domingo, 1 de julho de 2012

Museu em Minas possui acervo original de objetos da 2ª Guerra

História.
As primeiras tropas da FEB foram enviadas à Itália há 68 anos
Publicado no Jornal OTEMPO em 01/07/2012

ANDRÉA JUSTE
FOTO: FOTOS JOÃO MIRANDA
Sede. O Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB) funciona em uma casa no bairro Floresta, em Belo Horizonte
Galeria de fotos
Imagine ser reservista do Exército e ouvir pela rádio local seu nome ser convocado para lutar na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Essa é uma das histórias que o 1º tenente Geraldo Campos Taitson, 91, tem para contar no Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB), no bairro Floresta, na região Leste de Belo Horizonte.
Ele foi um dos 25.334 combatentes brasileiros enviados à Itália, em 1944, e que lutaram 239 dias ao lado dos Aliados contra as forças nazistas de Adolf Hitler. Hoje, Taitson é um dos monitores voluntários do museu que busca resgatar a história de heróis nacionais.
Revitalizado no ano passado, o acervo do Museu da FEB conta com objetos originais da época do conflito, como fardas, cartas pessoais, armamento e medalhas. Todo primeiro domingo do mês, como hoje, colecionadores fazem exposição de carros militares da Segunda Guerra e de outros combates na frente do museu.

História. Amanhã completam 68 anos do dia em que as primeiras tropas da FEB foram enviadas ao país europeu. Segundo Taitson, que pertencia ao 11º Regimento Infantaria de São João del Rey, no Campo das Vertentes, o primeiro grupo, que saiu do Brasil com mais de 5.000 oficiais, foi organizado em São Paulo.
Em seguida, o então soldado Taitson e seus colegas mineiros e do Rio de Janeiro embarcaram em um navio norte-americano até Nápoles, na Itália. Lá, eles seguiram o roteiro do general João Batista Mascarenhas de Moraes e viajaram até Camaiore, na região da Toscana, onde começou a libertação italiana do fascismo alemão.
"Até hoje, o Exército brasileiro é muito bem-admirado na Itália. Distribuíamos comida para os italianos, dávamos chocolate e a ração que comíamos para eles", lembra.
Para Marcos Moretzsohn Renault Coelho, o vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB - Regional de Belo Horizonte, o museu é uma forma de reconhecimento aos combatentes brasileiros. "Nossa história está aqui. Ninguém quer lembrar da guerra, mas da paz que veio através dessas pessoas. Não vamos nos esquecer delas", fala.
O Museu da FEB fica na avenida Francisco Sales, 199, Floresta, BH. A visitação é gratuita, das 13h às 17h, de segunda a sexta-feira, e das 10h às 13h aos sábados e domingos.

O 1º tenente Taitson quer preservar a história
Depoimento
"Era soldado de infantaria. É a tropa que mais sofre numa guerra, pois vai a pé tirar o inimigo".
"A convocação era feita pelo rádio. Eu morava em Belo Horizonte, no Santa Tereza. Fiquei apreensivo; ninguém gosta de ir para a guerra. Recebemos instrução durante um ano e meio. (...) Lutamos bravamente e tomamos a região da Bolonha, e os alemães fugiram para Montese, que tem um significado importante, pois foi tomada pelos mineiros de São João del Rey. Segundo o general (João Batista Mascarenhas de Moraes), foi a batalha mais sangrenta. Os alemães ficaram encurralados pela FEB e pela artilharia. (...) Eu era soldado de infantaria. É a tropa que mais sofre numa guerra, pois vai a pé tirar o inimigo de onde ele está escondido. Em Montese, eu fui ferido no braço. Levei um estilhaço de granada, e ele se alojou na minha costela. Como vi que não era muito grave, pedi meu sargento Júlio da Silva Oliveira, do Norte de Minas, para fazer o curativo. Ele tirou um estojo com penicilina, esparadrapo e gaze. Dois dias depois, eu estava na linha de frente, renovado. (...) Fui designado na Itália para tomar conta de uma região onde havia muita infiltração de alemães. Nosso quartel estava numa estação termal e para chegar em Monte Castelo tinha uma ponte, que era muito visada pelos alemães. Um amigo meu do Mato Grosso foi imprevidente e ficou sentado num barranco. Lá de cima, um alemão localizou ele e o matou. Perdi muitos amigos. Essas coisas acontecem em qualquer guerra. Isso faz parte da guerra, e a gente não pode fazer nada. (...) Foram 239 dias de luta, mas ficamos um ano na Itália. Foi agradável voltar para casa. (...) Vim para o Museu da FEB voluntariamente, pois não quero que essa história se perca. Fomos para a guerra na juventude. Eu tinha 21 anos. Então a gente não quer que essa fase da vida, a mais gloriosa, se perca".
1º tenente Geraldo Campos Taitson
Ex-Combatente da
2ª Guerra Mundial

Nenhum comentário: