Dom Luís Maria e Dom Antônio Gastão integraram
exército britânico após rejeição da França
por Raphael
Kapa
19/07/2014
6:00 / Atualizado 19/07/2014 16:16
Vivendo
na França, Princesa Isabel, Conde D´eu e seus filhos eram vistos como nobreza
francesa em outros países, mas Luís e Antônio não foram aceitos pelo exército
local - Acervo Dom João de Orleans e Bragança
O grau de
envolvimento brasileiro na Primeira Guerra Mundial é pouco conhecido da maioria
das pessoas, mas a proximidade do centenário do conflito, que começou no dia 28
de julho de 1914, joga luz sobre essa parte da nossa História. Pouca gente
sabe, por exemplo, que, muito antes de o país enviar equipe médica, embarcações
e alguns oficiais apenas na reta final do confronto, dois príncipes brasileiros
atuaram na guerra e até morreram em consequência disso. Filhos da Princesa
Isabel com o francês Conde D’Eu, os nobres D. Luís Maria e D. Antônio Gastão,
netos do ex-imperador D. Pedro II, serviram ao lado do Império Britânico.
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Mas o
caminho até servir na guerra não foi nada simples para os dois. A família viveu
no Brasil até a Proclamação da República, em 1889, quando foi para o exílio na
França. Antônio tinha, então, 8 anos, enquanto Luís tinha 11. Durante viagens
para outros países, Luís e Antônio não eram reconhecidos como membros da
nobreza brasileira ou portuguesa, mas, sim, francesa. Porém, quando completaram
a idade do alistamento militar, o exército do país se negou a recebê-los.
— A
França já era uma república, enquanto eles eram brasileiros e faziam parte de
uma família monárquica. Saber disto nos ajuda a entender essa negativa do
exército. A França era a pátria que D. Luís e D. Antônio queriam defender. Mas
eles não conseguiram, pelo menos, diretamente — explica a historiadora Teresa
Malatian, autora do livro “D. Luís de Orleans e Bragança, peregrino de
impérios”.
A solução
foi alistar-se no Império Austro-Húngaro, então governado pelo tio deles, o
imperador Francisco José I. Os dois príncipes cumpriram suas carreiras
militares nas fileiras austríacas sem imaginarem que os dois países, a França
com a qual se identificavam e a pátria que passaram a defender, entrariam em
choque na maior guerra conhecida pelo mundo até então.
Com as
constantes insatisfações e disputas entre as nações, o clima bélico já se
tornava uma preocupação dos príncipes. Sem vislumbre de assumir um lugar de
prestígio em alguma nobreza europeia, o Conde D´Eu, que ao se casar com a
Princesa Isabel abriu mão da hereditariedade do trono francês, aconselhava seus
filhos a seguir carreira militar.
Anos
antes do início do conflito mundial, ao se casar com Maria Pia Bourbon Napoles,
D. Luís pediu desligamento do exército para passar a conviver com a família. Já
D. Antônio, ao perceber que a guerra era inevitável, saiu das fileiras
austríacas pouco antes do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando,
estopim do grande conflito.
Quando a
Primeira Guerra Mundial já tinha iniciado seu curso, os príncipes resolveram se
colocar à disposição do exército francês, inimigo dos austro-húngaros, mas
viram as portas fechadas outra vez. Só que mesmo assim os irmãos não
abandonaram a ideia de lutar junto aos Aliados.
— Desta
vez, o exército francês não os aceita exatamente por terem servido ao inimigo.
Como eles iriam mudar de lado? Os príncipes acabam sendo aceitos pelas forças
britânicas devido a um outro parentesco com a família real de lá — relata
Teresa Malatian.
O
‘SIMPÁTICO’ E O ‘COMBATENTE’
Oriundos
da família real brasileira, considerados franceses, treinados pelos austríacos
e servindo aos britânicos. É com esta trajetória que o simpático D. Luís e o
combatente D. Antônio, como foram classificados por seu mordomo, entram na
Primeira Guerra Mundial.
— Os
príncipes eram pessoas notáveis. O exército britânico avaliou que seria bom
tê-los em suas fileiras — diz o embaixador Vasco Mariz, autor do livro “Nos
caminhos da história”, que será publicado no final deste ano.
O
desembarque de D. Luís no conflito se deu em 23 de agosto de 1914 e teve
duração de quase um ano. Como encarregado das comunicações entre os regimentos,
ele atuou nos pântanos do Yser, no Norte da França, onde contraiu um tipo de
reumatismo que o teria paralisado, como conta sua filha Maria Pia em seu livro
de memórias.
De volta
à França, passou a se locomover em uma cadeira de rodas e ficou conhecido como
um entusiasta do Brasil por sempre contar a história do país e ensinar
português para seus filhos e conhecidos.
— D. Luís
teve um papel político importante para o Brasil. Era um entusiasta que enaltecia
a imagem do país no exterior — afirma o Vasco Mariz.
A doença
que o príncipe contraiu na guerra o acompanharia e seria o motivo de sua morte,
em 1920.
Já D.
Antônio tinha 33 anos quando entrou na guerra que influenciaria amplamente a
geopolítica mundial dali em diante. Ele se tornou capitão do regimento Royal
Canadian Dragoon, junto com os canadenses que foram defender a bandeira
britânica.
— Alguns
autores afirmam que D. Antônio participou de batalhas aéreas, extremamente
novas naquele período. O que se sabe é que o príncipe era hábil e que muitos o
consideravam bastante corajoso — conta Mariz.
Com a
guerra já terminada, o príncipe sofreu um acidente de avião nos arredores de
Londres. Ele ainda foi levado vivo para um hospital próximo, mas morreu em decorrência
dos graves ferimentos sofridos, no dia 29 de novembro de 1918.
CONDECORAÇÕES
FRANCESAS
Mesmo sem
ter sido aceito pelas forças francesas, D. Luís recebeu condecorações póstumas
por sua participação na Primeira Guerra com os Aliados. O governo francês
homenageou o príncipe como cavaleiro da Legião de Honra e lhe outorgou a Cruz
de Guerra, o que demonstra reconhecimento ao príncipe brasileiro morto.
Já seu
irmão recebeu, em 1917, um título de destaque do exército britânico. Devido a
sua participação, considerada de alto nível nos relatos de superiores, D.
Antônio mereceu a Military Cross e foi incorporado às forças armadas britânicas
oficialmente.
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