sexta-feira, 6 de julho de 2012

Medo toma conta de 85% da população, revela pesquisa

Sudeste
Crime que mais causa insegurança em todas as pessoas ouvidas é o assalto
Publicado no Jornal OTEMPO em 06/07/2012

LUCIENE CÂMARA
FOTO: SAMUEL AGUIAR
Medo. Com síndrome do pânico, Ilma Diniz hoje não trabalha fora mais e vende produtos em casa
O medo toma conta de 85,4% da população quando o assunto é violência. O índice representa a quantidade de moradores da região Sudeste que se sentem ameaçados com a possibilidade de sofrer um assalto, crime que mais gera insegurança, conforme o Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Dentro desse percentual, 59,4% disseram ter "muito medo" de sofrer roubo à mão armada. A pesquisa ouviu 3.775 pessoas em 212 cidades brasileiras.
O assassinato também amedronta 84,2% dos entrevistados do Sudeste. Entre eles, 60,9% alegaram sentir "muito medo" de ser vítima de um homicídio, enquanto 23,3% manifestaram "pouco medo". Apenas 15,4% são indiferentes a esse tipo de crime.
Em Minas, o resultado da pesquisa se justifica pelo alto índice de violência no Estado, já que só o número de homicídios subiu 16,3% de 2010 para 2011. "O medo é reflexo do alto índice de violência", afirmou Luís Flávio Sapori, coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da PUC Minas.
A sensação de insegurança continua elevada quando o assunto é arrombamento de casa. O estudo mostra que 85,2% da população do Sudeste sente receio de ter a residência invadida, sendo que a maioria (56,8%) demonstra "muito medo" disso acontecer.
Outros 79,1% se sentem ameaçados com a possibilidade de uma agressão física na rua, único crime, inclusive, que apresentou aumento no índice de medo no Brasil, passando 48,7% em 2010 para 54,5% em 2012.
Trauma.  A vendedora Ilma Ferreira Diniz, 49, está entre as pessoas que vivem amedrontadas. Há anos, ela teve que enfrentar as ruas escuras da Cidade Industrial, em Contagem, na região metropolitana, na volta do trabalho. "Eu saía muito tarde da empresa e sentia muito medo.
Teve dia que precisei correr de criminoso. Já chegaram a me arrancar uma corrente do pescoço".
Ilma acredita que o trauma tenha agravado a síndrome do pânico, que a impede de sair de casa sozinha há pelo menos dois anos. "Tenho medo de tudo".
Testemunhas
Medo de denunciar é cada vez maior
Prova de que o medo realmente existe é a dificuldade em se obter testemunhas para os crimes. "Está cada vez mais difícil conseguir testemunhas. As pessoas têm medo de denunciar. Isso acaba gerando a impunidade", afirmou o delegado Wagner Pinto de Souza, chefe do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Já a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) ressaltou o fato de a pesquisa do Ipea demonstrar queda na sensação de insegurança da população. "Também aumentou o índice da população do Sudeste que confia nas polícias", apontou o órgão, via assessoria.
A secretaria de Defesa Social informou que tem como prioridade a redução dos índices, o que se espera obter por meio de ações de redução da violência. (LC)

No Brasil
Apesar do alto índice de medo por parte da população, caiu o número de pessoas que se mostram inseguras com a violência no país. Em 2010, 78,6% dos entrevistados afirmavam ter "muito medo" de assassinato, contra 62,4% neste ano. No Sudeste, a queda se repete, com 78,4% em 2010 e 60,9% em 2012. A redução vale também para assaltos e arrombamentos.
As polícias
A pesquisa mostra ainda até que ponto a população confia ou não na segurança pública como forma de coibir a violência. No Sudeste, 62,2% dos entrevistados disseram "confiar pouco" ou "não confiar" na PM, índice que perde apenas para o da região Norte, com 68,2%. Em relação à Polícia Federal, o Sudeste é o que mais considera ineficiente o trabalho da corporação, com 27,5% das opiniões.
Profissão
O Sudeste também é a região que mais aponta como "péssima" a profissão de policial como opção para os jovens, de acordo com opinião de 31,6% dos entrevistados. Em segundo vem o Nordeste, com 25,9% dessa resposta. Além disso, 59,1% das pessoas no Sudeste acreditam que os policiais não recebem uma boa formação nem são bem preparados.

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