Baixo nível de desocupação flexibiliza
condições para a contratação e levantamento mostra que Minas tem hoje
mais de 1,7 mil colocações que dispensam vivência na função
Marta Vieira - estado de Minas
Publicação: 04/07/2012 06:00 Atualização: 04/07/2012 07:49
Marta Vieira - estado de Minas
Publicação: 04/07/2012 06:00 Atualização: 04/07/2012 07:49
Deixar o emprego
de doméstica para buscar uma chance mais bem remunerada e com
possibilidade de desenvolvimento de uma carreira profissional exigiu
mais que a dedicação, a garra e a boa escolaridade de Ana Flávia
Aparecida Barboza, de 30 anos. A oportunidade de trabalhar como
vendedora, que ela conquistou há apenas oito meses, surgiu num cenário
em que as empresas se veem forçadas a correr atrás de candidatos e,
para isso, flexibilizam a antiga exigência de experiência na função
requerida. A escassez de mão de obra está levando ao aumento da oferta
dessas vagas, o que beneficia não só os jovens à procura do primeiro
emprego como quem tenta mudar de profissão ou engatar na área de
trabalho escolhida.
Ana Flávia Barboza diz ter se encontrado no varejo depois de terminar o ensino médio. Agora, empregada, planeja retomar os estudos |
Levantamento feito pelo
Estado de Minas apurou ontem 1.730 vagas abertas que não exigem
experiência em três das maiores redes de agências de recrutamento de
mão de obra em Minas Gerais – o Sistema Nacional de Emprego (Sine),
Conape Recursos Humanos e Grupo Selpe – e nas associações mineiras da
indústria de panificação (Amipão) e dos supermercados (Amis). A maior
parte das oportunidades é oferecida para trabalhadores com formação de
níveis fundamental e médio. O comércio e as empresas de prestação de
serviços são as que mais lançam mão dessa estratégia para contratar
vendedores, atendentes de lanchonete, auxiliares de cozinha, operadores
de caixa e de telemarketing, repositores, trabalhadores na manutenção
de edificações e empregados na limpeza, entre outros cargos.
Na indústria, há vagas para operadores de máquinas, ajudantes de carga e descarga e serventes da construção civil. A experiência cai entre as exigências das empresas num período favorável, de desemprego baixo, e que vem se mantendo assim, a despeito do desaquecimento da economia brasileira, particularmente da indústria, observa Plínio Campos, coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada na Grande Belo Horizonte pela Fundação João Pinheiro, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego. Em maio, o desemprego na Região Metropolitana de Belo Horizonte baixou a 5%, menor percentual da série histórica desde 1996. “As empresas flexibilizam a contratação e treinam o trabalhador num cenário que ainda é de crescimento da economia. Não vejo, por enquanto, perspectiva de mudança expressiva”, afirma Plínio Campos.
Industrial da panificação e presidente da associação mineira do setor (Amipão), Antônio de Pádua Morais diz que a falta de mão de obra permanece crítica. Prova disso está na estimativa de que as empresas têm demanda para admitir 1 mil panifieiros (padeiros que produzem pães especiais) se encontrassem essa mão de obra disponível. “Desde que o trabalhador tenha uma identificação com os alimentos e a possibilidade de qualificação, inclusive futura, terá espaço dentro das padarias”, afirma.
Vontade
Envolvimento com o trabalho e disposição para aprender foram, de fato, decisivos para a vendedora Ana Flávia Barboza, que também saiu beneficiada pela formação com ensino médio completo. “Eu me descobri no comércio. Sempre gostei de lidar com gente e buscava essa experiência. Agora, quero voltar a estudar”, diz.
A dificuldade de contratar mão de obra experiente tem aumentado no último um ano e meio a oferta de vagas para quem nunca trabalhou na função requerida, segundo Hegel Botinha, diretor comercial do grupo Selpe, especializado no recrutamento de mão de obra. Os candidatos às vagas precisam ficar atentos, no entanto, às demais exigências, que permanencem. “São oportunidades para quem quer entrar no mercado de trabalho, como um cartão de visitas. E essas pessoas passam por uma avaliação mais profunda de habilidades e potencial para se desenvolverem”, afirma.
Empresas treinam e testam
Os treinamentos oferecidos pelas próprias empresas funcionam como uma porta de entrada, mas também se revelam como teste para os candidatos que não têm experiência no cargo desejado. “Oportunidades existem, mas tem de haver disposição e comprometimento do trabalhador”, alerta José Carlos Teixeira, diretor da Conape Recursos Humanos. A empresa começou a semana com uma oferta de 289 vagas que não requerem experiência, praticamente todas elas destinadas ao preenchimento de cargos de níveis básico e médio. Para as funções de nível superior, a estratégia comum é a contratação dos estagiários.
Lígia Lara, superintendente de políticas de emprego da Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego, destaca o valor dos cursos de qualificação para reforçar as chances de quem não tem experiência. O Sistema Nacional de Emprego (Sine), gerenciado pelo governo estadual, oferece uma série de treinamentos gratuitos para o trabalhador à procura de emprego. “Não se pode mais atribuir à falta de qualificação a dificuldade do trabalhador desempregado”, afirma.
Aos 19 anos, Lorena de Castro Sollero foi beneficiada pela flexibilização das contratações no comércio. Ela acaba de completar um mês na função de vendedora de uma loja de roupas de BH, em que recebeu treinamento para lidar com os clientes e as particularidades da função. “Sou tímida, mas aprendi a trabalhar e tenho vendido bem”, afirma. Da mesma forma que no comércio de roupas e acessórios, os supermercados investem fortemente em qualificação dentro das próprias lojas, segundo Adilson Rodrigues, superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis). O setor tem 1,5 mil vagas abertas, das quais cerca de 60%, ou seja, 900 oportunidades, não exigem experiência.
“Além de formar mão de obra, incentivamos as empresas a trabalharem para elevar a escolaridade dos empregados e das comunidades próximas de onde atuam”, diz Rodrigues. A Amipão abriu 140 vagas em sete cursos de capacitação que serão ministrados este mês em agosto. A programação contempla atendentes, operadores de caixa, promotores de vendas e planejadores de produção, funções que não exigem experiência anterior. (Colaborou Carolina Mansur)
Na indústria, há vagas para operadores de máquinas, ajudantes de carga e descarga e serventes da construção civil. A experiência cai entre as exigências das empresas num período favorável, de desemprego baixo, e que vem se mantendo assim, a despeito do desaquecimento da economia brasileira, particularmente da indústria, observa Plínio Campos, coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada na Grande Belo Horizonte pela Fundação João Pinheiro, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego. Em maio, o desemprego na Região Metropolitana de Belo Horizonte baixou a 5%, menor percentual da série histórica desde 1996. “As empresas flexibilizam a contratação e treinam o trabalhador num cenário que ainda é de crescimento da economia. Não vejo, por enquanto, perspectiva de mudança expressiva”, afirma Plínio Campos.
Industrial da panificação e presidente da associação mineira do setor (Amipão), Antônio de Pádua Morais diz que a falta de mão de obra permanece crítica. Prova disso está na estimativa de que as empresas têm demanda para admitir 1 mil panifieiros (padeiros que produzem pães especiais) se encontrassem essa mão de obra disponível. “Desde que o trabalhador tenha uma identificação com os alimentos e a possibilidade de qualificação, inclusive futura, terá espaço dentro das padarias”, afirma.
Vontade
Envolvimento com o trabalho e disposição para aprender foram, de fato, decisivos para a vendedora Ana Flávia Barboza, que também saiu beneficiada pela formação com ensino médio completo. “Eu me descobri no comércio. Sempre gostei de lidar com gente e buscava essa experiência. Agora, quero voltar a estudar”, diz.
A dificuldade de contratar mão de obra experiente tem aumentado no último um ano e meio a oferta de vagas para quem nunca trabalhou na função requerida, segundo Hegel Botinha, diretor comercial do grupo Selpe, especializado no recrutamento de mão de obra. Os candidatos às vagas precisam ficar atentos, no entanto, às demais exigências, que permanencem. “São oportunidades para quem quer entrar no mercado de trabalho, como um cartão de visitas. E essas pessoas passam por uma avaliação mais profunda de habilidades e potencial para se desenvolverem”, afirma.
Empresas treinam e testam
Os treinamentos oferecidos pelas próprias empresas funcionam como uma porta de entrada, mas também se revelam como teste para os candidatos que não têm experiência no cargo desejado. “Oportunidades existem, mas tem de haver disposição e comprometimento do trabalhador”, alerta José Carlos Teixeira, diretor da Conape Recursos Humanos. A empresa começou a semana com uma oferta de 289 vagas que não requerem experiência, praticamente todas elas destinadas ao preenchimento de cargos de níveis básico e médio. Para as funções de nível superior, a estratégia comum é a contratação dos estagiários.
Lígia Lara, superintendente de políticas de emprego da Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego, destaca o valor dos cursos de qualificação para reforçar as chances de quem não tem experiência. O Sistema Nacional de Emprego (Sine), gerenciado pelo governo estadual, oferece uma série de treinamentos gratuitos para o trabalhador à procura de emprego. “Não se pode mais atribuir à falta de qualificação a dificuldade do trabalhador desempregado”, afirma.
Aos 19 anos, Lorena de Castro Sollero foi beneficiada pela flexibilização das contratações no comércio. Ela acaba de completar um mês na função de vendedora de uma loja de roupas de BH, em que recebeu treinamento para lidar com os clientes e as particularidades da função. “Sou tímida, mas aprendi a trabalhar e tenho vendido bem”, afirma. Da mesma forma que no comércio de roupas e acessórios, os supermercados investem fortemente em qualificação dentro das próprias lojas, segundo Adilson Rodrigues, superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis). O setor tem 1,5 mil vagas abertas, das quais cerca de 60%, ou seja, 900 oportunidades, não exigem experiência.
“Além de formar mão de obra, incentivamos as empresas a trabalharem para elevar a escolaridade dos empregados e das comunidades próximas de onde atuam”, diz Rodrigues. A Amipão abriu 140 vagas em sete cursos de capacitação que serão ministrados este mês em agosto. A programação contempla atendentes, operadores de caixa, promotores de vendas e planejadores de produção, funções que não exigem experiência anterior. (Colaborou Carolina Mansur)
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