Jamil Chade e Ronald Lincoln Jr. - O Estado de S. Paulo
10 Julho 2014 | 11h 51
Ministro do Esporte afirma que mudanças na administração esportiva eram necessárias mesmo antes de derrota alarmante da seleção
Atualizado às 13h40
Dois dias depois da humilhação do Brasil na Copa,
o governo anuncia que quer assumir parte das funções de legislar sobre o
futebol, exige mudanças na estrutura do esporte e rejeita a ideia de
que a CBF pode, sem participação estatal, administrar o setor.
A Fifa proíbe que governos promovam qualquer intervenção nas
federações nacionais, sob a ameaça de expulsar o país das Copas. Mas
Brasília estima que existe espaço para agir.
"Eu sempre defendi que o Estado não fosse excluído por completo
do futebol", disse Aldo Rebelo, ministro dos Esportes. "É uma
intervenção indireta". Segundo ele, existe áreas de "interesse público"
e uma mudança pode alcançar até mesmo a CBF.
"Isso se houver uma reforma na lei que de ao estado a atribuição
de regular. A Lei Pelé tirou do estado qualquer tipo de poder de
atribuição e poder de intervenção. Ela determinou a prática do esporte
como algo privado, atribuição do mundo privado e isso só pode ser
modificado se a legislação também for modificada", declarou.
"Se depender de mim, não teríamos tirado o estado completamente
dessa atribuição. Se depender de mim, parte dessa atribuição deve
voltar", defendeu Aldo Rebelo.
Ele garante que o governo não quer nomear cartolas. "Mas o
Estado não pode ser excluído da competência de zelar pelo interesse
público dentro do esporte", insistiu. "Dirigentes passaram a administrar
o futebol sem qualquer atuação do estado. Queremos retomar algum tipo
de protagonismo no esporte. Não para indicar interventor. Mas para
preservar o interesse nacional e o interesse publico", disse.
"O futebol brasileiro precisa de fato de mudanças. A derrota
para a Alemanha evidencia essa necessidade", afirmou o ministro, que
chamou a goleada de "lição". "Precisamos adotar medidas para erradicar
os motivos do vexame de nosso futebol", insistiu.
"Foi um acidente o que ocorreu. Mas precisamos examinar o motivo
e a causa do acidente. É uma marca profunda. A melhor reação é ver as
causas mais duradouras daquele desastre. Precisamos extrair lições para
que o Brasil reponha a seleção no status que ela deve ter. As mudanças
são necessárias", disse.
Aldo classificou os 7 x 1 como "uma marca muito terrível para o
futebol brasileiro. O ministro pede uma melhoria na qualidade da gestão
dos clubes, novas leis e até impedir a exportação de jovens craques. O
ministro também pede uma organização no calendário e até mesmo na
estrutura financeira dos times.
"Deveríamos fazer esforço para elevar a qualidade da gestão dos
clubes", disse. "Algumas dessas propostas estão sendo discutidas na
legislação, que está tramitando no Congresso. Queremos que os clubes
assumam responsabilidades em relação à gestão. Que tenhamos condições de
apoiar financeiramente esses clubes. São poucos que tem condições de
recorrer à lei de incentivo ao esporte", declarou.
Aldo ainda quer tratar das finanças dos times. "Queremos que os
clubes façam uma renegociação da dívida, mas com duplo compromisso, de
pagar a divida passada e a futura. E sem atraso no pagamento de
atletas", defendeu.
Outro ponto é o de impedir a saída de jovens craques para o
exterior. "Precisamos discutir a legislação do ponto de vista de
trabalho de menores. Somos exportadores de matéria prima e somos
importadores de produto acabado", afirmou. "Precisamos mudar essa
equação. A lei coloco super poder para os empresários", atacou.
TREINADOR
O ministro, porém, se recusou a falar de troca de técnicos ou de
uma opção estrangeira para a CBF. "Não vou promover caças às bruxas",
disse. "Para todo grande problema aparece uma solução óbvia, fácil e
errada. Precisamos ter a consciência de que a mudanças no futebol
precisam ser feitas. Mas precisamos encontrar uma forma eficiente de
promove-las. E que isso não se faça apenas pela dor da derrota",
completou.
Aldo, porém, se esquivou como pode ao ser questionado se
apoiaria uma CPI do futebol ou na CBF, como defende o deputado Romário.
Ele ainda atacou o ex-jogador, alertando que Romário não fez uma só
proposta real para o futebol brasileiro enquanto esteve na Câmara de
Deputados.
O ministro sugeriu que Romário busque apoio entre os demais
deputados para suas propostas e insiste que o governo mantém sua
distância em relação ao Poder Legislativo.
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