domingo, 7 de abril de 2013

Os desafios que os presidenciáveis enfrentarão

FERNANDO ABRUCIO
FERNANDO ABRUCIO é doutor em Ciência Política pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP) e escreve quinzenalmente em ÉPOCA (Foto: ÉPOCA) A largada para a eleição presidencial de 2014 foi dada cedo. Pelo menos quatro nomes já se colocaram como concorrentes: a presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves, o governador Eduardo Campos e Marina Silva, que, embora ainda tentando construir seu partido, é figura quase certa para o certame. Inegavelmente, Dilma é favorita à reeleição, como mostraram as pesquisas recentes do Datafolha e do Ibope. Os oposicionistas ainda têm chance de jogar a disputa para o segundo turno. O desempenho de cada um dependerá, em boa medida, da capacidade de enfrentar desafios pré-eleitorais. Se fracassarem nessa tarefa, terão uma pior colocação no pleito ou então nem serão candidatos.

Dilma é a que tem a melhor situação. No cenário mais provável de candidatos, ela apareceu, no Datafolha, com 58% das intenções de voto. Ela tem impressionantes 35% de votação espontânea – fato que se soma aos irrisórios 20% de rejeição, sobretudo para quem está no governo. Neste momento do calendário político, é o melhor desempenho de um presidenciável na história da democracia brasileira. Como falta ainda mais de um ano para começar a disputa, pode-se argumentar que muita coisa ainda pode dar errado. Os três fatores mais citados são o baixo crescimento econômico, a inflação e um possível colapso na energia elétrica.
Esses três desafios terão de ser monitorados com cuidado. O crescimento dependerá do sucesso dos estímulos econômicos, cada vez mais voltados ao investimento. Um novo apagão é menos provável, por causa das termelétricas. Mas é essencial garantir a segurança na transmissão e um nível razoável dos reservatórios para o ano que vem, quando haverá um provável aquecimento da economia, e um pico de demanda.
O ponto que mais preocupa é a persistência inflacionária, com índices que podem ultrapassar o teto da meta. Essa deve ser a luta mais árdua da presidente Dilma no período pré-eleitoral. Se ela conseguir manter as taxas dentro do intervalo, suas chances eleitorais permanecerão altas. O enfrentamento desses três desafios garante o ponto principal da era lulista e dilmista: a sensação de bem-estar para a maior parte da população, principalmente os mais pobres e a classe média ascendente.
O desempenho de Dilma
em pesquisas é o melhor
de um presidenciável
na democracia brasileira
A aliança governista tem outro desafio: a construção de uma bem azeitada parceria entre PT e PMDB nos Estados. Caso petistas e peemedebistas não se acertem nos Estados mais estratégicos, outros candidatos poderão se aproveitar desse conflito para obter votos. Se o casamento dos dois partidos for bem-sucedido nos colégios eleitorais que mais importam, haverá uma máquina política muito forte, capaz de garantir maior solidez ao projeto de
reeleição de Dilma, bem como a ampliação das cadeiras parlamentares sob domínio dessas siglas. É importante frisar que o êxito da aliança atrairá os partidos médios e menores do governismo, que, já pressionados pela enorme popularidade de Dilma, terão de correr para se juntar à dupla PT-PMDB, se não quiserem perder espaço no próximo Congresso Nacional.
Os tucanos praticamente já definiram seu candidato. Será Aécio Neves. Ele só não assumirá a empreitada se não quiser, trocando o projeto pela eleição em Minas Gerais. É muito difícil ele voltar para a linha de partida, depois de ter conseguido apoio formal do presidente Fernando Henrique e agora do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Isso não quer dizer, necessariamente, que todos os peessedebistas o apoiarão até o final. Tudo dependerá de seu desempenho nas pesquisas do ano que vem. Mesmo assim, não é factível pensar numa dissidência capaz de criar uma candidatura alternativa no partido. É claro que José Serra continuará, o máximo que puder, se colocando como um possível obstáculo à candidatura de Aécio. No limite, poderá até sair do PSDB e se apresentar como presidenciável do PPS, ou vice de Eduardo Campos. Caso se confirme esse cenário, a oposição tucana perderá votos “dentro de casa”. Isso poderá facilitar o projeto de Eduardo Campos ou mesmo de Marina de chegar ao segundo turno.
ENCONTRO Eduardo Campos e Dilma Rousseff no Recife, na semana passada. Ele tem chance de conquistar votos governistas e crescer no Nordeste (Foto: Clemilson Campos/JC Imagem)
Esse não é o maior desafio do PSDB e seu provável presidenciável. A grande questão é construir um projeto de país que conquiste parte relevante dos eleitores que pretendem votar em Dilma em 2014. É preciso propor um futuro melhor, em vez de centrar o foco no presente ou no passado. Recomendo, aos marqueteiros tucanos o filme No, de Pablo Larraín. Ele fala da redemocratização chilena. Para a oposição vencer o plebiscito que levou às eleições livres, eles tiveram não só de falar dos males da ditadura de Pinochet. Sobretudo, precisaram apontar o que fariam para o Chile se tornar melhor. Esse indicador de futuro é o que falta no discurso de Aécio e de seu partido.
Marina mantém ainda um grande capital eleitoral, derivado tanto de seu excelente resultado em 2010 como também de ter, mais que o PSDB de hoje (o do Plano Real tinha), um projeto de futuro, capaz de atrair uma parte importante da sociedade. Mas ela tem um duplo desafio institucional: montar um partido e, depois, estruturar alianças e candidaturas com alguma solidez nos Estados estratégicos. Esse segundo desafio terá mais peso agora que na eleição passada, uma vez que uma nova “terceira via” – Eduardo Campos – pode concorrer ao Palácio do Planalto. Claro que um maior número de candidatos também pode embolar o jogo e levar Marina ao segundo turno, justamente um nome que poderia ser considerado “o segundo time de todo mundo”, para ficar na linguagem do futebol.
E como fica a maior novidade eleitoral do momento, o governador Eduardo Campos? Ele é muito bem avaliado como gestor, agrada ao empresariado, tem chance de conquistar votos governistas e pode crescer no Nordeste. Seria a cara nova da eleição. Só que três desafios são colocados a sua candidatura. Primeiro, ganhar eleitores no Sudeste do país, onde PT, PSDB e PMDB são muito fortes. Segundo, ter maior tempo de TV, atraindo outros partidos para sua aliança, numa disputa forte com um governismo que ainda tem muitas armas eleitorais. Por fim, Eduardo Campos precisa dizer qual é seu projeto e seu lugar no sistema político. É interessante, do ponto de vista eleitoral, colocar-se acima do conflito entre petistas e peessedebistas. Mas é perigoso parecer “traidor” de um projeto, pulando do barco na última hora. Parte de seu potencial eleitor admira muito Lula, especialmente no Nordeste. Como ele se portará junto aos admiradores do lulismo? Será preciso muito jogo de cintura para definir-se como lulista e antidilmista. Quem se coloca como alguém que derrubará a hegemonia de 20 anos da dupla PSDB-PT precisa ter habilidades políticas fora do comum.

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