quarta-feira, 16 de julho de 2014

Chefes do PCC comandam tráfico dos EUA e do Paraguai

Operação "Bate-Bola" da Polícia Civil desvendou parte do esquema de organização da cúpula da facção

REDAÇÃO ÉPOCA, COM ESTADÃO CONTEÚDO E AGÊNCIA BRASIL
16/07/2014 12h25 - Atualizado em 16/07/2014 12h34
Os crimes cometidos dentro e fora dos presídios paulistas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) eram arquitetados de forma mais refinada do que se pensava. Investigações da Polícia Civil de São Paulo feitas ao longo dos últimos seis meses afirmam que líderes do PCC organizam o tráfico de drogas e outras atividades criminosas no Estado diretamente do exterior. De acordo com o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), dois dos quatro líderes da cúpula da facção, apelidada de "sintonia fina geral", coordenavam os crimes dos Estados Unidos e do Paraguai.
Um deles é Wilson José Lima de Oliveira, o "Neno". Em Orlando, ele tem aprendido de perto como cartéis de drogas do México se organizam. "Neno" faz parte da "cebola" da facção -- setor responsável por arrecadar as mensalidades de R$ 600 pagas pelos integrantes do PCC para gerar fundos e custear a estrutura da organização. O outro é Fabiano Alves de Souza, o "Paca", que atua do Paraguai. A Polícia Civil identificou quatro líderes que integravam a cúpula do PCC: Edilson Borges Nogueira, o "Birosca", Rogério Geremias de Simone, o "Gegê do Mangue", além de "Paca" e "Neno". "Paca é o único deles que ainda está em liberdade.
As conclusões são resultado de uma operação comandada pelo Deic, batizada de "Bate-Bola". O termo é usado pelos criminosos para denominar como eles se comunicam, com pequenos bilhetes, cartinhas e pequenas anotações em celulares.  As investigações, iniciadas em fevereiro, mobilizaram 200 policiais e contaram com escutas telefônicas e interceptações de mensagens autorizadas pela Justiça. Também foram usadas câmeras escondidas que flagraram reuniões dos integrantes da organização criminosa. No úlitmo final de semana, 38 pessoas foram presas e dois adolescentes, apreendidos. Entre os presos estão 15 mulas - a maioria, mulheres que transportavam drogas para os pontos de venda. 
Na operação foram apreendidos 31 automóveis [cinco deles de luxo], duas motos, 102 quilos (kg) de cocaína, 40 kg de maconha, 300 frascos de lança-perfume, munições, um fuzil, uma submetralhadora, quatro pistolas, computadores, celulares e R$ 120,9 mil em dinheiro. Três contas bancárias da organização foram bloqueadas e serão analisadas pela polícia. Também foram emitidos dois alertas vermelhos à agência internacional Interpol para a prisão dos dois foragidos que se encontram fora do país: Paca, que está no Paraguai, e Neno, que está nos Estados Unidos.
De acordo com a polícia, Marco Willians Herbas Camacho, o "Marcola", continua liderando a facção mesmo dentro do presídio. "O 'Marcola' é mais intelectualmente preparado e tem uma liderança carismática", diz Wagner Giudice, diretor do Deic. Ele está preso na unidade de segurança máxima de Presidente Venceslau. Atua agora sob o codinome de "Russo", em referência ao seu discurso marxista. De acordo com Ruy Ferraz Fontes, delegado da Divisão de Investigação de Crimes contra o Patrimônio do Deic, as ordens de "Marcola" eram repassadas por meio de outros integrantes presos na mesma unidade prisional.  Entre eles, Souza, foragido no Paraguai, e Amarildo Ribeiro da Silva, o "Julio", um dos 40 presos no sábado.
"Julio" é apontado pelas investigações como o um dos líderes do setor financeiro do PCC. Segundo a Polícia Civil, ele gerenciava um faturamento mensal de cerca de R$ 7 milhões. Também era o responsável por liberar altas quantias de dinheiro para compra de drogas. A Justiça bloqueou três contas utilizadas pelo acusado.
O promotor público Lafaiete Ramos, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do ABC, que acompanhou todo o caso, diz que as prisões feitas na operação têm prazo de 30 dias. A Justiça deve receber pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual para que "Marcola" e os demais líderes presos da facção voltem para o chamado Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), tratamento que prevê um isolamento de 22 horas por dia.
Organograma do crime
A operação identificou 13 setores do PCC que operam de forma independente. Mensalmente, os representantes de cada um dos setores se reúnem para fechar a contabilidade geral das arrecadações. Os 13 setores são:
- a padaria (que agrega a aquisição, armazenagem e distribuição da droga), os FMs (que administram as drogas nos pontos de venda a varejo)
- a produção (que controla, coordena, gerencia, armazena e distribui a droga para o varejo)
- o progresso (que administra a venda de drogas e cigarros nos presídios e estimula a venda de drogas de forma geral)
- a cebola (setor que arrecada mensalidade de R$ 600 dos membros do PCC)
- o cadastro (que faz o controle dos integrantes do PCC)
- a rifa (que administra a venda de rifas)
- o busão (que faz o transporte de visitas em presídios)
- a ajuda (auxílio para os integrantes presos e seus familiares)
- a gravata (que reúne os advogados da facção)
- o apoio (responsável pela administração de recursos em processos contra membros do PCC)
- o paiol de armas (que armazena as armas)
- o outros estados (que cuida da operação fora de São Paulo).

Nenhum comentário: