Política
Em discurso nesta segunda e no claro desconforto que demonstrou, no domingo, ao entregar a taça ao capital alemão, presidente deixa claro que sua maior preocupação é mesmo a eleição de outubro
Gabriel Castro, de Brasília - Veja
TRÊS SEGUNDOS - Dilma entrega taça a Lahm com pressa e cara de poucos amigos
(Ivan Pacheco/VEJA.com)
Daqui a algumas décadas, quando as imagens do capitão da seleção
alemã Philipp Lahm erguendo a taça da Copa do Mundo de 2014 forem
exibidas, é possível que poucas pessoas compreendam por que a senhora de
verde que entrega o troféu ao jogador parece querer se livrar da taça o
quanto antes. Também vai ser difícil entender por que a presidente
Dilma Rousseff não exibe um sorriso em um momento tão especial. Pelo
contrário: não disfarça seu desconforto com a missão. Aos que se
perguntarem no futuro por que estaria Dilma tão frustrada, adianta-se a
explicação: quem entregou o troféu a Lahm foi a candidata à reeleição. E
não a presidente da República.
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A imagem de Dilma ganha contornos ainda mais melancólicos quando
comparada às da chanceler alemã Angela Merkel. Se de um lado a
presidente brasileira evitava ser vista pelo público, a chanceler alemã
passou boa parte do jogo se exibindo, dando entrevistas e acenando a
todos os alemães no estádio. Merkel – como sua seleção – exerceu no
Brasil o que na diplomacia define-se como soft power, ou poder suave: a
capacidade de um país para conseguir o que deseja por meio de sua
cultura e de sua imagem, de sorrisos e paciência, em oposição a balas e
canhões. Já Dilma demonstrou total falta de fair play: adotou
uma postura aquém do que se espera do chefe de Estado de um país-sede da
Copa. A presidente não estava ali para agradar aos eleitores, mas
representava o país numa cerimônia assistida por cerca de 1 bilhão de
pessoas em todo o mundo. E o fez com uma postura mal humorada que
contrastou com o que os estrangeiros mais elogiaram nesta Copa: a
hospitalidade brasileira.
De fato, até o momento em que Lahm ergue a taça, o estádio foi tomado por vaias e xingamentos a Dilma.
A organização do evento, contudo, blindou a presidente de um
constrangimento mundial ao abafar os sons com música alta na transmissão
televisiva. Se do outro lado do mundo os torcedores não podiam decifrar
o abafado xingamento à presidente, o rosto de Dilma entregou o que a
Fifa tentava esconder. Se já havia quebrado uma tradição ao optar por
não discursar na abertura da Copa, Dilma mais uma vez falhou em seu
compromisso como presidente ao segurar a taça por meros três segundos,
empurrando-a a Lahm.
Nesta segunda-feira, em Brasília, Dilma voltou a misturar Copa e
política. Em nova demonstração de que teme os efeitos eleitorais da
goleada sofrida pelo Brasil para a Alemanha, saiu-se com um discurso de
superação. "Nós tivemos a Copa das Copas. Tivemos, sem tergiversar, um
problema, que foi a nossa partida com a Alemanha. No entanto, eu
acredito que tudo na vida é superação. O Brasil demonstrou também uma
grande dignidade após sofrer esse revés num jogo. Mostrou que tem
dignidade, porque é preciso inclusive atitude para saber perder. O povo
brasileiro demonstrou que era capaz não só de fazer a Copa das Copas,
mas de enfrentar também esse desafio, o que aconteceu". E associou o
sucesso do torneio fora de campo diretamente à sua administração: "Foi
uma árdua conquista para o meu governo. Nós todos nos empenhamos para
assegurar que a Copa do Mundo trouxesse não só uma grande oportunidade
de sediar o mais importante evento de futebol do planeta, como também
queríamos demonstrar que o Brasil estava capacitado e tinha todas as
condições para assegurar infraestrutura, segurança, telecomunicações,
tratamento adequado aos turistas, seleções e a todos os chefes de Estado
que viessem nos visitar".
Novamente, Dilma prefere discursar sobre o tema em evento fechado,
com público controlado. Fica claro por que a presidente passou quase
toda a Copa longe dos estádios: esteve apenas à abertura, onde foi
vaiada e hostilizada, e à final, quando compareceu hesitante para
cumprir o papel reservado ao chefe do país-sede na cerimônia de
premiação.
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