeição a Dilma continua elevadíssima;
6: Marina e Dilma são certamente mais conhecidas do que Aécio, e o início do horário eleitoral pode ser, relativamente, mais positivo para ele do que para elas;
7: estamos diante da disputa eleitoral de resultado mais incerto desde a redemocratização do Brasil.
1: Dilma e Aécio certamente esperavam notícias piores;
2: Marina certamente esperava notícia ainda melhor;
3: o segundo turno já é uma realidade inescapável;
4: a estarem certos os números do Datafolha, o horário eleitoral começa com uma certa recuperação de prestígio do governo;
5: a rejeição a Dilma continua elevadíssima;
6: Marina e Dilma são certamente mais conhecidas do que Aécio, e o início do horário eleitoral pode ser, relativamente, mais positivo para ele do que para elas;
7: estamos diante da disputa eleitoral de resultado mais incerto desde a redemocratização do Brasil.
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