23/04/2013 06h58
- Atualizado em
23/04/2013 07h56
Oficial, sargentos e cabos permanecerão trabalhando na corporação.
No domingo eles foram condenados a 156 anos de prisão por 13 mortes.
Policiais se preparam para entrar no Carandiru em
1992 (Foto: Arquivo/Diário de S.Paulo/G1)
1992 (Foto: Arquivo/Diário de S.Paulo/G1)
Cinco dos 23 policiais militares que foram condenados pela Justiça de São Paulo,
na madrugada de domingo (22), a 156 anos de prisão cada um por
participar do massacre do Carandiru vão continuar trabalhando na Polícia
Militar. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (22) ao G1 pela assessoria de imprensa da PM.
Um oficial, dois sargentos e dois cabos que atualmente trabalham na PM
seguirão atuando na corporação mesmo após a condenação pelo assassinato
de 13 dos 111 presos mortos na Casa de Detenção. O crime foi cometido em
2 outubro de 1992, quando os então policiais das Rondas Ostensivas
Tobias de Aguiar (Rota) invadiram o Pavilhão 9 para conter uma rebelião
de presos.
De acordo com a corporação, o capitão Marcos Ricardo Poloniato, os
primeiros sargentos Haroldo Wilson de Mello e Roberto Yoshio Yoshikado, e
os cabos Roberto do Carmo Filho e Elder Tarabori permanecerão
executando suas funções sem quaisquer restrições. Eles foram condenados
pelo crime de homicídio juntamente com mais 18 PMs. A diferença entre
eles é que esses últimos estão inativos e não trabalham mais na
corporação.
Como todos os condenados respondiam soltos pelo processo, pela lei eles
têm o direito de continuar em liberdade para recorrer da sentença. A
defesa dos PMs nega o crime e alega que seus clientes agiram em legítima
defesa. A acusação rebate e trata o caso como homicídio doloso, quando
há intenção de matar sem dar chance de defesa à vítima.
Policiais condenados que continuarão na PM |
---|
Capitão Marcos Ricardo Poloniato |
1º Sargento Haroldo Wilson de Mello |
1º Sargento Roberto Yoshio Yoshikado |
Cabo Elder Tarabori |
Cabo Roberto do Carmo Filho |
Apesar de ter informado as patentes e se os policiais estão ativos ou
fora de serviço, a corporação não divulgou onde os PMs trabalham
atualmente. Publicações do Diário Oficial do estado, no entanto,
informam onde os policiais estão ou estiveram lotados nos últimos anos. O
capitão Marcos Ricardo Poloniato saiu da Rota e foi para o Corpo de
Bombeiros. Trabalha no 12º Grupamento de Bombeiros, da região de Bauru,
no interior.
O primeiro sargento Haroldo Wilson de Mello atua na Assessoria Militar
da Procuradoria-Geral, enquanto o também primeiro sargento Roberto
Yoshio Yoshikado consta como gestor eventual na Escola Superior de
Soldados Coronel PM Eduardo Assumpção, em Pirituba, bairro de São Paulo.
Já o cabo Elder Tarabori estava lotado no 39º Batalhão de Polícia
Militar Metropolitano, responsável por bairros da Zona Leste da capital
paulista. O G1 não encontrou informações sobre onde trabalha o cabo Roberto do Carmo Filho.
Decisão judicial
PMs condenados | Situação |
---|---|
Tenente-coronel Ronaldo Ribeiro dos Santos | inativo |
Major Aércio Dornelas Santos | inativo |
2º Tenente Wlandekis Antonio Candido Silva | inativo |
2º Tenente Antonio Luiz Aparecido Marangoni | inativo |
2º Tenente Joel Cantilio Dias | inativo |
2º Tenente Pedro Paulo de Oliveira Marques | inativo |
Subtenente Gervásio Pereira dos Santos Filho | inativo |
2º Sargento Marcos Antonio de Medeiros | inativo |
2º Sargento Paulo Estevão de Melo | inativo |
3º Sargento Salvador Sarnelli | inativo |
3º Sargento Sidnei Serafim dos Anjos | inativo |
3º Sargento Antonio Mauro Scarpa | inativo |
3º Sargento Zaqueu Teixeira | inativo |
Cabo Osvaldo Papa | inativo |
Soldado Reinaldo Henrique de Oliveira | inativo |
3º Sargento Argemiro Cândido | reformado |
Soldado Fernando Trindade | exonerado |
Soldado Marcelo José de Lira | exonerado |
Na manhã desta segunda, a PM tinha sido questionada pela equipe de
reportagem se iria tomar alguma providência em relação à condenação de
seus integrantes. Em resposta, a Polícia Militar alegou que só poderia
se manifestar sobre a decisão judicial assim que fosse oficialmente
notificada. Por meio de nota, informou que “ainda não foi formalmente
comunicada da decisão judicial que condenou e absolveu policiais
militares réus no episódio do Carandiru”.
Além disso, a assessoria informou que, geralmente, quaisquer
procedimentos administrativos para avaliar a conduta de PMs condenados
por homicídio só poderiam ser feitos após as condenações deles terem
sido transitadas e julgadas. Em outras palavras, somente depois de todos
os recursos da defesa dos acusados serem esgotados nas instâncias
superiores.
A advogada Ieda Ribeiro de Souza, que defende todos os PMs acusados
pelo massacre, já adiantou que irá recorrer da sentença e tentar a
anulação do julgamento. Pela ordem, terá de impetrar seus pedidos
diretamente com o juiz do caso, José Augusto Nardy Marzagão, Tribunal de
Justiça (TJ), Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal
Federal (STF). Até as 15h desta segunda, a assessoria do TJ informou que
nenhum recurso foi impetrado pela defesa contra a condenação dos PMs.
Como a prioridade do julgamento dos recursos é para réus que estejam
presos, a decisão sobre os recursos poderia demorar até dez anos,
segundo o Ministério Público. De acordo com a Promotoria, enquanto esses
recursos não forem julgados, os PMs na ativa não poderão perder seus
cargos. Isso só aconteceria no caso de confirmação da prisão, após o
julgamento dos recursos.
Mais júris
A Justiça de São Paulo quer julgar, ainda neste ano, os demais
policiais militares réus no massacre do Carandiru. De acordo com a
assessoria de imprensa do TJ, mais 56 PMs deverão ser julgados até
dezembro por 96 das 111 mortes na Casa de Detenção. A previsão é
realizar mais três júris.
No total, 82 PMs respondem em liberdade pelos assassinatos ocorridos em
2 de outubro daquele ano. O Ministério Público informa outro número.
Para a Promotoria, apenas 79 deles estariam vivos.
Devido à quantidade de acusados, o processo foi desmembrado em quatro
júris, usando como critério o número de policiais que entraram armados
nos andares e a quantidade de detentos mortos nesses respectivos
pavimentos.
Na semana passada, ocorreu o primeiro desses julgamentos, com a
condenação de 23 policiais. Outros três réus foram absolvidos e mais
duas vítimas foram ignoradas da acusação por não haver comprovação de
quem as matou. A sentença foi dada pelo juiz José Marzagão após seis
dias de trabalhos no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste da capital
paulista.
Previsão
PMs absolvidos | situação |
---|---|
Tenente-coronel Maurício Marchese Rodrigues | ativo |
Tenente Coronel Eduardo Espósito | inativo |
2º Tenente Roberto Alberto da Silva | inativo |
Os três julgamentos restantes ainda não têm datas marcadas, mas a
previsão do magistrado é que eles ocorram no intervalo de dois meses
entre eles, segundo informou nesta segunda-feira (22) a assessoria do
TJ-SP.
Além da Rota, participaram da ação no Carandiru integrantes do Comando
de Operações Especiais (COE) e Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).
Pelo cálculo do TJ, o segundo júri poderá acontecer entre junho e
julho. Seguindo esse cronograma, o terceiro julgamentoi seria em
setembro ou outubro e o quarto perto de novembro, dezembro.
Não houve mortes no térreo do Pavilhão 9. No segundo andar, porém, 29
PMs da Rota respondem pelas mortes de 78 presos. Detalhe: um único
policial deste grupo, o coronel aposentado Luiz Nakaharada responde por
cinco desses homicídios. Por esse motivo, existe a possibilidade de que
ele seja julgado em separado dos demais colegas.
Quinze então membros do COE são acusados de matar oito detentos no
terceiro andar. Doze homens que trabalhavam no Gate são réus pelos
assassinatos de 15 detentos no quarto e último andar.
Apesar da condenação, os policiais vão recorrer da decisão da sentença
de 156 anos de prisão em regime fechado em liberdade. Pela lei, o
condenado pode pedir a mudança do regime para o semiaberto (que permite
trabalhar ou estudar fora de dia) após cumprir um sexto da sua pena. Em
tese, os PMs deverão permanecer 5 anos preso.
A jurisprudência é de que esse cálculo tem de ser feito sobre 30 anos,
tempo máximo que uma pessoa pode ficar presa no Brasil, e não sobre a
pena total, que daria 26 anos.
Ubiratan
Ubiratan Guimarães, comandante da operação, demorou quase cinco anos
para que o TJ julgasse a condenação de 632 anos do júri em 2001. Em
2006, sua defesa entrou com recurso no Órgão Especial do TJ e ele acabou
absolvido e a pena foi anulada. Apesar disso, foi assassinado no mesmo
ano. A autoria do crime não foi esclarecida.
Resumidamente, o massacre do Carandiru começou em 2 de outubro de 1992,
quando dois presos do Pavilhão 9 brigaram no campo de futebol. Grupos
ligados aos detentos rivais começaram um tumulto. O comandante da
polícia metropolitana da PM, Ubiratan Guimarães, acionou a Tropa de
Choque, Rota, COE e o Gate para invadirem o local. Em 30 minutos, 111
presos foram mortos.
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