terça-feira, 24 de abril de 2012

Policiais confirmam propina do jogo do bicho em Juiz de Fora


Novos depoimentos revelam que o acusado de contravenção Fred Arbex pagava para manter jogo e caça-níqueis
Maurício de Souza
Segurança - jogo do bicho
Segurança foi reforçada nos corredores da ALMG, durante depoimento dos denunciantes do esquema


Cinco policiais confirmaram, nesta segunda-feira (23), em depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, o pagamento de propina à cúpula das polícias Militar e Civil por bicheiros de Juiz de Fora, na Zona da Mata. A Polícia Federal entrou no caso e o presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT), disse que existem suspeitas de que mais de um juiz estaria envolvido no caso. Como o Hoje em Dia revelou, denúncias dão conta de que o acusado de contravenção Frederico Arbex pagava semanalmente propina aos policiais para que permitissem a exploração de máquinas caça-níqueis e do jogo do bicho. Os policiais afirmaram que o coronel reformado da Polícia Militar Anselmo Fernandes, hoje secretário do prefeito Custódio Mattos (PSDB), de Juiz de Fora, comandava o esquema.
“Tem um juiz envolvido. Esse juiz já foi punido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), uma punição suave. A punição foi administrativa de uma suspensão por ter liberado irregularmente o Arbex. Mas foi uma denúncia de que o juiz estaria no caixa do Carlinhos Cachoeira de Minas Gerais. Também há suspeita de que poderiam ter outros juízes envolvidos”, afirmou Durval. Os quatro militares e um policial civil ouvidos, na última segunda-feira (23), tiveram a identidade mantida em sigilo. Seis policiais da Assembleia fizeram a segurança dos denunciantes. Os corredores do Legislativo, no setor onde eram colhidos os depoimentos, chegaram a ser isolados. O juiz punido pelo CNJ é Murilo Sá. Ele continua a receber os vencimentos, de cerca de R$ 20 mil, apesar de ter sido afastado do trabalho. A reportagem não conseguiu contato com ele.
De acordo com o deputado Sargento Rodrigues (PDT) – um dos responsáveis por ouvir os policiais –, também compareceu à audiência Renato Bossali, que se disse ex-sócio de Arbex. Ele informou que o lucro com o jogo do bicho era de R$ 60 mil mensais. Desse total, conforme o deputado Sargento Rodrigues, R$ 4 mil eram revertidos aos policiais por semana. Um dos militares alega que chegou a receber proposta de R$ 15 mil para entrar na quadrilha. Depois, passaria a repartir os R$ 4 mil semanais com os colegas. “Tivemos esse sócio que fez essa avaliação. Ele foi sócio por um ano e meio. É muita grana que corre lá”, afirmou o pedetista.
O Ministério Público acompanhou os depoimentos. Rodrigues pediu à promotora presente à sessão que avaliasse a evolução patrimonial dos policiais acusados de corrupção. “Tivemos dois policiais falando que o major está construindo uma mansão avaliada em R$ 1 milhão em um condomínio de luxo. Que o capitão que é presidente do inquérito Policial Militar está construindo uma casa de luxo e outras duas. Será que o salário deles é compatível com a evolução patrimonial? Claro que não”, afirmou. O major denunciado é Renato Prestes, que nega ligação com o jogo do bicho. O capitão é Yosho Yamaguchi. Apesar de ser acusado de pertencer ao esquema do contraventor, ele é responsável pelo inquérito militar, que apura justamente a corrupção policial. No telefone fixo da PM, não foi fornecido o número do capitão.
Na última segunda-feira, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Juiz de Fora informou que mantém no comando do Departamento Municipal de Limpeza Urbana o coronel Anselmo. Já o coronel negou as acusações, porém, preferiu não entrar em detalhes. “Já falei tudo que tinha para falar”, resumiu. Ele se disse indignado com as denúncias.

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