quarta-feira, 17 de abril de 2013

Policiais Militares que participaram de invasão ao Carandiru devem depor nesta quarta-feira

17/4/2013 às 00h30 (Atualizado em 17/4/2013 às 08h20)

PMs respondem por homicídio qualificado de 15 detentos no massacre 

Vanessa Beltrão, do R7
Interrogatório dos réus deve começar no terceiro dia de julgamento Eduardo Enomoto/R7
O interrogatório dos 26 policiais militares acusados de participação num dos episódios mais sangrentos do sistema prisional brasileiro, que ficou conhecido como o massacre do Carandiru, deve ter início nesta quarta-feira (17) no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. Eles respondem por homicídio qualificado — com uso de recurso que dificultou a defesa da vítima — de 15 detentos durante a ação policial realizada no dia 2 de outubro de 1992 para conter uma rebelião na Casa de Detenção em São Paulo. Ao todo, 111 presos foram mortos.

O terceiro dia de julgamento deve começar com a leitura de peças do processo. Logo depois, os PMs devem começar a falar em plenário. A previsão é que quatro sejam ouvidos.
Todos os policiais que estão sendo julgados estavam no 2º pavimento (primeiro andar) do pavilhão nove. São eles: Ronaldo Ribeiro dos Santos; Aércio Dornelas Santos; Wlandekis Antonio Candido Silva; Roberto Alberto da Silva; Antonio Luiz Aparecido Marangoni; Joel Cantilio Dias; Pedro Paulo de Oliveira Marques; Gervásio Pereira dos Santos Filho; Valter Ribeiro da Silva (morto); Marcos Antonio de Medeiros; Luciano Wukschitz Bonani (morto); Paulo Estevão de Melo; Haroldo Wilson de Mello; Roberto Yoshio Yoshikado; Fernando Trindade; Salvador Sarnelli; Argemiro Cândido; Elder Tarabori; Antonio Mauro Scarpa; Marcelo José de Lira; Roberto do Carmo Filho; Zaqueu Teixeira; Osvaldo Papa; Reinaldo Henrique de Oliveira; Sidnei Serafim dos Anjos; Eduardo Espósito; Maurício Marchese Rodrigues; Marcos Ricardo Poloniato.
Os próximos júris, que ainda não foram marcados, julgarão os que ocupavam o 3º pavimento (78 mortos, sendo que um único policial responde pela morte de cinco e será julgado separadamente), o 4º pavimento (oito mortos) e o 5º pavimento (dez mortos).
Ao todo, 286 policiais militares entraram no complexo penitenciário do Carandiru para conter a rebelião em 1992, desses, 84 foram acusados de homicídio. Desde aquela época, cinco morreram e agora restam 79 para serem levados a julgamento.    
Segundo dia 
Durante o segundo dia de julgamento, foram ouvidas todas as testemunhas da defesa: o desembargador Ivo de Almeida, o também desembargador Fernando Torres, o juiz da Vara de Execução Penal da época, Luiz Augusto França, o ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, o ex-secretário de segurança pública, Pedro Franco e a juíza da 1ª Vara de Execuções Criminais de Taubaté, Sueli Zeraik.
Inicialmente 10 testemunhas foram convocadas pela defesa e deveriam falar no julgamento nesta terça-feira (16), mas quatro foram dispensadas pela advogada dos réus, Ieda Ribeiro de Souza.  
Relembre história, invasão e massacre no complexo penitenciário
Um dos depoimentos mais aguardados foi o do ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, chefe do Executivo paulista em 1992, data do massacre do Carandiru. Durante cerca de 40 minutos, ele defendeu a invasão a Casa de Detenção de São Paulo.
— A entrada foi absoluta, necessária e legítima.
O ex-governador contou que no dia 2 de outubro de 1992 estava em Sorocaba, no interior de São Paulo, quando ficou sabendo da rebelião. Ao chegar na capital, ligou para o secretário de Segurança Pública da época, Pedro Franco, para saber se havia necessidade de a polícia entrar. Franco teria dito que tinha conversado com o comandante da tropa que invadiu o complexo, coronel Ubiratan Guimarães, e aconselhado a invadir, se fosse necessário.
Fleury também comentou que ficou sabendo das mortes pelo próprio secretário de segurança pública e justificou porque não foi até o Carandiru.
— Não era minha obrigação ir ao local, eu era governador do Estado. Para isso, existe toda uma hierarquia abaixo do governador.
O ex-chefe do executivo paulista também reafirmou durante o seu interrogatório que se já estivesse na capital quando a rebelião começou, teria dado a ordem para entrar.
— Não dei a ordem de entrada, mas se tivesse no meu gabinete, teria dado.
Outro depoimento importante, na tarde desta terça-feira (16), foi o do ex-secretário de segurança pública do Estado, Pedro Franco. Ele afirmou que no dia da invasão teve contato, por telefone, com o comandante da tropa de choque da Polícia Militar, coronel Ubiratan Guimarães, e que não chegou a ir até o local. A testemunha disse que aconselhou o coronel a avaliar a situação e que durante a sua gestão nunca foi de dar ordens.
— Havendo necessidade, comandante, o senhor pode entrar.
Pedro Franco deixou o governo em outubro de 1992, mesmo ano da invasão ao Carandiru. Atualmente, ocupa o cargo de procurador de Justiça. Durante o depoimento, ele deixou claro que nunca mais falou sobre o assunto a não ser quando convocado a prestar depoimento.  
— Eu nunca conversei sobre o Carandiru com as pessoas a não ser quando indagado a prestar depoimento.
Relembre o caso
O massacre do Carandiru começou após uma discussão entre dois presos dar início a uma rebelião no pavilhão nove. Com a confusão, a tropa de choque da Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, foi chamada para conter a revolta.
Até hoje, apenas Ubiratan Guimarães chegou a ser condenado a 632 anos de prisão, porém um recurso absolveu o réu e ele não chegou a passar um dia na cadeia. Em setembro de 2006, Guimarães foi encontrado morto com um tiro na barriga em seu apartamento nos Jardins.  A ex-namorada dele, a advogada Carla Cepollina, foi a julgamento em novembro do ano passado pelo crime e absolvida.
 

Nenhum comentário: