Luiz Tito
PUBLICADO EM 11/08/14 - 03h30- O Tempo
A inegável rejeição ao nome da presidente Dilma Rousseff como candidata
à reeleição, manifestada robustamente por parte de setores da
indústria, do comércio, das lideranças políticas e profissionais,
médicos em especial, parece não ter sido suficiente ainda para ferir de
morte as pretensões do PT e de sua representante na chapa. Dilma segue
liderando todas as pesquisas, e seus oponentes mais frontais, o senador
Aécio Neves e o ex-governador Eduardo Campos, não conseguiram
sensibilizar o eleitorado para se incorporar com convicção aos
argumentos de cada uma dessas campanhas.
Todos os exercícios de estatística dão conta de que Dilma, se não for
retirado da cartola um fato político relevante ou uma proposta
consistente de mudanças, será presidente da República por mais quatro
anos. Ninguém sofreu maiores ataques, ninguém teve contra si,
trabalhando diuturnamente, uma orquestração tão violenta e ampla quanto
teve a presidente Dilma Rousseff. No ano passado, resultado das
manifestações de junho, Dilma balançou, viu recuar sua aprovação e a de
seu governo, mas ambos permaneceram de pé e a oposição atrasou,
suspendeu a encomenda do terno da posse.
É verdade que os índices da inflação são desconfortáveis e ninguém
duvida que poderão crescer além da meta; onde, segundo o governo, estão
controlados. O crescimento econômico é medíocre, devendo ficar abaixo de
1,5% neste ano. Lamentável, mas os economistas conhecem bem essa
equação que poderia operar esse perfil. País que não tem moeda forte,
como acontece ao Brasil, com dimensões extremas, problemas concretos e
diversificados, com uma necessidade imperativa de investimento em
políticas públicas e infraestrutura, que convive com práticas de
corrupção históricas, quase endêmicas, e uma classe política que beira o
limite do inservível no seu perfil, tem, concorrentemente, uma margem
muito estreita para mudanças estruturais.
Qualquer estudante de economia conhece os caminhos viáveis de mudança e
sabe que é possível fazer crescer a economia. Sabe também que é
possível segurar a inflação no chamado centro da meta. E sabe ainda que
essas realidades exigem poupança interna, investimentos, demandas
controladas, moeda forte, inflação administrada e empregabilidade
assegurada. Países grandes, de economia robusta, são o resultado da
harmonização desses fatores. E a realidade contrária também expressa os
países e economias que estão na outra ponta, a da miséria, ou caminhando
para lá, sem volta.
O que as oposições estão tentando mostrar como perspectiva de mudança
não fecha o círculo. Nenhum candidato demonstrou, até o momento, onde
vai fazer girar a economia e de onde se vão tirar os recursos
necessários.
O setor agrícola brasileiro movimenta as exportações e põe no azul
nossa balança comercial. Esse mesmo setor não tem estradas para escoar
sua produção, não tem portos para exportá-la, sofre o policiamento e as
sanções do Ministério Público e de um Código Florestal que já nasceu
retrógrado. TCU e TREs sem força para julgar, mas que paralisam obras
essenciais. Que se investigue, que se encontrem culpados, que se punam
os responsáveis pela corrupção, pelo furto do dinheiro público, mas
paralisar obras é de uma burrice sem tamanho, pela qual pagam o Estado e
a sociedade. Os candidatos falam isso? Não. Por que têm rabos na gaveta
ou precisam desses votos para se eleger e perpetuar o modelo que já
vigora? Os candidatos à Presidência da República Dilma, Aécio Neves e
Eduardo Campos concordam com a inércia, com a subserviência, com a
desonestidade e a sabujice de grande parte dos membros do nosso
Parlamento, no plano federal, dos Estados e dos municípios? O que acham
sobre o perfil do nosso Poder Judiciário, todos os dias denunciado pela
prática de seus excessos, ou pela sua inércia, ou pela conduta criminosa
de muitos de seus membros e do próprio sistema? Nossos candidatos se
valem da manipulação da imprensa e dos veículos de comunicação para
construir suas imagens? A corrupção no Brasil é também oligopólio da
Petrobras? Eles, todos, explicam a evolução de seus patrimônios?
Que candidato teve a coragem de falar sobre isso? Então não vamos
perder mais tempo com promessas, com desculpas, com sorrisos, porque
quem paga essa conta é a sociedade, é o povo.
É um deboche ficar tentando e brincar com a miséria extrema, propormos mágicas que nunca vêm porque elas não existem.
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