Renato Cobucci/Hoje em Dia
Tereza Marcondes: gasto com sacolão aumentou 100% para comprar a mesma quantidade de itens

Inflação percebida pela população é bem superior aos índices oficiais No acumulado dos 12 meses terminados em abril, a inflação oficial acumulou alta de 6,49%, batendo no teto da meta do Banco Central, de 6,5%. Muitos brasileiros, porém, sentem no bolso uma inflação ainda mais pesada. E reclamam que o dragão descrito nas estatísticas parece muito mais feio na vida cotidiana.
Conforme explicam especialistas, o que ocorre é que a metodologia de aferição dos preços tem como referência uma família média padrão. Mas cada família teria suas próprias necessidades e identidades de consumo, afastando-as, em menor ou maior grau, da inflação oficial.
Outro fator de distorção é a abrangência da pesquisa. Nove grupos principais e cerca de 350 itens, inclusive produtos de baixo consumo ou de pouca importância no dia a dia das pessoas, são utilizados na composição dos índices gerais de preços, que acabam apresentando uma inflação final, por vezes, inferior àquela detectada na hora das compras.
Para o presidente do Instituto Mineiro de Mercado de Capitais, Paulo Ângelo Carvalho de Souza, a inflação medida pelos órgãos oficiais apresenta falhas e não representa a despesa da maioria dos mortais. “O mundo real é diferente e muito mais caro do que o mundo do governo. Geralmente, o aumento que percebemos é pelo menos o dobro”, diz.
Sensação que a advogada Tereza Marcondes experimenta toda vez que vai ao sacolão. “Passei a gastar 100% mais para comprar as mesmas coisas”, afirma. O cabeleireiro Thiago Lucas e sua sogra, Rosilene Mendes, também andam assustados com a escalada dos preços. “Há dois anos, com R$ 200 fazíamos o supermercado do mês. Agora, mal dá para a feira da semana”, queixa-se o genro.
“No cálculo, eles levam em consideração produtos pouco importantes. Por isso, a inflação que a gente sente no bolso é pior”, reclama a consumidora Marina Sasdelle.
De fato, compõem o IPCA itens como mosquiteiro, emulsão de açaí, antena, motel, jogos de azar e transporte hidroviário. “O saco de 50 quilos de batata subiu de R$ 18 para R$ 75. Como, então, acreditar na inflação oficial?”, diz Marina, que é dona de restaurante.
Fúria do dragão
O analista do IBGE em Minas Antonio Braz explica que o fato de algum produto ter seu preço aumentado em 10%, 20% ou até 100%, como ocorreu com o tomate, não significa que exista inflação mais alta. Pode se tratar de situação específica, decorrente de razões sazonais, de custo e demanda ou apenas especulação. Mas é justamente na alta dos preços dos alimentos, os vilões de hoje, que a população percebe mais claramente a fúria do dragão.
“Como a compra é constante, a percepção é imediata”, afirma Braz. Por outro lado, bens duráveis como celular, TV e geladeira têm ficado mais baratos. “Mas como ninguém compra isso todo mês, fica difícil sentir essa queda”, diz.