quinta-feira, 6 de junho de 2013

A lógica do dólar no Brasil

Luís Nassif
Luís Nassif
economia@hojeemdia.com.br
  

06/06/2013

Foto: StockExpress/Reprodução
O investidor I.C. ficou rico jogando contra o Brasil. Ou melhor, apostando em sucessivas marchas da insensatez da política cambial. Ele espera esticar a corda do câmbio. Quando está bem esticada, e os buracos nas contas tornam-se cada vez maiores, passa a comprar títulos cambiais ou ativos expressos em dólar. Aí o dólar explode, ele vende os ativos e, imediatamente, passa a comprar ativos em reais – ações de companhias.
No momento seguinte, os juros internos explodem, o câmbio começa novamente a apreciar e ele realiza o segundo movimento de lucro.
Ganhou muito dinheiro com a crise cambial de 1999 e com a crise cambial de 2008. Nesta última, o dólar explodiu devido à crise internacional. Não fosse a crise internacional, teria explodido com a deterioração nítida das contas externas brasileiros. I.C. começou a se movimentar de novo. Ele olha os dados da balança comercial – caindo, caindo até entrar no vermelho ainda neste ano. Nos aeroportos, vê o movimento de sacoleiros e de turistas deitando e rolando com as compras em Miami e Nova York.
Depois, olha os dados das contas correntes (toda a movimentação de entrada e saída de dólares). Olha a conta turismo tornando-se cada vez mais negativa. Sua última olhada é no IED (Investimento Externo Direto). Enquanto o IED conseguir cobrir os rombos das demais contas, ainda não é hora de se mexer. Quando o IED não for suficiente, ele começa a agir.
O sinal amarelo acende quando o IED não conseguir dar conta mais dos saldos negativos das contas externas. É o que já está ocorrendo. No começo, será uma luz ainda fraca, porque o investidor sabe que o BC ainda conta com um colchão de reservas cambiais de US$ 400 bilhões.
À medida que o buraco aumenta, os investidores levam a mão ao coldre. Quem consegue sair na frente (isto é, recomprar os dólares e retirá-los do país) perde menos; quem demorar, perde mais. E quando começar o estouro, há grande probabilidade das reservas virarem fumaça.
O passo seguinte já é conhecido do nosso investidor. Os dólares saem em disparada do país. Há uma explosão nas cotações e um reflexo sobre os preços internos. Para combater risco de inflação, o BC joga os juros nas alturas.
O investidor que saiu correndo, para, então e olha para trás. Percebe que, com a desvalorização expressiva do real, em pouco tempo as contas externas voltarão ao azul. Ao mesmo tempo, os juros explodirão internamente. Ele trará, então, de volta os dólares, venderá a preço alto, comprará títulos públicos com as novas taxas de juros. Ou então comprará ações de empresas brasileiras na bacia das almas, esperando sua recuperação.

Nenhum comentário: