quarta-feira, 17 de abril de 2013

A economia na encruzilhada: juros ou crescimento

Elias Murad
Publicado no Jornal OTEMPODEMANDA

Eu defendo o ponto de vista de que o Banco Central deveria manter a Selic, a taxa básica de juros, em 7,25% até o fim do mandato da presidente Dilma Rousseff. Os economistas que defendem uma alta mais forte da Selic e veem uma séria inflação de demanda ameaçando a economia brasileira estão fazendo um diagnóstico errado das causas da inflação e estão a prescrever um remédio que resultará no inverso do que pretendem, pois o aumento dos juros, se ocorrer, como demonstrarei, provocará um aumento de inflação.
A inflação pode ser produzida por pouca oferta ou muita demanda. Se fosse devido à grande demanda, o aumento dos juros, apesar de nunca ser o melhor remédio, pelo menos poderia funcionar.
O que aconteceu é que, ao crescer 0,9% em 2012, a economia brasileira claramente ficou muito abaixo do seu potencial, que é estimado em cerca de 3% mesmo pelos economistas mais conservadores. Ou seja, produziu-se 2,1% menos em relação ao potencial do país, o que resultou na colocação, no mercado, de muito menos produtos.
O PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no país, no ano passado, chegou a R$ 4,403 trilhões; 2,1% de R$ 4.403 trilhões = R$ 96,4 bilhões. Ou seja, pelo fato de o PIB não ter alcançado seu potencial natural, deixou-se de ofertar (colocar no mercado) quase R$ 100 bilhões em produtos.
A menor oferta, pela lei da oferta e da procura, só poderia resultar em maior inflação, como de fato ocorreu.
Portanto, a inflação atual resulta da menor oferta de produtos, e não, como tem sido defendido pela grande maioria dos economistas, da maior demanda.
Com o aumento dos juros (se, infelizmente, acontecer) e a maior intensidade de aplicações no mercado financeiro daí resultante e consequente menor investimento na produção, o PIB continuará a crescer menos que cresceria com a sua manutenção. O que diminuirá mais ainda a oferta de produtos sendo colocados no mercado, e, consequentemente, os preços subirão.
Aí, a "bola de neve" do aumento de juros continuará até que atinjamos uma recessão.
O fato de a inflação de serviços estar muito alta, em 8,7% no acumulado de 12 meses até fevereiro, é uma decorrência de que os preços industriais, ao contrário dos serviços, são contidos pela competição internacional. Portanto, também nesse caso (serviços), o aumento dos juros não é solução.
Por outro lado, tem sido mostrado que a difusão da inflação é alta (mais de 70% dos produtos têm aumento de preços), mas, convenientemente, esquece-se de analisar a intensidade dos aumentos, produto a produto. Que, em grande parte, é muito pequena. Exemplificando: se ocorrem aumentos de 0,00001% ou de 1% em 70% dos produtos, o índice de difusão será o mesmo para os dois casos, ou seja, 70%. No caso presente, em que os aumentos de quase todos os produtos são muito pequenos, o índice de difusão, apesar de aparentemente alto, não representa nada de concreto.
Estamos pois, numa encruzilhada: manutenção da Selic ou recessão.
E-mail: eliasmurad@cmbh.mg.gov.br

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