Governo comemora avanço de uma posição do
Brasil no ranking de desenvolvimento, mas contesta dados. Oposição
critica crescimento lento e menos acelerado que o de vizinhos
Amanda Almeida
Ana Pompeu - Correio Braziliense
Júlia Chaib
Publicação: 25/07/2014 00:12 Atualização: 25/07/2014 07:38
Amanda Almeida
Ana Pompeu - Correio Braziliense
Júlia Chaib
Publicação: 25/07/2014 00:12 Atualização: 25/07/2014 07:38
Brasília –
O retrato brasileiro pintado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud), ao lançar o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) 2013, nessa quinta-feira, serviu de munição tanto para a oposição
quanto para o governo. Enquanto o Palácio do Planalto escalou ministros
para comemorar a subida do Brasil no ranking mundial e contestar os
dados usados pela agência da Organização das Nações Unidas (ONU), os
adversários da presidente Dilma Rousseff criticaram o ritmo lento do
crescimento do IDH brasileiro, menos acelerado que o de países vizinhos
na América Latina e do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul).
Saiba mais...
Pnud usou dados desatualizados para cálculo do IDH brasileiro, diz governo
No ranking dos países com melhor IDH, Brasil sobe uma posição e é o 79º
Ministros questionam ranking do IDH elaborado pelo PNUD
O Pnud avaliou o cenário de 187 países,
destacando três dimensões como critério: vida longa e saudável, educação
e padrão de vida decente. No ranking, o Brasil está em 79ª posição,
uma acima do ano passado, o que o coloca entre os
países considerados com alto IDH. Na escala de 0 a 1, em que quanto mais
próximo do 1 maior o desenvolvimento, o país está com 0,744, contra
0,742 em 2012. Ajustado à desigualdade social, no entanto, o IDH mostra
que, embora esteja se tornando mais desenvolvido, o Brasil ainda é muito
desigual. Sob essa ótica, o índice cai 27%, fechando em 0,542.
Adversário de Dilma nas urnas em outubro, o senador Aécio Neves (PSDB) disse que é necessário reconhecer o avanço do Brasil nas últimas décadas, mas também superar a desigualdade social. “(O IDH) revela a necessidade de políticas públicas que promovam o desenvolvimento regional, diminuindo a desigualdade entre as regiões do país. Hoje, poucos estados são responsáveis por elevar o IDH brasileiro. As diferenças precisam diminuir também entre cidades, bairros e famílias, pelas quais a ação governamental precisa começar.”
Adversário de Dilma nas urnas em outubro, o senador Aécio Neves (PSDB) disse que é necessário reconhecer o avanço do Brasil nas últimas décadas, mas também superar a desigualdade social. “(O IDH) revela a necessidade de políticas públicas que promovam o desenvolvimento regional, diminuindo a desigualdade entre as regiões do país. Hoje, poucos estados são responsáveis por elevar o IDH brasileiro. As diferenças precisam diminuir também entre cidades, bairros e famílias, pelas quais a ação governamental precisa começar.”
O IDH não mede o
desenvolvimento por município no país. Mas o Atlas do Desenvolvimento
Humano Brasil, divulgado pelo Pnud em 2013, mostra essas disparidades. O
Distrito Federal, por exemplo, é apontado com um dos melhores índices
de renda, longevidade e educação, recebendo a classificação de “muito
alto” desenvolvimento. Mas, logo ao lado, no Entorno, em cidades como o
Novo Gama, a realidade é outra. O desenvolvimento é "médio". Enquanto
Brasília ficou na 9ª posição no ranking, Novo Gama ficou em 2.332ª.
Para
o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, a desigualdade “reflete a
leniência do governo com as políticas sociais”. “São insuficientes para
melhorar. Há muita concentração de riqueza e políticas muito frágeis
para avançar em áreas como saneamento. É importante reconhecer que houve
avanço, mas ainda fizemos muito pouco em termos de políticas sociais.”
Já
o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy, critica a lentidão do
crescimento. “Isso é claramente percebido pela população. A realidade é
bem diferente da propaganda do PT. Mostra que o governo perdeu tempo.
Foi negligente durante a última década. Tivemos muitas oportunidades de
surfar na onda do crescimento mundial, mas o PT procurou o caminho mais
fácil ao fazer apenas políticas de distribuição de renda, sem observar
outros fatores importantes”, ataca. A desigualdade também diminui em
ritmo lento. Em 2011, o IDH caía 27,2% quando se ajustava ao item, ou
seja, apenas 0,2 ponto percentual a mais que 2013.
O dado que
reforça o ritmo lento de crescimento brasileiro é que, embora tenha
subido no ranking de 2012 para 2013, o país perdeu quatro posições entre
2008 e 2013. O IDH do Brasil avançou de 0,731 em 2008 para 0,744 em
2013. Em outras palavras, outros países cresceram mais rápido que o
Brasil no período.
COMEMORAÇÃO Já o governo brasileiro comemorou o aumento do IDH. Os ministros do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, da Saúde, Arthur Chioro, e da Educação, Henrique Paim, fizeram uma análise dos avanços em cada área, mas contestaram os dados usados pelo Pnud. “O governo avalia de maneira muito positiva. O país é citado quase 20 vezes pelo relatório, sempre destacando os avanços”, diz Tereza, acrescentando que “temos dados mais atualizados sobre a maioria dos itens usados para compor o IDH, mas o Pnud usa antigos”. “Queremos uma comparação com dados recentes para mostrar realmente o quanto avançamos nos últimos anos."
O governo recalculou o índice usando dados atualizados. Para Tereza, o IDH brasileiro é de 0,764. Embora a ministra tenha dito que, com esse novo índice, o Brasil subiria para 67ª posição no ranking, não e possível fazer essa comparação, pois o governo não recalculou o IDH de outros países que compõem a lista do Pnud. Como uma das apostas para melhorar a posição do Brasil no próximo ranking, Chioro citou a adoção do programa Mais Médicos, um dos carros-chefes da propaganda petista nas eleições deste ano.
RELATÓRIO O Pnud lançou nessa quinta-feira, em Tóquio, o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014. Na nota técnica sobre o Brasil, a agência destaca os avanços do país. Para Jorge Chediek, coordenador-residente do Sistema Nações Unidas no Brasil e representante-residente do Pnud no Brasil, o investimento em programas sociais foi um dos responsáveis pela subida do país no ranking. “Muitas pessoas falam da ideia de que tem de ter programas de saída, mas às vezes, não vai ser possível que as pessoas saiam permanentemente da pobreza, porque têm um capital social muito baixo. A educação muito baixa, elas pertencem a regiões muito pobres, têm pouco capital social”, diz.
O relatório traz ainda dois outros índices: Pobreza Multidimensional e Desenvolvimento de Gênero. O primeiro é uma tentativa de identificar a pobreza não apenas pela renda per capita, mas também por privações em áreas como saúde, educação e padrão de vida. No Brasil, 3,1% da população é multidimensionalmente pobre. Já o segundo é de 0,441 e, de acordo com Chediek, destaca que é necessário aumentar a presença feminina especialmente na política.
COMEMORAÇÃO Já o governo brasileiro comemorou o aumento do IDH. Os ministros do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, da Saúde, Arthur Chioro, e da Educação, Henrique Paim, fizeram uma análise dos avanços em cada área, mas contestaram os dados usados pelo Pnud. “O governo avalia de maneira muito positiva. O país é citado quase 20 vezes pelo relatório, sempre destacando os avanços”, diz Tereza, acrescentando que “temos dados mais atualizados sobre a maioria dos itens usados para compor o IDH, mas o Pnud usa antigos”. “Queremos uma comparação com dados recentes para mostrar realmente o quanto avançamos nos últimos anos."
O governo recalculou o índice usando dados atualizados. Para Tereza, o IDH brasileiro é de 0,764. Embora a ministra tenha dito que, com esse novo índice, o Brasil subiria para 67ª posição no ranking, não e possível fazer essa comparação, pois o governo não recalculou o IDH de outros países que compõem a lista do Pnud. Como uma das apostas para melhorar a posição do Brasil no próximo ranking, Chioro citou a adoção do programa Mais Médicos, um dos carros-chefes da propaganda petista nas eleições deste ano.
RELATÓRIO O Pnud lançou nessa quinta-feira, em Tóquio, o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014. Na nota técnica sobre o Brasil, a agência destaca os avanços do país. Para Jorge Chediek, coordenador-residente do Sistema Nações Unidas no Brasil e representante-residente do Pnud no Brasil, o investimento em programas sociais foi um dos responsáveis pela subida do país no ranking. “Muitas pessoas falam da ideia de que tem de ter programas de saída, mas às vezes, não vai ser possível que as pessoas saiam permanentemente da pobreza, porque têm um capital social muito baixo. A educação muito baixa, elas pertencem a regiões muito pobres, têm pouco capital social”, diz.
O relatório traz ainda dois outros índices: Pobreza Multidimensional e Desenvolvimento de Gênero. O primeiro é uma tentativa de identificar a pobreza não apenas pela renda per capita, mas também por privações em áreas como saúde, educação e padrão de vida. No Brasil, 3,1% da população é multidimensionalmente pobre. Já o segundo é de 0,441 e, de acordo com Chediek, destaca que é necessário aumentar a presença feminina especialmente na política.
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