segunda-feira, 14 de abril de 2014

De volta ao bairro de Lourdes, ex-governador Antonio Anastasia retoma os hábitos de cidadão comum

Em seu apartamento da Rua Santa Catarina após morar no Palácio das Mangabeiras, ele revela os detalhes da nova rotina

por Ivana Moreira |Veja
Victor Schwaner/Odin

Anastasia e a coleção de miniaturas, que tem lugar de destaque na sala de visitas: “Cada uma delas tem uma história”

Ele abre as portas de vidro do armário instalado na sala de estar e exibe, entusiasmado, as miniaturas que coleciona há quase trinta anos. Foi durante um passeio em Milão, na Itália - sua primeira viagem ao exterior, em 1986 -, que o ex-governador Antonio Anastasia comprou a primeira peça, uma imagem da Madonnina. De lá para cá, encheu as prateleiras com pequenas lembranças dos lugares por onde passou, dentro e fora do país. “Cada uma delas tem uma história”, diz. “Sei onde comprei ou de quem ganhei.” Depois de quatro anos vivendo no Palácio das Mangabeiras, a residência oficial dos governadores de Minas Gerais, Anastasia, de 52 anos, voltou a morar em seu apartamento, na Rua Santa Catarina, em Lourdes, onde recebeu VEJA BH antes de embarcar para vinte dias de férias nos Estados Unidos. “Sou um homem de hábitos muito simples.”
Até os 41 anos de idade, Anastasia morava de aluguel. O apartamento de três quartos em um prédio antigo é seu primeiro e único imóvel, comprado em 2002. “Juntei 205 000 reais e paguei à vista, porque tenho pavor de fazer dívida”, conta. “Sou seguro com dinheiro.” Gastar fortunas com luxos e grifes não é com ele. Embora goste muito de dirigir, seu carro, por exemplo, não é nenhum modelo de última geração. Anastasia possui um Volkswagen Jetta 2007. “Não estraga, não me dá trabalho, é muito bom.” O automóvel saiu pouco da garagem enquanto ele esteve no governo. Só nos fins de semana. Não deverá ser diferente daqui para a frente, porque o dono adora andar a pé pelo bairro onde mora. Segundo Anastasia, o melhor de residir ali é ter tudo o que aprecia a poucos quarteirões, do cinema aos restaurantes. Apesar de contar com uma empregada, que está com ele há duas décadas, quase nunca faz as refeições em casa. Adora comer fora. Seus restaurantes preferidos são A Favorita, Glouton, Trindade, Dom e Vitelo’s. “Eu sou guloso”, admite, para explicar sua queda por mesas bem servidas.
O ex-governador costuma frequentar endereços de alta gastronomia, mas, ironicamente, não resiste mesmo é a uma receita bem trivial: lombo assado com farofa e abacaxi, seu prato predileto. “Chego a salivar só de pensar.” Para a sobremesa, amor em pedaços. Tudo acompanhado por Coca Zero, já que ele não toma nenhum tipo de bebida alcoólica. Vaidoso, Anastasia lamenta os quilinhos que ganhou durante o tempo em que comandou o estado (mas não conta de jeito nenhum quantos foram). “As pessoas me agradavam com doces e chocolates, e eu não resistia”, justifica-se. Resultado: ele não anda gostando nada de se ver nas fotos. “O papo....”, entrega.
Por dever de ofício, Anastasia teve de marcar presença, como governador, em eventos que se estendiam até tarde da noite. Mas o advogado, professor e servidor público prefere mesmo é se recolher cedo - às 22h30 já está na cama - e ficar na companhia dos seus livros e filmes. Essas são duas categorias com as quais não faz economia. “Comprar dez DVDs de uma vez é um dos luxos que me permito.” Apesar da agenda corrida das últimas semanas de mandato, antes de deixar o cargo já havia visto quase todas as fitas indicadas ao Oscar deste ano. E planejava concluir a lista durante as férias nos Estados Unidos. Na mala, ele levou pelo menos sete obras para ler.
“Eu vou ficar incomunicável”, brincou, antes da partida. Depois de quase doze anos de dedicação à administração estadual - mais de sete como secretário e quatro como governador -, pensar que terá tempo para velhos costumes o deixa bem animado. É a parte boa da renúncia para se dedicar à campanha de Aécio Neves à Presidência da República. A ruim, segundo ele, é a saudade que terá das pessoas com quem trabalhou de forma mais próxima durante todos esses anos. Na despedida, não conseguiu segurar a emoção e as lágrimas. Sobre sua possível candidatura ao Senado, vista como certa nos bastidores da política, ele prefere não falar por enquanto. Talvez para não ser obrigado a lembrar que os dias de passeios a pé pelo bairro de Lourdes ficarão raros novamente.
Orgulho e devoção
Qual objeto Antonio Anastasia guarda com mais carinho em sua casa? Ele não titubeia para responder. “O Prêmio Barão do Rio Branco”, diz. Concedido em 1983, o certificado de melhor aluno do curso de direito da UFMG ainda é motivo de orgulho e fica pendurado na parede da sala de TV. “Foi um momento muito feliz”, lembra. Anastasia passou no vestibular aos 17 anos e, aos 22, formou-se advogado. Ao longo dos cinco anos da graduação, foi sempre considerado um aluno brilhante, que adorava estudar e devorava livros. “O melhor período da vida da gente é a faculdade”, acredita. Além do certificado emoldurado, o que também tem lugar especial na casa são as imagens de Santo Antônio. Ele possui mais de 200 que lhe foram dadas de presente. “Sou devoto.” Duas delas ficam no quarto: a tela comprada em Lima, na parede, e a imagem preferida, junto à cabeceira da cama. Essa foi junto com ele para o Palácio das Mangabeiras e só voltou para
Lourdes na semana passada.
http://vejabh.abril.com.br/edicoes/volta-ao-bairro-lourdes-ex-governador-antonio-anastasia-retoma-habitos-cidadao-comum-seu-apartamento-rua-779523.shtml

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