quarta-feira, 16 de julho de 2014

O que os líderes de Rússia, China e Índia vieram fazer no Brasil

Os líderes dos Brics estão no país para criar um novo banco. Mas o que são os Brics, e o que eles querem?

BRUNO CALIXTO
15/07/2014 18h00 - Atualizado em 15/07/2014 18h52
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, no Palácio Presidencial em Brasília. Putin está no país para a sexta Cúpula dos Brics (Foto: Eraldo Peres/AP)
No domingo (13), durante a final da Copa do Mundo, as câmeras revezavam ao captar as imagens do jogo com a de líderes mundiais nas tribunas VIPs, com a presidente Dilma e a chanceler alemã Angela Merkel. Entre elas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Putin não veio ao Brasil apenas para ver um jogo de futebol. O controverso presidente russo se juntou ao presidente da China, Xi Jinping, ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi e ao presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Os líderes das principais economias emergentes se encontram no Brasil para a Sexta Cúpula dos Brics, em Fortaleza e Brasília. Mas o que exatamente eles estão fazendo no país?
Antes de responder, é bom entender o que são os Brics. Inicialmente, era uma sigla inventada pelo economista britânico Jim O'Neill, do Goldman Sachs, na década passada. Bric é formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, e soa como a palavra "tijolo" em inglês. A ideia era mostrar que os quatro países, que apresentavam altas taxas de crescimento, tornaram-se pedras fundamentais na economia global. A solidez econômica dos Brics, entretanto,  foi objeto de questionamento por economistas nos últimos anos. Com o tempo, o grupo se tornou mais de interesses políticos do que econômicos e, em 2006, esses países resolveram se juntar em um bloco informal para atuar no cenário internacional. Os quatro países adicionaram a África do Sul no bloco, acrescentando um "s" no final da sigla (em inglês, South Africa). Juntos, os cinco englobam quase a metade da população mundial, com um PIB de US$ 11 trilhões.
O que querem os Brics? Segundo a pesquisadora Leane Naidin, professora da PUC-RJ e coordenadora do BRICS Policy Center, os Brics se definem melhor por o que eles não querem. Eles não querem formar um grupo econômico com acordos de livre-comércio ou vínculos fortes. "O que esses países se propõem como grupo é uma coalizão política para mudar as regras do sistema internacional. Eles querem criar mais espaços para os países em desenvolvimento, para eles mesmos", diz. Segundo a pesquisadora, no entanto, os países encontraram dificuldades nessa reformulação. Uma mudança no FMI para aumentar o papel dos países em desenvolvimento, por exemplo, foi barrada pelo Congresso dos EUA. Por isso, o caminho escolhido pelos Brics foi criar um banco com papel similar ao do Banco Mundial.
 
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, conversa com o presidente da China, Xi Jinping. À direita, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Os três estão no Brasil para a Cúpula dos Brics (Foto: Silvia Izquierdo/AP)
O banco vai operar com US$ 50 bilhões - cada um dos cinco países contribuirá com US$ 10 bilhões. A ideia é que esse banco financie obras de infraestrutura, como usinas hidrelétricas, trens-bala e metrô. "Os países estão criando esse banco para agilizar investimentos de interesses deles", afirma Leane. Além disso, os Brics - em especial a China - têm grande interesse em usar o banco para financiar obras na África e em países fora do bloco. Os Brics também estão prevendo a criação de um fundo de reserva com um papel similar ao do FMI. Assim, se algum país do bloco enfrentar uma crise econômica mais grave, poderia recorrer a esse banco, em vez de ao FMI, para conseguir ajuda financeira.
Apesar da retórica de união, a Sexta Cúpula dos Brics se tornou uma grande oportunidade para cada país tentar avançar na sua própria agenda e seus próprios interesses. Uma oportunidade que o presidente da Rússia não desperdiça. Ao aparecer na Copa do Mundo e ao lado de Dilma e Merkel, Putin mostra que a Rússia está longe de estar isolada, mesmo após enfrentar sanções dos Estados Unidos e da União Europeia por conta da crise na Ucrânia. Já Modi e Jinping fizeram lobby forte para tentar levar a sede do novo banco para seus respectivos países - a China quer ter mais participação no banco, e a Índia quer exatamente evitar que os chineses tenham maior poder de decisão. No final, a sede ficou na China, em Xangai, e os indianos ganharam o direito de escolher o primeiro presidente do banco.
Para o Brasil, é uma ótima oportunidade de formalizar acordos comerciais. Só nesta segunda-feira (14), Dilma e Putin assinaram sete acordos bilaterais, aumentando o fluxo comercial dos dois países, que hoje está na casa dos US$ 5,6 bilhões, para US$ 10 bilhões por ano. No total, Dilma deve fechar 40 acordos, entre eles a exportação de 40 aviões da Embraer para a China.

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