18/04/2014 06:42 - Atualizado em 18/04/2014 06:42
Ricardo Bastos - Hoje em Dia
PROVEITO – Flanelinhas se apoderam do espaço público livremente
O estádio é padrão Fifa. Mas o desrespeito ao redor dele é o velho
conhecido dos brasileiros. Em dias de jogos com grande público no
Mineirão, os torcedores sofrem com o festival de irregularidades. Ruas e
avenidas em um raio de até três quilômetros, nos bairros Ouro Preto,
São José e São Luís são tomadas por carros estacionados em locais
proibidos, flanelinhas, ambulantes e cambistas.
O Hoje em Dia acompanhou a ação dos oportunistas antes
do jogo entre Cruzeiro e Cerro Porteño, na última quarta-feira. Algumas
das restrições adotadas pelo “padrão Fifa”, na Copa das Confederações,
como tráfego, estacionamento e ambulantes ainda são adotadas, porém
burladas.
Com a limitação de vagas de estacionamento dentro do estádio e
proibição nas vias próximas, resta aos torcedores estacionarem em locais
proibidos ou distantes, quando não são extorquidos pelos flanelinhas.
Influenciados pelos guardadores, os motoristas param sobre calçadas,
recuos de passeios e em frente a garagens.
Sem garantias
Já quem opta por deixar o carro em áreas privadas não tem garantia
contra danos ou furtos.otes vagos e outros espaços comerciais viram
local de parada, mesmo sem o alvará da prefeitura.
Até imóveis abandonados, como na esquina das avenidas Alfredo Camarate e
Otacílio Negrão de Lima, são ocupados pelos flanelinhas. No fim das
contas, se paga mais caro para estacionar, em média R$ 50, do que o
valor do ingresso, que neste jogo era de R$ 40.
Além disso, ambulantes vendem alimentos e bebidas livremente, usando
veículos como depósito de estoque. Ao mesmo tempo, cambistas compram e
vendem ingressos sem incômodos.
30 presos por jogo
A Polícia Militar e a fiscalização da prefeitura tentam algum controle,
mas é difícil coibir os centenas de irregulares. O tenente Rogério Mol,
do 34º Batalhão da PM, fez um desabafo ao deter um dos flanelinhas na
noite de quarta. “Prendemos quase 30 deles por jogo, mas não adianta.
Eles apenas assinam um papel e são liberados”.
Um dos fiscais da prefeitura, que pediu para não ser identificado,
disse que é impossível impedir a venda dos pequenos informais e o foco
são os veículos usados para reabastecimento dos ambulantes.
Também não são feitas vistorias para verificar exploração comercial de estacionamentos em outros tipos de comércios.
Torcedores relatam achaque de flanelinhas
O jogo começa às 22h, mas desde as 18h, mais de uma centena de
flanelinhas “organizam” a avenida Antônio Abrahão Caram, que dá acesso
ao Mineirão. Estacionar ali é proibido, mas não há fiscalização para
impedir. Quando o torcedor para o carro, eles se aproximam pedindo para
“vigiar” em troca de um valor adiantado.
A quantia varia, conforme a vítima e o jogo, entre R$ 10 e R$ 50.
Torcedores relatam cobranças de até R$ 80. Quem não paga é ameaçado,
como a servidora pública Henivane Reis Pinheiro, de 34 anos. Ela relata
ter sido acuada por um flanelinha. “Me disse que se eu não pagasse,
saberia o que aconteceria. Tive que ceder”, afirmou.
Basta o pagamento, para o flanelinha partir para o próximo torcedor. À
medida que as vagas são ocupadas, mesmo em pontos proibidos, os
flanelinhas se deslocam na Abrahão Caram, sentido avenida Antônio
Carlos, e para as vias internas dos bairros. Pouco depois do início do
jogo, todos os “guardadores de carro” vão embora sem oferecer a
prometida “vigia”.
TÁTICA
Henivane agora adota a estratégia do amigo, o bancário Marcelo
Fernandes de Macedo, de 37 anos, que chega cedo, se recusa a parar, mas
aguarda dentro do carro até os flanelinhas se distanciarem. “Se tiver a
presença da polícia, eles não agem, mas sem a PM, é território livre”,
lamentou.
Quem chega mais tarde não encontra a vaga e é obrigado a parar longe do
estádio. O universitário Guilherme Henrique Leite, de 22 anos, parou a
dois quilômetros de distância. “Tentei mais perto. Não teve jeito.
Quando achei um espaço, os flanelinhas chegaram a brigar entre eles. Me
pediram R$ 20. Não aceitei e sai”, contou.
O Hoje em Dia fez contato por telefone com os oficiais
da PM para repercutir as ações dos flanelinhas e estacionamentos
irregulares, mas a chefe do Comando de Policiamento da Capital, coronel
Cláudia Romualdo, os assessores de imprensa tenente-coronel Alberto Luiz
Alves e major Gilmar Santos, além do comandante do Batalhão de
Policiamento Especializado, coronel Antônio de Carvalho Pereira, não
atenderam.
Ambulantes fazem a festa no entorno do estádio
Além da proibição de estacionamento, ambulantes são impedidos de atuar
próximos ao Mineirão. Porém, a medida fica só no papel. Dezenas de
carros viram lanchonetes e outros, com pequenos isopores, comercializam
toda sorte de produtos, alimentos e bebidas. A fiscalização conseguiu
flagrar uma Kombi que servia como depósito de bebidas. O material foi
recolhido e o comerciante informal só consegue recuperar a mercadoria
pagando multa.
Devido ao feriado, a assessoria de imprensa da prefeitura não se
pronunciou sobre os informais ou informou quantos estão cadastrados e o
que é feito com o material apreendido.
RESTRIÇÃO
A justificativa da BHTrans para restringir o estacionamento no entorno
do Mineirão é “garantir a circulação segura de veículos e pedestres,
assim como o acesso do transporte coletivo e veículos de emergência,
além de manter a fluidez do trânsito”. Porém, nenhum dos benefícios é
notado em dias de jogos com grande público.
O tráfego torna um risco a qualquer tentativa de pedestres atravessar
ruas e avenidas. Além disso, as filas de carros deixam lento o trânsito
local. Quem quer acessar o estacionamento interno do estádio, com
capacidade para 2.670 carros pelo valor de R$ 30 – o único que oferece
seguro em casos de danos ou furtos – chega a demorar quase uma hora para
estacionar.
Apesar da reclamação de torcedores de que o espaço é aberto tarde, a
Minas Arena alega que segue as resoluções dos clubes, polícias, Corpo de
Bombeiros, BHTrans, Federação Mineira de Futebol, Minas Arena etc.
Quanto aos estacionamentos em lotes particulares que atuam sem o alvará
necessário, a prefeitura não se pronunciou. Um dos fiscais ouvidos pela
reportagem informou que é necessária a autorização especial para
qualquer atividade de exploração comercial, mesmo que eventual. No
entanto, “não há orientação das chefias para vistoriarem esse item e o
foco é contra os ambulantes”, disse o profissional, que não se
identificou.
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