22/08/2014 07:47 - Atualizado em 22/08/2014 07:47
Flávio Tavares/Hoje em Dia
Mais de 300 estudiosos paticiparam dos debates do VII Seminário Internacional de Alfabetização
Pesquisadores dos processos da mente e do cérebro colocaram em xeque o
modelo de alfabetização brasileiro, no VII Seminário Internacional de
Alfabetização, realizado nessa quinta-feira (21) pelo Instituto Alfa e
Beto (IAB), em Belo Horizonte. O evento debateu o tema “Como saber se o
aluno foi alfabetizado” e reuniu mais de 300 pessoas, entre
pesquisadores, educadores e gestores públicos.
Os estudiosos mostraram como o método de ensino construtivista é pouco
eficiente para a alfabetização. O método, utilizado no Brasil, entende
que as crianças aprendem a ler e escrever espontaneamente. No entanto,
de acordo com pesquisas recentes, o ensino fônico, que estabelece uma
relação entre as letras e os sons, é o mais eficaz. As exposições também
mostraram modelos de avaliação de outros países, que podem ser
adaptados à realidade brasileira.
Para esclarecer o tema, foram realizadas palestras com pesquisadores da
França, Portugal e Itália, e debates com os jornalistas Chico Mendonça,
editor-chefe do Jornal Hoje em Dia, e Luciano Máximo, do Valor
Econômico.
“No Brasil, há uns 30 anos, a gente perdeu a noção do que é alfabetizar
e, com isso, as crianças não estão aprendendo a ler e escrever na
escola. O objetivo desse evento é trazer todo o conhecimento de
pesquisas do mundo para mostrar como os países definem o que é
alfabetizar”, disse o presidente do IAB, João Batista Araújo e Oliveira.
Na parte da manhã, o pesquisador do Laboratório de Ciências Cognitivas e
Psicolinguística da Escola Normal Superior de Paris, na França, Frank
Ramus, fez palestra sobre os avanços dos estudos na área. “A
alfabetização tem muitas habilidades e competências envolvidas”, disse o
pesquisador.
À tarde, a professora catedrática da Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação da Universidade do Porto, Portugal, São Luis
Castro, destacou os processos de avaliação da alfabetização. “Ser capaz
de ler e escrever é um mecanismo neurocognitivo. Por isso, a
alfabetização deve ter como base uma avaliação sistemática”, defendeu.
Ultrapassado
O evento contou com a mediação de um dos maiores pesquisadores da área
de cognição e psicolinguística, o professor José Morais, da Universidade
Livre de Bruxelas. Segundo ele, a alfabetização no Brasil precisa ser
remodelada. “Há muitos anos, os programas de alfabetização no Brasil
estão dominados por um pensamento anticientífico, que é limitado e não
leva em conta todos os trabalhos feitos”, afirmou.
Segundo Morais, a ideia de que uma criança aprende a ler sozinha é
ultrapassada. “Nos documentos do MEC é definido que a criança deve
aprender lendo. Isso não funciona porque não está de acordo com as
características do sistema de escrita. A ideia de que método fônico é
mais produtivo do que o normal foi verificada em experimentos”.
Desempenho do Brasil é baixo
O desempenho dos estudantes brasileiros em leitura está abaixo da média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. A avaliação é do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizada em 2012.
Desempenho do Brasil é baixo
O desempenho dos estudantes brasileiros em leitura está abaixo da média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. A avaliação é do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizada em 2012.
O país somou 410 pontos em leitura, dois a menos do que na última
avaliação. Com isso, ficou com a 55ª posição no ranking de leitura,
abaixo de países como Chile, Uruguai, Romênia e Tailândia.
Quase metade dos estudantes (49,2%) não alcançou o nível dois de
desempenho, na avaliação que chega ao nível máximo de seis. Na prática,
isso significa que muitos brasileiros não são capazes de compreender um
texto e estabelecer conexões entre suas diferentes partes.
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