Marcelo Machado, sargento reformado do Exército e um dos organizadores do ato marcado para o próximo dia 11, diz que onda de insatisfação pode gerar motins nos quartéis
Fonte Imagem: facebook - Bruno Toscano |
Presidente da Associação Nacional dos Militares do Brasil
(ANMB), o sargento reformado do Exército, Marcelo Machado, um dos
articuladores da reação da direita às investigações da Comissão Nacional
da Verdade (CNV) afirma que uma onda de insatisfação no meio militar
pode gerar motins nos quartéis em protesto contra o governo e em
resposta a “passividade” com que, a seu ver, têm se comportado os
comandantes das Forças Armadas.
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“O governo está usando a Comissão da Verdade para
desmoralizar as Forças Armadas. Somos favoráveis à apuração da tortura e
desaparecimentos de presos políticos, mas também queremos que se
investiguem os sequestros, assaltos e explosões de bomba envolvendo a
esquerda. Tem de mostrar os dois lados”, diz Machado.
Segundo ele, mais de 95% dos efetivos militares são
formados por jovens que tomaram conhecimento dos anos de chumbo pela
leitura de livros oficiais e que agora – diante das novas revelações –
podem ser induzidos a entender a história da luta armada apenas pela
versão da esquerda. Ele diz que os militares e policiais que atuaram
contra as organizações que pegaram em armas cumpriram ordens.
“É como uma panela de pressão. Sem válvula de escape,
explode. Além do sucateamento das Forças Armadas e dos péssimos
salários, os militares estão sendo humilhados. A insatisfação dentro das
unidades militares é generalizada. Tenho recebido reclamações e
informes de que pode ter motim”, afirma Machado. Segundo ele, o Rio de
Janeiro é o principal ponto de insatisfações do país.
A mobilização de militares está sendo coordenada pela
ANMB e por outra entidade correlata, a União Nacional das Esposas de
Militares (UNEMFA), que pretendem reunir mais de três mil pessoas em
Brasília no próximo dia 11 num evento que vem sendo organizado como a
primeira manifestação pública contra os rumos das investigações CNV.
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A lei que criou a CNV – que não tem poder de punir nem de
produzir peças processuais – restringe as investigações aos crimes
praticados por agentes da ditadura. As ações de militantes da esquerda
armada (sequestros, assaltos e assassinatos), segundo entendimento do
governo e dos integrantes da CNV, representaram resistência ao regime
ditatorial e já foram punidos com prisões, condenações e banimento
durante o período de repressão.
“A manifestação é uma reação democrática da família
militar contra o revanchismo. Não terá nenhum caráter partidário”,
garante Machado. Até entrar para a reserva, ele era terceiro sargento do
Exército no Rio. Além do comando da entidade, Machado é também
presidente do diretório municipal provisório da Aliança Renovadora
Nacional (Arena), o partido que sustentou a ditadura militar e está
sendo reestruturado no País pela estudante gaúcha Cibele Baginski.
Machado diz que as entidades representam cerca de 5, 2
milhões de militares ativos e inativos das Forças Armadas, corpos de
bombeiros e polícias militares de todo o País.
As reações contra as investigações sobre os crimes da
ditadura começaram no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
com declarações de dirigentes dos clubes militares e dos comandantes
das Forças Armadas contra o lançamento do livro Direito à Memória e à
Verdade, em 2009.
Para tentar estabelecer contraponto, a direita editou e
passou a distribuir o Orvil (livro ao contrário) em que listou os atos
da esquerda armada segundo a versão da polícia e dos militares que
atuaram na repressão.
Com a instalação da CNV, no ano passado, as reações da
direita passaram a ser mais ostensivas, mas estavam restritas a
declarações de dirigentes dos clubes militares, insistindo sempre que as
conclusões só terão a verdade que a esquerda quer.
Os militares acham que o objetivo da CNV é pressionar o
Supremo Tribunal Federal a aceitar a revisão da Lei da Anistia para
abrir possibilidade de punição aos agentes acusados de tortura,
assassinatos e ocultação dos corpos de desaparecidos no período.
O ato programado para o próximo dia 11 é a primeira
manifestação em que os militares saem às ruas para protestar. “Já
pedimos apoio da PM do Distrito Federal e faremos tudo dentro da lei e
da ordem. As despesas serão bancadas individualmente por cada
manifestante e ninguém está autorizado a usar camiseta ou qualquer
objeto que caracterize partido político”, afirma Machado. A ANMB e
UNEMFA, no entanto, estão alinhadas politicamente à Arena.
“A manifestação não é um ato do partido, mas estamos
liberando os companheiros que quiserem participar”, afirma Cibele
Baginski. Segundo ela, o partido é de direita, representa as correntes
nacionalistas e conservadoras, combate “a parcialidade” da CNV, mas
agirá dentro da ordem democrática. “Descartamos qualquer radicalismo”,
garante a estudante.
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